22 de julho de 2011

Personas urbanas (4)

Por Clênio Sierra de Alcântara


"Eu não tô aqui pra sofrer
Vou sentir saudade pra quê?
Quero ser feliz.
Bye, bye tristeza!
Não precisa voltar..."

Bye, bye tristeza. Carlos Colla



Imagem Internet



Tristeza. Justo num momento em que eu estou atravessando um período de abatimento, cismei de começar a ler o livro Felicidade clandestina, da Clarice Lispector, que repousava num dos meus armários, aguardando com paciência - os livros são sempre pacientes; nós é que nem sempre somos - a sua vez na fila. Eu o abri durante uma viagem de ônibus para o Recife, numa tarde ensolarada, numa tarde de sol como há vários dias não se via por essas plagas.

O primeiro baque veio com a leitura do conto que tem o mesmo título do livro: "Felicidade clandestina". Chorei. Chorei recordando que, quando eu li pela primeira vez essa narrativa, então inserida no meu livro didático de Língua Portuguesa, da 7ª série, eu tinha catorze anos. Catorze anos e milhares de inseguranças e incertezas. Logo em seguida veio "Uma amizade sincera"; e eu me dei conta de que, em pleno Dia do Amigo, eu acabara de ler algo que me ligava diretamente ao motivo maior da tristeza que estava ali, sentada ao meu lado, no coletivo, que era o rompimento com alguém que, mais do que um amigo, era o meu mentor e a razão de ser de muito da efervescência e da excitação intelectual que me tomaram completamente  nos últimos meses. Depois, eu li "Restos do Carnaval", o que provocou o meu terceiro baque. Chorei de novo. Clarice Lispector tem sobre mim esse poder de me aniquilar e de me reavivar no momento seguinte. Talvez resida aí o seu mistério. E, por isso, eu nunca deixo de buscá-la.

Imagem Internet

Poucas coisas são tão ruins para mim do que ser acusado do que eu não sou e pelo que eu não fiz. No bate-boca que tivemos, ele me acusou de "traidor", de "insincero", dois fardos que eu em absoluto não carrego. Muito eu já perdi por causa justamente da sinceridade. E da covardia. Mas nunca pela traição. Nas vezes em que fui covarde eu o fui somente para comigo mesmo, sem prejudicar a ninguém que não a mim. No entanto ele veio com essas acusações. Logo comigo que, desde que o conheci, só tive para com ele sentimento de proteção, de carinho, de bem-querer.

Têm sido muito difíceis para mim esses dias, porque a ausência dele pesa um bocado sobre mim; porque me habituei a querer olhar o mundo pelos olhos dele, a querer pensar em sintonia com os seus pensamentos, a rir junto com ele uma risada de sala de estar, descontraída e reconfortante...

Quando fiz a viagem de volta da capital, numa noite fria como fria é toda noite invernal, meu drama só fez aumentar. E eu chorei pondo ali, na janela do ônibus, de maneira bem ordenada, uma por uma, todas as frustrações da minha vida.

Na manhã do dia seguinte, numa tentativa desesperada de conter o meu pranto e de dissipar a tormenta de tristeza - eu sou dado a atos de fúria - apaguei da minha agenda vários nomes de fantasmas, uma gente para  a qual eu nunca ligava e que estava ali não sei para quê...

Infelizmente, querida Clarice, as amizades nunca foram, para mim, matéria de salvação.

2 comentários:

  1. Oi Sierra, fiquei emocionado com o peso das suas palavras carregadas de tristeza. Independentemente do motivo, da amizade, da perda, lembre-se que não há nada neste mundo que o tempo não resolva e cure. Abraços do amigo. André Araújo (andre.araujo@loginlogistica.com.br).

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  2. Parabéns Sierra pelas belas críticas, politicamente acho erradíssimo os pontos que criaram esse parque, realmentr pra que ele serve afinal senão para a apreciação completamente doentia dos burgueses que alí vivem, está absolutament certo, apoiado.

    Valdir Camilo

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