Por Clênio Sierra de Alcântara
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Fotos: Ernani Neves A Igreja Matriz de São José dominando o espaço central da cidade
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Ontem...
As inúmeras páginas de histórias
escritas por Sebastião de Vasconcellos Galvão e reunidas no seu Dicionário
corográfico, histórico e estatístico de Pernambuco nos informam que a atual
cidade de Rio Formoso, que dista a cerca de 88 km do Recife, se
desenvolveu em terras do antigo engenho do mesmo nome. Esse engenho já existia
em 1637; e possuía uma capela cujo orago era São José. Pertencia a D. Catarina
de Fontes; e foi confiscado pelos holandeses e vendido por 24.000 florins a
Rodrigo de Barros Pimentel. As terras do engenho faziam parte da freguesia de
Serinhaém (Sebastião de Vasconcellos Galvão. Dicionário corográfico, histórico e estatístico de Pernambuco. 2ª ed. Recife: CEPE, 2006, 497). Registros também dão conta de que, em 7 de novembro de 1789, quando foi terminado o inventário dos bens do Mestre de Campo José Luís Paes de Melo, falecido no Engenho Mamucabas, Rio Formoso ainda figurava como termo da vila de Serinhaém. Primitivamente o território rio-formosense pertencia ao distrito do Cabo de Santo Agostinho, antes de ser termo de Serinhaém.
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Esta foto e a seguinte são ilustrações da Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, respectivamente das páginas 247 e 248. Possivelmente elas mostram flagrantes da cidade da década de 1950, visto que a publicação é de 1958 |
Com um porto de embarque que proporcionou sua evolução, Rio Formoso alcançou a categoria de vila e foi criado município e sede de comarca por Ato do Conselho Geral da Província de 17 de maio de 1833. (A Enciclopédia dos Municípios Brasileiros informa a data 20 de maio).
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O cruzeiro indica o lugar do Reduto, local onde em fevereiro de 1633 houve um combate contra os invasores holandeses |
Conta-nos ainda o prestimoso Sebastião de Vasconcellos Galvão que, em 1836, D. Francisca Antônia Lins, proprietária do Engenho Serra d'Água, fez doação de um prédio para a Cadeia Pública; e que o coronel Francisco Casado Lima, por sua vez, doou outro para que servisse de casa para a Câmara Municipal.
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Busto de Agamenon Magalhães |
Apesar de classificação civil
mais elevada, Rio Formoso só se tornou freguesia em virtude da Lei provincial
nº 85, de 4 de maio de 1840, tendo como seu primeiro vigário o Padre Luiz
Guimarães. Foi elevada à cidade pela Lei provincial nº 1318, de 4 de fevereiro
de 1879. De acordo com a Enciclopédia dos Municípios Brasileiros (Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1958, vol. XVIII, p. 246), cujo narrador recorreu à obra O Rio Formoso, de Carlos Xavier Paes Barreto, a Lei provincial nº 85 foi de 4 de maio de 1849 e referiu-se ao distrito; e a de nº 258, de 11 de junho de 1850, deu-lhe foros de cidade, que só foram reconhecidos pela de nº 1318, de 4 de fevereiro de 1879.Com o advento da República, de acordo com a Constituição Estadual,
organizou-se como município autônomo em 8 de março de 1893.
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Viveiros possivelmente de criação de camarão |
Em dezembro de 1859 Rio Formoso entrou no roteiro da longa viagem que o imperador Dom Pedro II fez às chamadas províncias do Norte. O monarca chegou à cidade às 7 horas da noite do dia 11 daquele mês; e, em seu diário, fez vários registros sobre o lugar. Em seus apontamentos ele primeiramente fez esta observação: "Rio Formoso ainda ha poucos anos era um engenho, e ainda existe a casa da proprietaria D. Francisca, chamada do Rio Formoso, especie de potentada do interior, á direita da casa onde me hospedei no largo do mercado, no lugar duma fileira de casas terreas fronteiras era a casa de lugar do engenho. Todos pagam foro, creio que a um filho de D. Francisca, Tenente-Coronel da G. N. [Guarda Nacional], na razão de 2 patacas por ano de palmo corrente, cobrando ordinariamente 500$000 mensais".
