29 de outubro de 2022

Não seja uma Cássia Kis

 Por Sierra

 


Imagem: Redes sociais
Não seja uma Cássia Kis: acredite e aposte. numa ideia feliz de país



Esquerda e direita estão em polvorosa no Brasil com talvez nunca tenham estado desde o início da redemocratização. A batalha pela eleição presidencial escancarou o esgoto a céu aberto que movimenta as investidas intestinais dos comitês de campanha que recorrerem a tudo e mais um pouco para aniquilar o opositor, porque o ápice da civilização, segundo o entendimento dos marqueteiros políticos, é exatamente isso; e cada um entra numa batalha com as armas que tem.

É claro que, tal qual em 2018 – só que operando em modo ainda mais turbinado –, o uso das ditas redes sociais, que eu costumo chamar de antissociais, utilizadas como terra de ninguém, exacerbou a proliferação dos ataques aos que disputam o pleito neste ano. Ainda não faço parte desse universo. Ainda. E sei que nem tudo o que cai nessas redes é peixe. Na verdade, não se vê peixe por ali. Em tempos de eleição, o que essas redes de arrasto mais trazem é bandalheira, é escrotice, é mentira. Quem vive preso às redes sociais leva a vida numa espécie de universo paralelo.

Na troca de acusações entre a esquerda e a direita o Cristo que dizem estar ali, coitado, é constantemente crucificado, porque é evocado por pessoas que descaradamente disseminam mentiras e notícias falsas e até cometem crimes de injúria e difamação dizendo que estão agindo assim em nome da fé que professam. Pelos que acompanham os embates entre um e o outro lado, parece que o bem mesmo não existe. E, nessa guerra religiosa, valores ditos cristãos escorrem pela sarjeta como se fossem algo imprestável. É evidente que essas pessoas que recorrem à tal expediente de distorcer e manipular as instâncias da fé não são gente de boa fé; são, isso sim, pessoas que não medem seus atos, que não pensam nas conseqüências de seus abusos e desatinos e que revelam, na verdade, que estão dispostas a tudo e que são capazes de recorrer a qualquer expediente para difundir suas visões de mundo e para defender seus ideais. Nessa batalha religiosa as pessoas parecem não enxergar que estão espezinhando os verdadeiros e sublimes valores da fé que elas dizem professar.

Foram várias as vezes em que eu me vi raivoso e quase perdi as estribeiras escrevendo sobre o panorama político nacional e/ou tentando discutir política. Não é perda de tempo discutir política, como pensam alguns; é um exercício necessário e salutar. O que temos visto ultimamente e, infelizmente, é a discussão, é a defesa de posicionamentos descambarem para ataques físicos que resultaram até em homicídios, o que é o cúmulo da intolerância e da incapacidade de coexistência entre contrários.

As duas coisas que mais me chamaram atenção nesses últimos anos de acirramento violento de disputas políticas, polarizando esquerda e direita, foram: a cegueira de tantos e a disposição de muitos para permanecerem firmes e inabaláveis dentro de suas bolhas de crenças, desancando, distorcendo e negando tudo o que não se enquadre e/ou que não caiba em sua bolha; e o desmascaramento de tantos e quantos que resolveram revelar o que realmente são e o que fundamentalmente pensam aderindo e defendendo pautas que para o senso comum das pessoas realmente esclarecidas soam absurdas, retrógradas, obscurantistas e até criminosas, como se defender isso e se posicionar a favor disso, fosse pensar no bem comum.

Seguindo o mesmo torpe caminho de Regina Duarte, Cássia Kis resolveu também ela aderir às forças e às ideias do atraso, escrevendo em redes sociais e falando à imprensa barbaridades como ataques a homossexuais. Cássia Kis, uma das grandes atrizes da teledramaturgia nacional, uma senhora sexagenária que já viu muita coisa na vida, resolveu apoiar e defender um candidato à presidência da República que ataca incansavelmente as instituições, que faz pronunciamentos misóginos e homofóbicos e que defende o armamento da população, entre outras barbaridades. Como assim, Cássia Kis? Quer dizer que as minorias não têm serventia e nem são cidadãos merecedores de respeito? Quer dizer que você assina embaixo de tudo o que o inominável fala e faz? Cássia Kis, talentosa Cássia Kis, a sociedade é algo muito mais amplo e complexo do que você provavelmente pensa que ela é. E é uma lástima, uma grande lástima constatar que você tenha chegado a esta altura de sua vida apoiando uma ideia onde uns indivíduos devem ser vistos como anomalias e como quaisquer outras coisas e não como gente por causa da sexualidade que vivenciam. Eu compreendo perfeitamente que “pintou um clima” entre vocês dois, porque, o que eu já vivi nestes meus 48 anos de idade, me fizeram crer que, por mais que, às vezes, demore, quase sempre alguém encontra aquele ou aquela que lhe merece.

Eu vou amanhã novamente sair de casa de peito e de coração abertos e convicto, inteiramente convicto, de que farei a escolha certa votando no candidato Luiz Inácio Lula da Silva, o “menos pior”, o “mal menor”, como uns e outros têm dito por aí. Eu vou votar novamente em Lula contra todos os demônios, contra todos os bibelôs de trogloditas e contra todos os eczemas que estão espalhados pelo Brasil afora.

Leitor não seja uma Cássia Kis: acredite e aposte numa ideia feliz de país.

Um comentário:

  1. Antigamente os gregos discutiam política e isso era pra poucos. Atualmente muitos se degladiam cada um com sua convicção; É Deus a cima de tudo, é favor a democracia, outros de boca fechada. A arrogância das igrejas que esqueceram de pregar o Cristo e hj prega o mito. Quanta hipocrisia.

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