Hoje é meu aniversário
Corpo cheio de esperança
Uma eterna criança, meu bem [...]
Hoje eu escolhi passar o dia cantando
De hoje em diante
Eu juro felicidade a mim
Na saúde, na saúde, juventude, na velhice
Vou pelos caminhos brandos
A minha proposta é boa, eu sei. Meu aniversário. Vanessa da Mata
Foto: Internet A felicidade pode estar em qualquer mínima coisa, não é? Mas não nos esqueçamos que felicidade é só um dos muitos ingredientes da vida |
A mais remota lembrança que
eu guardei de uma das festinhas de aniversário que a minha muito guerreira mãe fez para mim, foi de quando eu completei cinco anos. Morávamos numa casinha de aluguel no bairro Alto da Bela Vista, em
Abreu e Lima. É muito nítida em minha memória a torta linda que enfeitava a
mesa. Recordo bem daquela torta, cujos "lados" eram salpicados com amendoim
esfarelado e a cobertura era vermelha e preta, formando uma composição
geométrica delineada por um glacê branco, porque eu viria em outras festinhas
na minha cidade, tortas iguais àquela.
Foi mesmo inesquecível
aquele comecinho de noite. Compareceram a simples celebração pouquíssimas
pessoas, como os filhos dos meus padrinhos e os filhos de uns compadres deles.
Cantaram o “Parabéns a você”. E quando cortaram a torta, como era de praxe,
perguntaram para quem seria o primeiro pedaço. Eu não me fiz de rogado: peguei
o pratinho e o ofereci à Luciana, filha dos compadres dos meus padrinhos,
porque, aos meus olhos, ela era a coisa mais linda do mundo naquele momento.
Foi uma decepção geral, porque todos pensavam que eu repassaria o pratinho para
mainha, porque, segundo a tradição, a primeira fatia do bolo o aniversariante
deve oferecer à pessoa mais importante de sua vida, caso ela esteja presente.
Quarenta anos se passaram
desde aquele comecinho de noite. E eis que eu estou aqui hoje, neste 11 de
janeiro, celebrando mais um ano de vida não com toda a pompa e circunstância,
mas com uma inteira consciência de mim. Carregando comigo um sem-número de
alegrias e tristezas, acertos e erros, prazeres e dores, ganhos e perdas,
paixões e desamores e uma porção de outras coisas boas e ruins que alinhavaram
ponto por ponto, numa costura interminável, o tecido de minha vida.
Não me assusta o fato de eu
ter chegado a estes quarenta e cinco anos
sem haver constituído família; sem ter adquirido uma casa para morar;
sem dispor de bens para incluir na declaração do imposto de renda; e ainda
fazendo par com a solidão. Nada disso me assusta e nem consegue sequer fazer
com que eu me sinta um fracasso, como no começo da juventude eu me sentia, tamanha era a pressão em volta “para que tudo desse certo” e eu fosse “bem
sucedido”.
Não sou do tipo que olha
para a vida como quem deve seguir uma receita e/ou uma lista de obrigações que
o viver supostamente exige de cada um para que ele possa ser apontado na rua ou
seja onde for e dele ser dito: aquele sujeito realmente passou pela vida e
viveu, porque é uma pessoa vitoriosa. Como assim?! O que é ser vitorioso na vida?
Muitas, a bem da verdade, a
maioria das, por assim dizer, respostas ao suposto alcance da propagandeada
plenitude da vida, eu consegui dar, felizmente, lá atrás, no tempo dos meus
vinte e poucos anos. Foi naquele período que eu tratei de arrancar de dentro de
mim a imposição e a obrigação dos ideais e anseios ditos coletivos e
universais. E, uma vez tendo conseguido isso, passou a circular bem afastado de
mim esse “modelo de vida perfeita”.
Não me vejo obrigado a casar e muito menos a ter filhos. Não me sinto pressionado a negar a natureza dos meus relacionamentos afetivos e/ou encontros casuais que mantenho e/ou mantive com homens e mulheres. Não me associo a “clubes” e a “grupos” que se apresentam como portadores de toda ética, moralidade, honestidade e virtude que existem. Não me revelo como seguidor de qualquer doutrina que seja. E não me apresento como exemplo e nem como modelo do que quer que exista. E eu busco, isso sim – e é o que de fato me basta -, ser um homem livre na medida do que me é possível sê-lo.
Não me vejo obrigado a casar e muito menos a ter filhos. Não me sinto pressionado a negar a natureza dos meus relacionamentos afetivos e/ou encontros casuais que mantenho e/ou mantive com homens e mulheres. Não me associo a “clubes” e a “grupos” que se apresentam como portadores de toda ética, moralidade, honestidade e virtude que existem. Não me revelo como seguidor de qualquer doutrina que seja. E não me apresento como exemplo e nem como modelo do que quer que exista. E eu busco, isso sim – e é o que de fato me basta -, ser um homem livre na medida do que me é possível sê-lo.
Nestes quarenta e cinco anos
de vida eu quebrei muito a cara. E levei muitas rasteiras. E acreditei em um
monte de bobagens. E parti o coração de algumas pessoas. E chorei pelos
cantos. E abandonei um monte de gente. E me acovardei diante de várias
situações. E agi diversas vezes com desonestidade. E fui ludibriado. E deixei
de acreditar em certos amores que me foram ofertados. E guardei uma porção de
rancores. E me livrei de pensamentos ruins. E aprendi a dizer não.
Certa feita eu escrevi num poema que a minha vida é uma roda-gigante em movimento contínuo. Hoje eu estou completando
quarenta e cinco anos de idade. E espero poder viver durante o tempo que for
suficiente para que eu possa dizer de mim o que eu ainda não sei e/ou não
consigo dizer.
Mas que bela reflexão para nos presentear no dia do seu aniversário! Obrigada! Que continues em "imperfeita mutação", nos inspirando com suas palavras. Abraço!
ResponderExcluirObrigado, querida!Viver é um desafio permanente.
ResponderExcluirmensagem de coragem, superação porque não dizer, força e e principalmente a busca de plena liberdade. Eis aqui a minha singela admiração. E feliz aniversário.levarei para sempre a mensagem de coragem. Raimundo nonato ..... Neguinho
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