Por Clênio Sierra de Alcântara
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Desde que principiaram as investigações
que resultaram naquilo que no mundo do crime ficou conhecido como “mensalão”,
ocorrido durante o primeiro mandato presidencial do senhor Luiz Inácio Lula da
Silva, o Partido dos Trabalhadores e os seus asseclas trataram já ali de querer
blindar de todas as formas o líder supremo Lula. Todos os outros petistas
podiam ter se desviado do caminho promovendo um socialismo de resultados que lhes
proporcionava ganhos vultosos cavados em transações nada republicanas, que
enchiam suas burras, menos ele. Todos os outros tinham de várias maneiras
maculado os princípios da agremiação da estrela solitária, mas não Lula, o incorruptível.
Ocorreu que a engrenagem foi tão bem montada que se espalhou para além das
esferas do Congresso Nacional, estacionando na Petrobras; investidas essas que
a crônica policial denominou de “petrolão”, envolvendo um sem-número de gente
graúda e figurões de toda espécie, empresários e políticos.
À medida que os negócios
escusos eram descobertos foi ficando claro que no salve-se quem puder – e nem
todos se salvaram; uns tiveram de amargar dias e dias nos xilindrós da vida –
ditado principalmente pelo instrumento das delações premiadas, que não havia
mais como proteger o líder máximo dos desdobramentos das investigações, porque
aos olhos não apenas dos homens da lei, mas também da opinião pública, que
acompanhava com espanto os fatos, o ídolo tinha pés de barro e precisava descer
do pedestal em que o colocaram a fim de responder pelos seus atos e arcar com
as consequências de suas diabruras pecuniárias.
Não seria justo comparar
Luiz Inácio Lula da Silva com o malfadado Fernando Collor de Mello. Collor foi
um desmedido de um engodo, um sujeito que saiu como que do nada e foi catapultado
para o Palácio do Planalto por uma bem montada e tremendamente ludibriadora
campanha eleitoral. Já Lula não, ele tinha uma trajetória marcada por uma
militância no sindicalismo dos metalúrgicos de São Paulo; e, por mais que
amplos setores de nossa intelligentsia
torcesse o nariz para o seu despreparo intelectual, era inegável que ele
mantinha-se empenhado em conquistar o apoio das massas em seu propósito de um
dia vencer as eleições majoritárias e ser alçado ao posto de presidente do
Brasil, fato esse que se deu em dois pleitos seguidos. Mas, em que pese os
feitos de seus governos e da ampla aprovação popular que ele angariou, o senhor
Luiz Inácio Lula da Silva, se algum dia os teve, durante o exercício da
presidência perdeu todos os seus princípios éticos e morais, misturando-se e se
transformando ele mesmo em um dos tantos picaretas que certa feita ele disse
que existiam em Brasília impedindo o desenvolvimento do país.
Talvez tenha sido o
deslumbramento com o poder, como muitos dizem. Ou talvez tenha sido uma
ganância e uma desonestidade pura e simples que fizeram com que o senhor Luiz Inácio Lula da Silva degenerasse de tal maneira que quem procurasse ver nele o
homem impávido e aparentemente íntegro e honesto dos tempos das greves e
passeatas, não mais o encontraria. Lula, o retirante nordestino, o metalúrgico,
o líder sindical dos embates contra os áulicos da Ditadura Militar que
contrariou todos os prognósticos possíveis e veio a se tornar presidente de um
país onde oligarquias sempre ditaram o rumo de tudo, e alcançou índices de
popularidade nunca vistos, findou num ente público às voltas com a Justiça,
metido que está em várias investigações que o apontam como beneficiário de
esquemas de pagamentos de propina e outros ilícitos.
Quando a lei mira os outros
que não os petistas, tudo é considerado por eles perfeitamente válido, justo e
correto. Agora se a mão pesada da lei vem lhes bater a porta, a coisa toma
outra conotação, tudo muda de significado. E eles se põem raivosamente a bradar
que são perseguidos pelas elites deste país, pela Rede Globo e por todos
aqueles que não querem ver gente pobre prosperando, indo à faculdade, viajando
e por aí vai, numa retórica que de tão repetitiva e chata cai no vazio do
discurso do mau perdedor, sabe?, do tipo que não admite seus erros e muito
menos suas fragilidades. Foram escândalos e mais escândalos, prisões e mais
prisões e o Partido dos Trabalhadores querendo se manter como legenda ímpia e diferente
de todas as outras.
O senhor Luiz Inácio Lula da
Silva foi ontem julgado e condenado em segunda instância em um dos vários
processos em que ele figura como réu. Foi um epílogo muito triste e desanimador
para milhões de brasileiros que, como eu, um dia depositaram nele não somente a
esperança de que ele promovesse melhoria das condições de vida das pessoas
realmente necessitadas deste país, mas que também, ao mesmo tempo, ele se
mantivesse como um homem e um político íntegro e honesto, e isso, como vimos,
infelizmente, não aconteceu.
Nesta grande cortina com teor de justiça, se esconde uma gama de interesse político, em face do jurídico.
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