Por Clênio Sierra de Alcântara
Em meados de outubro do ano passado tive o privilégio de conhecer o sítio histórico da encantadora cidade de Areia, localizada no brejo paraibano, a cerca de 126 km de João Pessoa. Na ocasião fui informado que um imóvel situado ao lado da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, na Rua Pedro Américo, nº 41, quase defronte ao Museu Casa de Pedro Américo, estava sendo restaurado para abrigar o Museu Regional de Areia (MURA), que foi criado em 1972 pelo Cônego Ruy Barreira Vieira, juntamente com alguns representantes da sociedade areiense, que doaram parte das peças que constituíram o conjunto do seu acervo, e que, havia anos, teve suas atividades interrompidas, entre outros motivos, porque esses bens precisavam ser restaurados.
Fotos: Ernani Neves |
E eis que, exatamente um ano
depois, eu retornei àquela cidade já ciente de que o Museu Regional de Areia
fora reaberto em fevereiro; e que a Associação dos Amigos de Areia – AMAR, em
virtude de ter implantado uma Oficina de Salvaguarda e Restauração com vistas a
capacitar jovens nas ações de proteção e recuperação do acervo, tivera, dias
antes de minha visita, o seu valoroso esforço reconhecido pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), vencendo uma das categorias
do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade. Mas nem em sonho eu imaginara que
fosse encontrar um museu tão bem arranjado. Só eu sei o quanto vibrei por
dentro, satisfeito em ver um espaço como aquele ser apresentado de forma
impecável.
Tudo no MURA está correto.
Por ora expondo peças de arte sacra, como oratórios e imagens de santo, que
foram restauradas na oficina mencionada, o museu possui reserva técnica e
programação para exibi-la em exposições temáticas; distribui um folder bem
elaborado; e recebe grupos de alunos de escolas da região e de alhures que
podem conhecer um acervo que inclui também peças mobiliárias, paramentos litúrgicos
e objetos como um relógio de parede que pertenceu ao primeiro bispo da Paraíba,
o areiense Dom Adauto.
Quem diz que os museus são
lugares mortos que abrigam trastes velhos e sem préstimo, não compreende o real
valor das coisas que compõem a história de todos e de cada um de nós. A visita
a um museu não significa entrar em contato com objetos que não nos dizem
respeito, como muitos pensam. Pelo contrário. Museus, como o MURA, são instituições
empenhadas não apenas em preservar peças que caíram em desuso e que fizeram
parte de um cotidiano remoto e obras de arte representativas do labor de um
artista ilustre e/ou mesmo anônimo de tempos idos; os museus dessa natureza
existem e precisam existir como afirmação do compromisso das sociedades para
com a salvaguarda de suas memórias.
Noutra ocasião eu escrevi
que toda cidade deveria possuir pelos menos um museu e uma biblioteca pública.
A pequena e surpreendente Areia possui três museus – afora àqueles, o Museu do
Brejo Paraibano, conhecido como Museu da Rapadura, que eu ainda não conheço, e
que integra o Campus II da Universidade Federal da Paraíba -; isso sem contar
as ruas e o casario do seu sítio histórico, que podem ser tomados como um museu
a céu aberto.
Fiz questão de registrar
minha satisfação para com o estado em que se encontra o MURA no livro de
impressões que fica à disposição dos visitantes. Tal como registrei lá eu quero
aqui parabenizar a todos que compõem a AMAR; e dizer que, com essa dupla
iniciativa, a de restaurar um imóvel de um sítio histórico e reabrir as portas
de um museu, ela reiterou Areia como uma das poucas cidades brasileiras que
priorizam a salvaguarda de seus valores históricos, artísticos e culturais,
compreendendo que o passado foi e sempre será o professor do nosso presente.
Parabéns pela divulgação. Parabéns à cidade de Areia pelo cuidado com a história e memória. Precisamos de muito mais cultura para nossa população.
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