Por Clênio Sierra de Alcântara
Fosse apenas para percorrer sua avenida central e avistar o mar me posicionando ao lado da Igreja de São Lourenço de Tejucupapo – ela está sendo restaurada pelos técnicos da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco -, já teria valido o passeio até o povoado de São Lourenço, em Goiana.
Sabe aquela sensação de pertencimento a um lugar ao qual se chega pela primeira vez? Pois eu a senti, quando fui adentrando em São Lourenço e avistei o Bar do Joca, que em muito me fez lembrar, com sua fachada e com suas prateleiras, a barraca de Seu Elias, em Abreu e Lima, onde eu, muito menino, comprava bolinhos feitos em latas de sardinha e refrigerante Crush.
É a simpatia, ou melhor, a empatia que faz com que nos identifiquemos com certas gentes que vamos encontrando nas veredas infindas – infindas no sentido de que os caminhos não são iguais, mesmo quando o percorremos de novo – do mundo. Ouvindo uma senhora, a quem pedi uma informação, falar com tanto entusiasmo da festa do padroeiro – “É algo muito bonito. Vale muito a pena ver”, ela disse – fiquei cá dentro de mim vibrando com o sentimento de confiança e de continuidade da tradicional festa religiosa, percebendo na fala daquela desconhecida que, se depender dela, todo ano as ruas do lugar serão ocupadas pelo cortejo de celebração ao dito orago. E encontrar pessoas devotadas a tais acontecimentos, que dizem muito do comprometimento da comunidade para com eles – com a festa religiosa e com a profana -, em meio a um tempo de apelos tecnológicos tão intensos, como este que vivemos, é realmente animador.
É claro que escrevo isso porque sou alguém que estuda História, como certamente muitos dirão. Sim, eles estão corretos, eu, de fato, tenho apego a tais celebrações culturais e aos folguedos, por causa de minha formação acadêmica que, não duvido, aguçou o meu senso de curiosidade para com tais atividades. E sempre que eu me deparo com essas coisas, reavivo no meu percurso, como pesquisador e como sujeito consciente de que também é um agente que registra testemunhos seus e de outrem, as ações ligadas à cultura popular empreendidas por um dos meus mestres na academia, o professor Severino Vicente da Silva, o Biu Vicente.
Na Praça João Bandeira de Souza, mirando o Bar do Joca, eu mergulhei num túnel do tempo que vocês não fazem ideia. Meus olhos também percorreram outros ângulos daquela localidade singela; e registraram nas retinas a agência postal, o desenho das fachadas das casas residenciais, uma ruína mantendo-se firme de pé, o divertimento das pessoas... A vida pulsa em qualquer lugar.
O passeio até São Lourenço ainda me reservou o encontro com um vendedor de doce japonês – não perdoo a minha gafe de não ter perguntado o nome do camarada -, uma figura que foi popularíssima em outros tempos, na minha cidade de origem, e que eu há muito não via. Provei guloso, do doce, que estava delicioso. E fiz questão de fazer um registro fotográfico do vendedor e de seu tabuleiro.
Escrevi esta narrativa no mesmo dia em que li o artigo “Turismo no Brasil”, de mestre Gilberto Freyre, publicado pelo Diario de Pernambuco na década de 1940. E será com as palavras dele que encerrarei este nosso encontro de hoje: “[...] não é só a paisagem que faz o turismo: também a humanização dos meios de comunicação do homem com as belezas naturais é importante. Sem essa humanização o turismo permanecerá na sua fase heroica de bandeirismo sem glória”.
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