Por Sierra
Quem acompanha o que eu tenho
registrado aqui a respeito desse verdadeiro monstrengo de concreto armado que é
o Hotel Tambaú, edificado em plena faixa de areia da orla praieira paraibana ao
custo certamente do atropelo de leis e de sabe-se lá mais o quê. E eu continuo
defendendo que a Prefeitura Municipal de João Pessoa e a Superintendência do
Patrimônio da União fariam um grande bem à população em geral e se redimiriam
do absurdo que foi ter liberado a construção daquela coisa ali, caso a
demolissem e a devolvessem ao gozo do público a extensa faixa de areia da
praia, a enorme paisagem natural que ele deformou ao ocupá-la.
Passei alguns dias do último
mês de novembro na capital paraibana, cidade que ainda me atrai pelo que nela é
motivo de interesse principalmente intelectual para mim, como suas instituições
culturais e o seu patrimônio histórico edificado situado no bairro do Varadouro
e adjacências. Voltei a João Pessoa e me deparei com o Hotel Tambaú todo
cercado por um tapume do grupo AMPAR Hotelaria de Participações Ltda; e exibindo,
num ponto e noutro, placas que informavam que estavam realizando “recuperação
estrutural emergencial”.
Trata-se, é evidente, de
mais uma tentativa de ressuscitar um incômodo cadáver que já havia sido
desapropriado pelo prefeito Cícero Lucena depois que o prédio passou anos
fechado e num longo lenga-lenga de leilões enquanto acumulava dívidas
volumosas. Eu na minha humilde opinião, opinião que, aliás, não vale nada, não
concordara com o ato de desapropriação efetivado pela Municipalidade, porque,
trazer para as costas do povo o custo de manutenção de um prédio e de seu
entorno – quadras, estacionamento, etc. – era mais um absurdo na lista de
absurdos que se amontoam na história da liberação e da construção do dito
hotel.
Noto que, aqui e ali, uns e
outros ficam vendendo a falsa ideia de que aquele incômodo de concreto armado é
o “principal cartão-postal da cidade”. Mentira, mentira, mentira... Três,
quatro, cinco, inúmeras vezes mentira. Eu e tantos outros turistas que eu já
ouvi consideram aquela construção algo inteiramente inadequado, porque subtraiu
do banhista e do praieiro uma enorme área de convívio social e de
aproveitamento da praia como espaço de lazer público. E as reclamações agora só
aumentaram por conta da cerca que puseram à beira-mar, dificultando um pouco
mais a passagem por ali quando da alta da maré.
O Hotel Tambaú, isso é
evidente para qualquer que tenha um mínimo de consciência e de conhecimento de
leis sobre uso e ocupação do solo, é uma edificação que como se não bastasse o
fato de estar monstruosa e desavergonhadamente ocupando uma área da União – e
sabe-se lá a que custo os seus planejadores conseguiram o aval e a liberação
para construí-la -, oferecia um serviço de hospedagem que estava ao alcance de
alguns poucos financeiramente privilegiados; e, agora, como tem sido anunciado
pelo grupo que está à frente das obras de reestruturação do prédio e dos
equipamentos de seu entorno, o caráter de exclusivismo só vai aumentar, porque,
segundo eu li, a ideia em voga é de torná-lo um hotel mais requintado etc. e
tal.
Num daqueles dias de
novembro mais uma vez eu me atribuí a tarefa de dar uma volta ao redor do
tapume e da cerca para fotografar alguns nacos do Hotel Tambaú para ilustrar
esta narrativa. Eu já disse noutra ocasião e vou repetir aqui: sempre me causa
desconforto e até me irrita caminhar pela orla de João Pessoa e me deparar com
aquilo lá, porque sua permanência é acintosa, é vergonhosa, é ultrajante é, em
uma palavra, absurda. Ouso até dizer que, sim, ele é o “principal cartão-postal”
da cidade, mas de uma lista que reúna os cartões-postais negativos, os
cartões-postais os quais não se deve visitar, os cartões-postais que integram o
conjunto que as agências de viagens recomendam que deles o turista deve manter
distância.
Aposto que todo esse
movimento de reestruturação do Hotel Tambaú, ora em curso, visando ao retorno
do seu pleno funcionamento resultará em um novo fracasso e em nova perda de
dinheiro, de muito dinheiro. Não é pouco o que se gasta para conseguir
conservar uma estrutura de concreto que diuturnamente sofre com a ação das
ondas e da maresia, que tudo de alguma maneira impacta, como é bem sabido. E,
caso a expectativa de ocupação não seja alcançada e o negócio se revelar outra
vez um investimento furado, nós assistiremos novamente ao fechamento do hotel
pelo acúmulo de dívidas e por falta de entendimento de que ele é algo fadado ao
fracasso que nenhuma política de beneficiamento público, como isenção fiscal e
outras coisas do gênero, poderão salvar.
O mais fiel e duradouro
hóspede do Hotel Tambaú foi o tempo: o tempo que quase tudo corrói; o tempo que
ignora maracutaias; o tempo que se sobrepõe às infrações cometidas contra as
leis; o tempo que nada sabe de desigualdades sociais; o tempo que por vezes
derruba as aparentemente inabaláveis estruturas; o tempo que é insensível e
impiedoso; o tempo que, enfim, e no devido tempo, sempre e sempre cobra de
algum modo a sua fatura.
Gosto muito desse seu olha pro quanto os governantes tratam suas referências estaduais. Vc faria isso com o quanto restou do peixe boi no Forte Orange?
ResponderExcluirNão é a mesma coisa. A estrutura do Projeto Peixe-boi era harmoniosa com o ambiente e não atrapalhava o caminhante nem tampouco o banhista. O que ocorreu foi que o avanço do mar atingiu o complexo. Quem o concebeu, infelizmente, não pensou na dinâmica marinha
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