Por Sierra
Quando despertei hoje eu estava desorientado a respeito de que dia era. Por um momento eu pensei, ainda no aconchego da cama - e era bastante cedo -, que hoje fosse domingo. Não demorou e os meus neurônios despertaram para valer; e eu me entreguei de corpo e alma a este sábado que tanto queria me ver em ação.
Levantei-me. Repeti ações cotidianas. Preparei a costumeira papa com aveia, banana - duas - cortadas em rodelas e água. E sentei numa cadeira posta na área de serviço para ler notícias em sites da internet. Navegando de um site para outro eu tomei conhecimento, por meio da Folha de Pernambuco, que o general golpista Braga Netto fora preso por agentes da Polícia Federal, no Rio de Janeiro, notícia que, segundo o jornal pernambucano, tinha sido dada em primeira mão pela jornalista Andréia Sadi, do portal de notícias G1, do Grupo Globo.
Foi com um desses regozijos bem intensos que vez por outra cada um de nós sente que eu absorvi e me deliciei com a notícia da prisão do generalíssimo Braga Netto. E, de pronto, eu fui postar minha satisfação e alegria proporcionadas por tal acontecimento nas redes sociais me valendo do meu venenoso deboche.
Fazendo um resumo de nossa história política do século passado, qualquer um observa a série de golpes e de tramas contra a democracia levados a cabo e/ou apoiados por militares das Forças Armadas, como o longo governo de Getúlio Vargas e a ainda mais longeva ditadura militar decretada em 1964, que perdurou por intermináveis vinte e um anos, causando pesadelos em diversos setores da sociedade, como a imprensa, e assassinando e dando sumiço a corpos dos chamados presos políticos. Tal disposição dos militares para vilipendiar os ideais democráticos e solapar os direitos civis já me fizeram pensar que, talvez, eles recebam instruções em seus cursos de formação sobre como tramar e dar golpes de Estado.
Um dos principais ministros do desgoverno de Jair Bolsonaro, um dos piores presidentes da República que este país já teve, o general Braga Netto acabou figurando como candidato a vice-presidente na campanha de reeleição do dito-cujo, chapa essa que saiu derrotada nas eleições gerais de 2022. E, na esteira da derrota nas urnas, a sanha autoritária e golpista de Jair Bolsonaro e de seus comparsas fardados só fez aumentar. Alimentando teorias da conspiração, fantasmas comunistas, descrédito das urnas eletrônicas e uma caça desesperada ao famigerado código fonte, o ainda presidente da República e os seus cúmplices promoveram estímulos para que multidões acampassem defronte a quartéis do Exército por este país afora e continuassem desacreditando o resultado das eleições. E o que se viu foi o episódio de selvageria e barbárie na Praça dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro do ano passado, quando centenas de fanáticos apoiadores de Jair Bolsonaro - eles têm vários apelidos; os mais conhecidos são gado, bolsominions e patriotários - invadiram e depredaram as sedes do Executivo, do Legislativo e do Judiciário numa ação digna de criminosos da pior espécie.
Na esteira de tais acontecimentos, investigações conduzidas pela Polícia Federal foram pouco a pouco reunindo peças do quebra-cabeça da trama golpista conduzida e planejada e/ou apoiada e estimulada por Jair Bolsonaro e seus aliados. Enquanto vários dos delinquentes que agiram naquele 8 de janeiro foram julgados e condenados à prisão, o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, o coronel Mauro Cid, foi preso; e, a partir de sua prisão, mais revelações detonaram de vez o desgoverno de Seu Jair: em delação premiada o coronel Mauro Cid foi dando nomes aos bois e contando episódios nada republicanos protagonizados e/ou incentivados e planejados pelos ditos "homens de bem" que se proclamavam defensores da pátria e que se empenhavam tenazmente em praticar crimes certamente pensando que as leis e a Justiça deste país jamais os alcançariam.
Aí ocorreram mais prisões quando a Polícia Federal tomou conhecimento que militares planejaram, inclusive, assassinar - isso mesmo, assassinar - o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o seu vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, revelando os níveis de desumanidade e de periculosidade de indivíduos que estavam no entorno de Jair Bolsonaro apoiando as suas sandices e perversidades em série.
A prisão do general Braga Netto - a segunda na história da República brasileira de um general quatro estrelas, segundo o noticiário - marcou outro capítulo da desgraceira golpista do Clã Bolsonaro. Não tenho como deixar de inferir que isso tudo envolvendo militares das Forças Armadas é o resultado de uma vingança que Jair Bolsonaro planejou para manchar um pouco mais a reputação do Exército, uma instituição que o rejeitou, porque ele era um oficial impróprio para integrar as fileiras da Corporação. Também resta evidente que foi de todo nociva a entrada massiva de militares na vida política do país.
Hoje foi um dia de glória da Justiça brasileira.
Viva a democracia!
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