O imperador observou ainda que a causa da prosperidade da povoação, "que alias não é consideravel", era a navegação do rio, que "seria melhor aproveitada, mas com a decadência do Rio Formoso, e estabelecimento duma florescente povoação na várzea de Tamandaré, de cujo excelente porto falarei depois, se desembarcando e embarcando aí os generos, seguissem estes por trilhos de ferro até o Ariquindá, afluente do Rio Formoso, e depois por aquele a este até onde fosse navegavel, havendo da cidade de Rio Formoso até os trilhos já estabelecidos na extensão de 800 braças até o trapiche de Tamandaré, outras 2 legoas".
Dom Pedro II parece que andou bastante pelo centro da cidade; e assim descreveu alguns dos edifícios:
A cidade tem só duas igrejas: a matriz que foi capela do engenho, e a do Rosario num alto donde se gosa de boa vista, tanto quanto permitem as colinas elevadas que cercam a cidade. Ha um olho dagua de beber muito boa, perto; mas o proprietario do engenho Sequeira põe agora embaraços á tirada dagua tendo eu já recomendado este negocio ao presidente.
A cadeia é uma casa onde ha duas grandes gaiolas de pau para os presos, estando os livros como em Serinhãem senão piores [...] A Casa da Camara é pequena, mas tinham-na arranjado de novo (Dom Pedro II. "Viagem a Pernambuco em 1859". Cópia, introdução e notas de Guilherme Auler. In Revista do Arquivo Público. 1º e 2º semestres - Anos V e VI - Números VII e VII. Recife: Secretaria do Interior e Justiça, 1950-1951. Citações por ordem de aparição: p. 446, 446, 446-447 e 447).
O arguto imperador visitou ainda aulas de meninos e de meninas, viu o cemitério, o batalhão e foi conhecer a Fazenda Machado. Comentando o modo como foi recepcionado na cidade ele escreveu assim nas páginas do diário: "No Rio Formoso a recepção pareceu-me menos entusiastica que em outros lugares, ainda antes do que me disseram do vigario e escrivão" (Dom Pedro II. Op. cit. p. 451).
A exemplo de outras cidades
brasileiras, Rio Formoso também foi alvo de sucessivas mudanças de categoria. A
Enciclopédia dos Municípios Brasileiros – e eu quero aproveitar esta ocasião
para registrar aqui que nem sempre coincidem as informações dessa Enciclopédia
com as que foram coligidas pelo esforçado Sebastião de Vasconcellos Galvão com
relação a vários lugares; na falta de uma terceira fonte para confrontá-los,
optei ora por um, ora por outro – nos informa que por força de diversos atos,
incluindo os de 31 de dezembro de 1936 e 31 de dezembro do ano seguinte e o
Decreto nº 92, de 31 de maio de 1938, Rio Formoso tornou-se apenas um termo de Serinhaém.
Com a Divisão territorial estabelecida pelo Decreto nº 295, de 9 de dezembro de
1938 passou a pertencer a Barreiros. Cinco anos depois, pelo Decreto nº 952, de
31 de dezembro de 1943, Rio Formoso voltou a ter autonomia.
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Esta foto e as três seguintes fazem parte do conjunto de imagens que ilustram a publicação Rio Formoso (Série Monografias Municipais. Recife: Instituto de Planejamento, 1992, vol. 34.) e são de autoria do fotógrafo Sandoval Loureiro; elas aparecem respectivamente nas páginas 66, 21, 59 e 66 |
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Outra imagem do cruzeiro que marca o local do Reduto |
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Sobrado do Rio Formoso Hotel |
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Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos
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O topônimo da cidade, Rio Formoso, designa o principal curso de água que corta o território; antigamente ele era chamado de Iobuguaçu (grande rio verde, na língua tupi).
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O coreto da Praça Agamenon Magalhães |
... E hoje
Em fins de maio passado eu visitei
Rio Formoso dentro daquela proposta de conhecer cidades, traçar um esboço
ligeiro de sua história e registrar algumas impressões pessoais, valendo-me
sempre do necessário talento – e da companhia igualmente indispensável - do fotógrafo Ernani Neves para capturar
flagrantes de pessoas, coisas e animais para ilustrar o que vou escrevendo.
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Manguezal de Rio Formoso |
Rio Formoso, a “cidade dos
manguezais”, está situada na Zona da Mata Sul pernambucana, terra de muita
cana-de-açúcar, lavoura essa que, como se sabe através das lições de Gilberto Freyre contidas no clássico
oitentão Casa-grande & senzala, forjou uma denominada “civilização do
açúcar” no Brasil patriarcal.
