Por Clênio Sierra de Alcântara
O homenageado da feira de livros que terá
início na próxima quinta-feira e que se estenderá até o domingo 17, na Praça do
Carmo, em Olinda, inserida na Festa Literária Internacional de Pernambuco
(Fliporto), é ninguém menos do que Edson Nery da Fonseca, o pernambucano do
Recife, Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Pernambuco, Professor
Emérito da Universidade de Brasília e Pesquisador Emérito da Fundação Joaquim
Nabuco, que fez dos livros o alimento principal de sua longa vida; ele, que
está prestes a completar noventa e dois anos de idade, que é um dos
intelectuais mais admirados do país e que vive a expectativa de publicar mais
uma obra.
Na carta que enviou ao amigo, Antônio
Campos, curador da Fliporto, justificou dessa maneira a escolha de Edson Nery
da Fonseca como o homenageado daquela parte do evento:
A honraria deve-se à sua contribuição à
cultura brasileira nos campos do ensaio literário e aos pioneiros estudos
interdisciplinares e multidisciplinares de Biblioteconomia, que Vossa Senhoria
realizou nos meios acadêmicos e na vida pública.
Bem é verdade que Antônio Campos deveria
ter prestado esse tributo ao amigo há dois anos, na ocasião em que, além de a
Fliporto estar celebrando a figura do genial Gilberto Freyre, de quem o autor
de Estão todos dormindo ainda hoje é considerado como um dos
grandes estudiosos, Edson Nery da Fonseca lançou naquele momento um livro
volumoso que eu organizei - O
grande sedutor: escritos sobre Gilberto Freyre de 1945 até hoje - e palestrou no evento quando se
encontrava às vésperas de marcar nove décadas de uma existência bastante
movimentada e fecunda. Mas, seja como for, antes tarde do que nunca.
E quanto a Edson, o que ele achou da
homenagem? "Eu gostei porque me senti elogiado em minha terra. Porque,
como diz o ditado, ninguém é feliz em sua terra, e eu estou feliz na minha
terra", confidenciou-me ele na visita que lhe fiz na última sexta-feira.
Autor de mais de uma dezena de títulos que
inclui estudos biblioteconômicos, fortunas críticas de Gilberto Freyre e Manuel
Bandeira e até um livro de memórias - o estimulante Vão-se os dias e eu fico -, Edson Nery da Fonseca sempre
manteve como guia intelectual, ao que parece, o capítulo 24 do Parerga und paralipomena, de
Arthur Schopenhauer, intitulado "Sobre livros e leitura", no qual o
filósofo alemão diz que os livros ruins são ervas daninhas; mais do que isso:
"Os livros ruins são veneno intelectual: eles estragam o espírito"
(Arthur Schopenhauer. Sobre
livros e leitura. Trad. Philippe Humblé e Walter Carlos Costa. Porto
Alegre: Editora Paraula, 1993, p. 35). E Edson não fez outra coisa na vida do
que bem cuidar do seu espírito.
Devido a alguns problemas de saúde que
dificultam sua locomoção mesmo numa cadeira de rodas, é muito provável que
Edson Nery da Fonseca não compareça à abertura do evento. Uma pena, porque,
tenho certeza, sua presença na feira literária faria as vezes de um antídoto
contra os inúmeros venenos que certamente estarão por lá.
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