Por Clênio Sierra de Alcântara
“Vou-me
embora do Recife!
Meu
coração fica aqui”.
Recife. Murilo Costa
Olhando para trás eu me dou
conta de que o meu fascínio de hoje pelo estudo das origens e do
desenvolvimento físico das cidades teve início, na verdade, não no tempo das
aulas na universidade, mas bem antes disso; embora tenha sido na academia que
ele se potencializou, foi em minha infância e mais ainda na adolescência,
quando comecei a colecionar calendários e cartões-postais – mesmo sem saber
escrever direito, durante alguns anos eu me correspondi com um sujeito de
Governador Valadares chamado Darci, técnico de futebol de salão, com o qual
troquei vários cartões-postais. Darci, onde está você? – que mostravam cenários
urbanos. Eu olhava detidamente para aquelas paisagens e me demorava mergulhado
nelas; e me imaginava percorrendo as ruas, conhecendo os monumentos e entrando
naquelas construções todas que enchiam meus olhos de curiosidade e fascinação.
Fiz esse passeio
aparentemente digressivo para contar da alegria que foi encontrar em pleno
Recife Antigo, um lugar por si mesmo de tão fortes evocações imagísticas,
objetos muito bem trabalhados, que trazem pequenos flagrantes da capital
pernambucana estampados neles. Foi ali, na feirinha típica da Rua do Bom Jesus
– a antiga Rua dos Judeus, onde foi erguida a primeira sinagoga de todo o
continente americano -, que acontece aos domingos, que eu me deparei, na banquinha
do talentoso designer Nilson Santos, com pedacinhos do Recife presos a
porta-cartões, marcadores de livros, porta-garrafas, caixinhas para guardar as
mais variadas coisas e outros itens. Os objetos são feitos realmente com muito
esmero.
Conversando com o Nilson Santos – ele mantém um providencial site no qual divulga os produtos: www.griferecife.com.br -, fiquei sabendo que o seu projeto de fixar o Recife em objetos começou com o desejo de dar vazão ao bom acervo fotográfico que reuniu com um amigo, que chegou a ser sócio de sua empreitada. E me disse ainda que a sua relação com a cidade se dá de maneira muito passional, porque foi ela que o acolheu profissionalmente e foi nela que ele fixou morada.
Não se pense que é apenas o Recife de dias recentes que aparece nos produtos. Garimpando imagens em vários suportes, Nilson Santos nos apresenta o Recife retratado em coloridos cartões-postais de tempos idos, revelando cenários dessa cidade que, para as câmeras, nunca se mostrou com timidez. É um Recife sempre atraente. É um Recife para sempre se ter por perto.
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