12 de fevereiro de 2012

Bacanal na casa de Seu Manuel

Por Clênio Sierra de Alcântara

Quero beber! Cantar asneiras
No esto das bebedeiras
Que tudo emborca e faz em caco...
Evoé Baco!

                                 "Bacanal" do livro Carnaval (1919). Manuel Bandeira









Edson Nery da Fonseca 


Quinta-feira, 9 de fevereiro. Em pleno Dia do Frevo, às 18:10 h, eu e Edson Nery da Fonseca tomamos um táxi rumo ao Espaço Pasárgada, que está instalado no sobrado nº 263 da Rua da União, no bairro da Boa Vista, área central do Recife. Foi neste sobrado que morou o avô de Manuel Bandeira; um lugar tão belamente evocado pelo poeta no longo e ilustrativo poema-postal que é "Evocação do Recife", que apareceu pela primeira vez no chamado Livro do Nordeste - na verdade foi encomendado para figurar nele -, organizado por Gilberto Freyre, dentro das comemorações do centenário do Diario de Pernambuco, ocorridas em 1925; poema esse que é encerrado com os seguintes versos: "Recife.../ Rua da União.../ A casa do meu avô.../ Nunca pensei que ela acabasse!/ Tudo lá parecia impregnado de eternidade/ Recife.../ Meu avô morto,/ Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro como a casa do meu avô".










Myriam Brindeiro é bandeiriana como Edson Nery da Fonseca



Bandeiriano da melhor estirpe - não seria demais dizer que ele é o autor da obra Alumbramentos e perplexidades: vivências bandeirianas, que já está em segunda edição; e que ele gravou em disco poemas do seu bardo mais querido que saíram em mais de uma fornada -, Edson Nery da Fonseca nunca perde a oportunidade de dizer - com toda a sua arrebatadora paixão - versos do incensado poeta recifense.  Foi assim, por exemplo, na Feira Literária Internacional de Paraty (Flip) de 2009, para a qual foi convidado por ser um grande conhecedor da vida e da obra do autor de Libertinagem, a quem conheceu pessoalmente e com quem trocou correspondência. (Morra de inveja leitor:  eu já o vi recitar - não: ele não recita, ele diz, como faz questão de destacar - inúmeras vezes o poema "A arte de amar".)



O grupo Vozes Femininas




Bem, o que nos levou ao Espaço Pasárgada na última quinta-feira foi o anunciado recital poético promovido pelo grupo Vozes Femininas, formado por Cida Pedrosa, Mariane Bigio, Silvana Menezes e Susana Morais - elas são ótimas -, realizado como "esquenta passo" para a saída - era a estreia - da Troça Carnavalesca Bacanal do Bandeira.





Enquanto o recital não começava, ouvia-se, como som ambiente, a voz melodiosa da simpaticíssima e irrequieta Myriam Brindeiro, que também é uma bandeiriana de longa data, e que sentou-se ao nosso lado.
  
Burburinho, comidinhas, bebidas... A noite enluarada prometia.

E então vieram "as filhas de Baco" iniciar os trabalhos naquela casa tão cheia de memória. E tome Bandeira de quase todas as maneiras. E tudo tão colorido. E tudo tão cheio de entusiasmo no recital que teve a sua primeira parte dedicada a Edson e à Myriam  pela voz de Cida Pedrosa.

João Altão não teve pique para acompanhar o cortejo da troça. Saímos de lá antes que a evocação do grande poeta começasse a encher de alegria a Rua da União tendo como destino a Rua da Aurora. 

Evoé Bandeira!

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