11 de março de 2012

Ausência e presença de Gilberto Freyre


Por Clênio Sierra de Alcântara












Há 25 anos, no dia 11 de março de 1987, foi instituída a Fundação Gilberto Freyre, instalada ainda hoje na Vivenda de Santo Antônio de Apipucos, onde Freyre morou durante mais de quatro décadas. Os móveis, os utensílios, os objetos de decoração, os livros, a cama, as comendas, enfim, tudo que há na casa transformada em fundação, diz um pouco a respeito desse homem de ideias iluminadas que ousou fazer com que este país reconhece-se a si mesmo sem desdenhar e nem se envergonhar do seu passado.

Mais do que mera guardiã de objetos, a Fundação Gilberto Freyre tem pautado sua atuação dentro de uma perspectiva de valorização das coisas de Pernambuco, em particular, e do Brasil, em geral, tomando a obra do autor de Casa-grande & senzala como diretriz. Mais do que promover e difundir o legado freyriano, ela tem buscado também empreender parcerias com vistas a levar para as mais variadas parcelas da sociedade, conhecimentos e/ou capacitações que lhes possibilitem melhorias em suas condições de existência, como por exemplo, o projeto “Delícias da Comunidade”, que tem como fundamento uma, digamos, valorização de práticas culinárias – que vai desde a apresentação de um prato até a elaboração de um cardápio completo – de pequenos comerciantes do bairro aonde chega, de modo que a própria comunidade do entorno compartilhe da percepção de que pequenas mudanças podem desencadear grandes transformações no que diz respeito a esses espaços que comercializam comida – e não só a eles.

Ao completar 25 anos de vida, a Fundação Gilberto Freyre celebra uma trajetória de percalços e de bons intentos alcançados. Não é nada fácil manter em funcionamento uma instituição como essa num país como o Brasil, onde certos setores ligados à cultura padecem pela falta de recursos. Recordo de uma entrevista da Magdalena Freyre, em que ela reclamava da falta de apoio para sustentar uma casa que deveria ser motivo de muita honra para todos nós. Era uma queixa profundamente legítima, porque, certamente, qualquer outro país onde a obra de Gilberto Freyre foi e é celebrada, não mediria esforços para abrigar tudo o que há naquela casa-museu.

Como em vida, ainda hoje a pessoa e a obra de Gilberto Freyre despertam admirações e/ou rechaçamentos desmedidos, como se ele fosse a um só tempo um deus e um diabo dessa terra tropical. As suas ideias não saem da ordem do dia. Pesquisas em torno de suas obras não param de aparecer. Vários de seus livros continuam ganhando novas edições, no que deve ser louvado o excelente trabalho das editoras Global e É Realizações nesses últimos anos. Em novembro passado o seu amigo e confidente, Edson Nery da Fonseca, às vésperas de completar 90 anos, lançou um livro volumoso – O grande sedutor – que é um apanhado de mais de uma centena de textos que ele escreveu sobre Gilberto e sua obra. No próximo dia 20 será a vez de Raul Lody pôr na praça o seu Caminhos do açúcar, livro que é, todo ele, um passeio por temas examinados pelo Mestre de Apipucos

Ou seja, no ano que marca também os 25 anos da ausência física de Gilberto Freyre – ele faleceu em 18 de julho de 1987, dia do aniversário de Magdalena, sua esposa -, seus discípulos celebram, à maneira deles, o seu estar entre nós. Gilberto Freyre é o próprio tempo tríbio que ele divulgava: é passado, é presente, é futuro.


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