Parte da população
rio-formosense, que não conseguiu lugar na parte baixa da cidade, ocupa
terrenos íngremes – várias das residências estão encravadas em áreas de risco.
E contrastando com o verdor do canavial, algumas casas de taipa figuram como
outro testemunho dos desníveis sociais: até hoje, pelo menos aqui no Nordeste –
e excetuando os elogios algo exagerados dos mucambos feitos pelo autor de
Região e tradição – esse tipo de moradia é símbolo de pobreza.
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Outros prédios que circundam a Praça Agamenon Magalhães |
Fui conhecer a parte mais antiga
da cidade, o núcleo primitivo do espaço urbano, chegando à Praça Agamenon Magalhães.
É nessa praça e em seus arredores que encontramos prédios de tempos idos, como
a Igreja Matriz de São José, o edifício que abriga o museu municipal –
lamentavelmente ele não estava aberto no domingo em que lá estive – e moradias
com fachadas graciosas.
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De novo a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos |
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Casinhas com fachadas antigas são um dos charmes das cidades interioranas do Nordeste
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Igreja de Nossa Senhora do Livramento |
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Este sobrado é um dos últimos remanescentes de um tempo distante da cidade |
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Outro flagrante da Igreja Matriz de São José |
No final – ou no início, depende
do ponto de vista – da Praça Diário de
Pernambuco (antiga Rua da Levada) existe um porto que abriga dezenas de
embarcações que têm nomes como Marisol e Flor do Rio II, esta de propriedade de Nivaldo
Francisco, um pedreiro que, no verão, faz passeios com turistas pelo Rio
Formoso – um dos pontos principais do passeio é o local conhecido como Reduto,
onde houve um combate em fevereiro de 1633 contra os invasores holandeses; por conta disso, no mês de
fevereiro a área serve de palco para uma
concorrida festa; um cruzeiro foi inaugurado ali em 7 de fevereiro de 1900 para marcar o local do acontecimento de grande relevância histórica – e por toda a extensão da foz
que se encontra com os rios Ariquindá (de Tamandaré) e Serinhaém (de
Serinhaém). Segundo Nivaldo, que mora defronte ao portinho, a área onde foi
construída sua casa é resultado de uma invasão: “Tudo isso aqui era mangue; e
foi aterrado pra fazer casas”.
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Praça Agamenon Magalhães |
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Meninos brincando de amarelinha |
.JPG) |
Aqui estou eu junto com o Nivaldo Francisco |
Em torno do ancoradouro, várias
são as habitações construídas sob condições precárias, dentro daquilo que eu
chamo de estratégia de sobrevivência. A riqueza secular proporcionada pela
indústria canavieira não escorreu para aquele lugar.
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Entrada da parte central da cidade |
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Casas de taipa na beira da estrada |
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Praça Diário de Pernambuco (antiga Rua da Levada), aqui e na foto abaixo |
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Chiés: a vida nos manguezais é intensa |
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Casa com arquitetura modernista |
Em suas ruas enladeiradas, na singeleza do coreto que existe em sua praça principal, no colorido dos barcos ancorados e em vários outros aspectos, Rio Formoso exibe para os visitantes uma vontade danada de se libertar das amarras que emperram o seu desenvolvimento.
Ola sou faustino moro na capital,ja morei em Rio Formoso e você tem que visitar essa linda cidade na sexta ou no sabado,são os dias de maiores movimentos com comércio,trânsito e as belezas naturais de suas praias.gostei sim porèm hà muita coisa pra mostrar,obrigado aguardo voltar aqui ver mais belezas de Rio Formoso PE.
ResponderExcluirOla sou faustino moro na capital,ja morei em Rio Formoso e você tem que visitar essa linda cidade na sexta ou no sabado,são os dias de maiores movimentos com comércio,trânsito e as belezas naturais de suas praias.gostei sim porèm hà muita coisa pra mostrar,obrigado aguardo voltar aqui ver mais belezas de Rio Formoso PE.
ResponderExcluirOdair, qualquer dia desses eu voltarei.
ExcluirGrande abraço.
Olá!
ResponderExcluirPassando, só, para agradecer por tanta informação e fotos.
Sou pernambucana dessa bela cidade de Rio Formoso. Só estive aí uma vez, mas pretendo voltar com toda minha família para mostrar onde nasci.Amo Pernambuco, amo frevo , isso eu trouxe no sangue.
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