12 de outubro de 2011

O Pará é uma terra de ninguém

Por Clênio Sierra de Alcântara


Não é de hoje que o Pará dá demonstrações, ao resto do país, de que abriga em sua imensidão territorial um contingente incontável - e incontrolável - de bárbaros que vivem à margem da lei. Apenas os conflitos relacionados com a ocupação e posse de terras são respondáveis por grande parte dos assassinatos que ocorrem nesse estado anualmente.
Quatro anos depois de chocar a opinião pública com o caso, sob todos aspectos absurdo, de uma adolescente de 15 anos que, detida numa unidade prisional masculina, foi sucessivamente estuprada por dezenas de presos, chega-nos a notícia de que uma mirrada garotinha de 14 anos, 1,50 metros de altura e que pesa menos de 50 quilos foi violentada sexualmente durante três dias em uma colônia penal agrícola localizada no município de Santa Isabel, a 52 quilômetros de Belém, no início do mês passado.
É verdade, a barbárie não é um privilégio de parte dos paraenses; ela está disseminada pelos quatro cantos do país cometendo as mais hediondas formas de violência, sem que os órgãos de segurança pública consigam coibi-la - nunca é demais recordar que, no casso da adolescente violentada em 2007, ela fora trancafiada junto com os detentos por autoridades policiais.
Por que a sociedade brasileira não consegue cuidar e proteger suas crianças? Por que nossa sociedade ainda trata as mulheres de modo tão vil? Quando será que nos daremos conta de que, ao violarmos os princípios da dignidade humana, estamos a cada vez descendo um pouco mais a escada de nossa degradação moral? Por que, no geral, nos mostramos tão apáticos aos nos depararmos com casos como esses?
Muitos foram os ganhos que as mulheres lograram no Brasil e alhures em sua marcha intrépida de busca de reconhecimento social: direito a voto, inserção maciça no mercado de trabalho, melhoria no grau de escolaridade; etc. Contudo, elas ainda amargam a condição de serem as maiores vítimas das atrocidades perpetradas pelos homens. Nem a Lei Maria da Penha foi capaz de diminuir o grande número de casos de agressões físicas e de assédio moral que são registrados nas delegacias - especializadas ou não - diariamente em todo o país. A violência que todos os dias dar cabo da vida de inúmeras brasileiras é a nota mais triste de uma sociedade que aparenta ser incapaz de evoluir moral e humanamente. O que eu ouço vez por outra são comentários do tipo: "Já que a gente vai preso se bater em mulher, é melhor matar logo". Parece mentira; parece pilhéria, mas é verdadeiro - e bestial.
A figura da mulher-objeto, tão disseminada nesse tempo de estímulos cada vez mais desenfreados de sexualidades precoces que, no meu entender, são os principais responsáveis pela quantidade enorme de adolescentes grávidas, é o outro lado da moeda dos que julgam as mulheres como seres inferiores. A mulher-objeto está na capa da revista mostrando o corpo nu; está no dvd pornográfico que o camelô expõe de modo escancarado nas esquinas das ruas; está nos programas de televisão que as exibem em trajes sumários, rebolativas e mudas; está nos shows de músicas nos quais elas figuram como peças de carnes expostas em açougues.
Eu seria um tremendo de um fingido se me apresentasse aqui como alguém que repudia a arte erótica, uma arte cuja origem se perde nas noites do tempo. O que eu repudio veementemente é essa erotização que põe tudo no mesmo nível de aceitação quanto às faixas etárias. Pornografia, arte erótica são coisas para adultos, ora bolas. As ciranças não devem ser expostas a esses materiais assim, como se fossem as coisas mais banais do mundo, porque não o são. A exploração sexual infantil é algo tão disseminado neste país, que chega a ser revoltante a falta de empenho das autoridades com vistas a coibir tal crime.
Homens são homens, mulheres são mulheres, é o que ouvimos, desde criança, de nossos pais, porque, desde essa tenra idade somos instruídos a separar nossos papéis, porque eles precisam ser bem definidos, não podem ser trocados. Ensinam-nos ainda, que o homem nasceu para a mulher e vice-versa, porque "homem com homem dá lobisomem" e "mulher com mulher dá jacaré"; ou seja, já a partir dos nossos primeiros anos de vida somos instruídos a compreender que as relações entre pessoas do mesmo sexo são verdadeiras aberrações. É curioso como escapam a esses instrutores ensinamentos do tipo: o homem deve respeitar a mulher em todas as circunstâncias; e o homem e a mulher devem ter direitos iguais.
Vejo que eu me alonguei demais neste artigo no qual eu só queria proclamar o meu repúdio ao que tem ocorrido com meninas indefesas nas terras paraenses. Desculpem-me.
Oxalá chegue o dia em que os paraenses cuidem de suas mulheres com o mesmo empenho e com o mesmo sentimento que eles ofertam à sua Nossa Senhora de Nazaré.

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