25 de janeiro de 2018

Ele e nós outros

Por Clênio Sierra de Alcântara


Tudo se perdeu: olhar para a trajetória de Lula e ver em que resultou um caminho tão duramente percorrido é realmente lamentável

Desde que principiaram as investigações que resultaram naquilo que no mundo do crime ficou conhecido como “mensalão”, ocorrido durante o primeiro mandato presidencial do senhor Luiz Inácio Lula da Silva, o Partido dos Trabalhadores e os seus asseclas trataram já ali de querer blindar de todas as formas o líder supremo Lula. Todos os outros petistas podiam ter se desviado do caminho promovendo um socialismo de resultados que lhes proporcionava ganhos vultosos cavados em transações nada republicanas, que enchiam suas burras, menos ele. Todos os outros tinham de várias maneiras maculado os princípios da agremiação da estrela solitária, mas não Lula, o incorruptível. Ocorreu que a engrenagem foi tão bem montada que se espalhou para além das esferas do Congresso Nacional, estacionando na Petrobras; investidas essas que a crônica policial denominou de “petrolão”, envolvendo um sem-número de gente graúda e figurões de toda espécie, empresários e políticos.

À medida que os negócios escusos eram descobertos foi ficando claro que no salve-se quem puder – e nem todos se salvaram; uns tiveram de amargar dias e dias nos xilindrós da vida – ditado principalmente pelo instrumento das delações premiadas, que não havia mais como proteger o líder máximo dos desdobramentos das investigações, porque aos olhos não apenas dos homens da lei, mas também da opinião pública, que acompanhava com espanto os fatos, o ídolo tinha pés de barro e precisava descer do pedestal em que o colocaram a fim de responder pelos seus atos e arcar com as consequências de suas diabruras pecuniárias.

Não seria justo comparar Luiz Inácio Lula da Silva com o malfadado Fernando Collor de Mello. Collor foi um desmedido de um engodo, um sujeito que saiu como que do nada e foi catapultado para o Palácio do Planalto por uma bem montada e tremendamente ludibriadora campanha eleitoral. Já Lula não, ele tinha uma trajetória marcada por uma militância no sindicalismo dos metalúrgicos de São Paulo; e, por mais que amplos setores de nossa intelligentsia torcesse o nariz para o seu despreparo intelectual, era inegável que ele mantinha-se empenhado em conquistar o apoio das massas em seu propósito de um dia vencer as eleições majoritárias e ser alçado ao posto de presidente do Brasil, fato esse que se deu em dois pleitos seguidos. Mas, em que pese os feitos de seus governos e da ampla aprovação popular que ele angariou, o senhor Luiz Inácio Lula da Silva, se algum dia os teve, durante o exercício da presidência perdeu todos os seus princípios éticos e morais, misturando-se e se transformando ele mesmo em um dos tantos picaretas que certa feita ele disse que existiam em Brasília impedindo o desenvolvimento do país.

Talvez tenha sido o deslumbramento com o poder, como muitos dizem. Ou talvez tenha sido uma ganância e uma desonestidade pura e simples que fizeram com que o senhor Luiz Inácio Lula da Silva degenerasse de tal maneira que quem procurasse ver nele o homem impávido e aparentemente íntegro e honesto dos tempos das greves e passeatas, não mais o encontraria. Lula, o retirante nordestino, o metalúrgico, o líder sindical dos embates contra os áulicos da Ditadura Militar que contrariou todos os prognósticos possíveis e veio a se tornar presidente de um país onde oligarquias sempre ditaram o rumo de tudo, e alcançou índices de popularidade nunca vistos, findou num ente público às voltas com a Justiça, metido que está em várias investigações que o apontam como beneficiário de esquemas de pagamentos de propina e outros ilícitos.

Quando a lei mira os outros que não os petistas, tudo é considerado por eles perfeitamente válido, justo e correto. Agora se a mão pesada da lei vem lhes bater a porta, a coisa toma outra conotação, tudo muda de significado. E eles se põem raivosamente a bradar que são perseguidos pelas elites deste país, pela Rede Globo e por todos aqueles que não querem ver gente pobre prosperando, indo à faculdade, viajando e por aí vai, numa retórica que de tão repetitiva e chata cai no vazio do discurso do mau perdedor, sabe?, do tipo que não admite seus erros e muito menos suas fragilidades. Foram escândalos e mais escândalos, prisões e mais prisões e o Partido dos Trabalhadores querendo se manter como legenda ímpia e diferente de todas as outras.

O senhor Luiz Inácio Lula da Silva foi ontem julgado e condenado em segunda instância em um dos vários processos em que ele figura como réu. Foi um epílogo muito triste e desanimador para milhões de brasileiros que, como eu, um dia depositaram nele não somente a esperança de que ele promovesse melhoria das condições de vida das pessoas realmente necessitadas deste país, mas que também, ao mesmo tempo, ele se mantivesse como um homem e um político íntegro e honesto, e isso, como vimos, infelizmente, não aconteceu.


Um comentário:

  1. Nesta grande cortina com teor de justiça, se esconde uma gama de interesse político, em face do jurídico.

    ResponderExcluir