20 de março de 2011

Calçadas livres

Por Clênio Sierra de Alcântara

Fotos: Ernani Neves


Acessibilidade. Esta deveria ser a palavra de ordem a marcar o dia a dia dos pedestres em toda e qualquer cidade. Acessibilidade essa, saliente-se, que garantisse o ir e vir a todos os cidadãos, e não especificamente para aqueles que têm alguma deficiência física.

No Recife não se pode dizer que o pedestre e que o cadeirante gozem desse item de primeira necessidade para o bom convívio entre as pessoas e o espaço citadino no qual transitam diariamente. Não bastasse o fato de que muitas das calçadas de sua zona central, onde circulam, todos os dias, milhares de indivíduos, estão esburacadas, o problema da acessibilidade é agravado pela falta de rampas, que possibilitem o trânsito de cadeiras de rodas, e  pelas obstruções que muitos comerciantes descaradamente promovem nesses equipamentos urbanos: barracas de vários tipos e tamanhos, bancas de revistas, fiteiros, mesas e cadeiras de bares, tabuleiros de frutas e verduras e  de cd's e dvd's piratas, enfim, um sem-número de obstáculos para a livre locomoção. E poucas coisas são tão daninhas para o pedestre do que a negação de sua locomobilidade.

Trouxe o assunto novamente à baila em virtude da ação promovida pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Trânsito (DNIT), na última quinta-feira, de remoção das barracas horrendas então fixadas no entorno do Hospital das Clínicas, da UFPE, na Cidade Universitária. Havia anos que aquilo lá se tornara como que uma favela comercial.





Como se estivesse prevendo a ação, passei por aquele local no domingo passado, com o fotógrafo Ernani Neves; e registramos a ocupação da calçada ao longo da Av. Professor Arthur de Sá. Infelizmente, pecamos ao não fazermos registros da parte da frente do hospital, onde a ação foi efetiva - quer dizer, efetiva não, porque a Justiça concedeu uma liminar a um dos comerciantes; e sabe-se lá por que um infrator ganhou amparo da lei.



Mas voltemos ao assunto. Entendo perfeitamente que as pessoas ali negociavam porque, talvez, não conseguiram outra ocupação no mercado de trabalho. Porém, não aceito que se busque "ganhar a vida" infringindo as normas legais; e, mais absurdo ainda, em prejuízo do bem comum.

Nas fotos que ilustram este artigo vê-se claramente que não existe espaço disponível para o caminhante na calçada. Alguns dos comerciantes chegaram ao cúmulo de fixar suas barracas em bases de concreto, tomando o lugar para si, tal qual na área que fica por trás do prédio do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), da mesma universidade; um espaço onde, outrora, no tempo em que eu lá estudava, tinha-se livre trânsito e hoje é um verdadeiro espetáculo degradante, sem que as autoridades coibam isso. Não culpo esses comerciantes infratores e mal intencionados. Culpo os órgãos públicos que só resolvem atacar as doenças quando elas estão em estágios avançados de sua malignidade. Levam-se anos para que os órgãos fiscalizadores decidam coibir o abuso das ocupações irregulares, quando essas ações deveriam ser de permanente profilaxia.

Como ocorreu, no ano passado, com o entorno do Hospital da Restauração, no bairro do Derby - dá gosto de ver o asseio que impera no local hoje; parece até que é um outro lugar -, espero que a área recentemente desocupada passe por uma devida revitalização, de modo que seja devolvido aos caminhantes um espaço que lhe é de direito.

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