Por Sierra
Especialmente para André Araújo, o Bebê, folião que já se fantasiou até de Smurf e que aniversaria hoje
No Carnaval deste ano eu fui inteiramente contagiado pelo samba enredo da Escola Mocidade Independente de Padre Miguel. "Prepare o seu coração/ Vem aí a escola da emoção/ Vem aí...". Esta introdução era e é por si mesma uma alegria. Aí vinha um José Paulo Sierra - um Sierra, um xará - esfuziante e vibrante comandando o canto e chamando a bateria de Mestre Dudu. Foi maravilhoso isso. "Meu caju, meu cajueiro/ Pede um cheiro que eu dou...". Cantei a valer cheio de entusiasmo. A Mocidade não ganhou o desfile, mas ganhou, informalmente, escolhida pelo grande público, a certeza de que apresentou, na quarentona Marquês de Sapucaí, um samba enredo que caiu na boca do povo como há muito não se via. Foi arretado demais isso.
![]() |
Primeiro dia no Largo do Amparo: alegria, alegria. Oba! |
A princípio eu estava borocoxô e sem disposição para sair, pegar os busões da vida e ir curtir o Carnaval nas ladeiras de Olinda e no Bairro do Recife. No domingo eu fiquei em casa chocando os ovos ao mesmo tempo em que dava conta da feitura de um texto e acompanhava a folia pela TV e pelo telefone celular. Mas no dia seguinte. Ah, meu nego, ah, minha nega, no dia seguinte não teve borocoxô certo: eu almocei, me aprontei e caí no meio do mundo, porque sete vidas quem tem é gato.
![]() |
Eu no meio do Bloco Quase Que Não Sai na Rua do Amparo |
Peguei dois ônibus para chegar a Olinda já decidido a só ficar por ali mesmo e não ir ao Recife. Não tive problemas com os busões. Pelo contrário. Foi tudo tranquilo. Não peguei nem ônibus cheio.
![]() |
Muita gente subindo e descendo ladeira, porque Seu Rei mandou dizer que quem não gosta do Carnaval de Olinda vai para outro lugar... |
![]() |
... Não foi, Dona Florinda? |
Como eu tenho feito nos últimos anos, quando vou sozinho para o Carnaval de Olinda, eu adentro o sítio histórico e o espaço da folia pelo Largo do Amparo. Olinda possui vários pontos marcantes no que diz respeito aos festejos de Momo - Quatro Cantos, Rua de São Bento, Rua do Amparo, etc. - e o Largo do Amparo é certamente um deles, porque, além de ser um espaço que fica pertinho da sede do Clube Carnavalesco Vassourinhas, é o lugar por onde passam muitos blocos e troças, o Homem da Meia Noite e outros gigantes da festa.
![]() |
Com a turma do Grupo Grheia: pense num divertimento bom da gota! |
Seguindo em direção ao Largo do Amparo, na Rua Nossa Senhora de Guadalupe, eu toquei o sino dos que já levaram gaia na vida. Ri o riso bom dos que entram logo no clima da irreverência. E me detive por um tempo ali, no adro da Igreja de Nossa Senhora do Amparo, cantando e dançando junto a uma pequena orquestra que estava animando o povo.
Daí a pouco eu segui o Bloco Quase Que Não Sai, que tomou a direção da Rua do Amparo. Pense numa coisa boa que é se deixar levar pela alegria e pela euforia estando onde se quer e como se quer.
![]() |
Meu segundo dia no Carnaval de Olinda: de novo começando pelo Largo do Amparo |
Dali eu me dirigi até o Alto da Sé. E, junto ao Observatório Astronômico, eu me deparei com uma turma danada que cantava e dançava na maior zorra, acompanhada por uma plateia para lá de entusiasmada à qual eu tratei logo de me integrar, que eu não sou besta. Era o Grupo Grheia ( Grupo Recreativo Hedonista Irreverente de Amigos Percussivos Alto da Sé), que estava ali. Gente, como foi divertido cantar e dançar celebrando Reginaldo Rossi e outros cantores marcantes do brega . E teve mais do que isso, visse? Lá pelas tantas nós entoamos até um "Sem anistia!" para lembrar que nós esperamos que a Justiça não dê nenhuma colher de chá ao traste do Jair Bolsonaro.
Mantendo o pique e caminhando por entre milhares de foliões, eu fui curtir uma parte do show do Siba, no Polo Erasto Vasconcelos, na Praça do Carmo. E assim eu preenchi o meu primeiro dia de aproveitamento do Carnaval.
No dia seguinte, na chamada Terça-feira Gorda, lá fui eu novamente me acabar no sobe e desce das ladeiras de Olinda. Ufa! O negócio é bom, mas cansa que só, visse?! Cansa e mesmo assim quem gosta do negócio não quer arredar o pé da agitação e nem sair do meio da multidão.
Ainda mais do que no dia anterior, eu me demorei no Largo no Amparo. Estava tão bom ali. A mesma orquestra da segunda-feira marcou presença e pôs todo mundo que a cercou para cantar e dançar. Mascarados. Caras limpas. Homem. Mulher. Uns já turbinados, cheios de álcool. Outros fumando um baseadozinho. Nada como o prazer, não é? Nada mesmo.
![]() |
Na concentração à espera da saída da Troça Carnavalesca Ceroula: foi bom que só! |
Andando que só a má notícia eu tomei o rumo da Praça do Jacaré, passando pelo Alto da Sé e descendo pela Ladeira de São Francisco para ficar na concentração, esperando pela saída da Troça Carnavalesca Ceroula. Uma multidão acompanhou a troça que celebrou esse mestre de todos nós que é o educador Paulo Freire.
Depois disso, eu fui prestigiar a muitíssimo boa e empolgante apresentação da banda Mestre Ambrósio, um dos grandes nomes da cena e do Movimento Manguebeat, na Praça do Carmo. Foi muito massa.
E assim eu cumpri a minha breve agenda de folião e súdito do rei Momo, tendo consciência de que o bom, o muito bom de toda e qualquer festa é a festa interior que ela provoca dentro da gente, pondo em ebulição uma variedade de sensações e sentimentos.
Enquanto isso, lá na Bahia, Baby do Brasil resolveu bancar a profetisa e anunciar o fim do mundo. Poxa, Baby do Brasil querida, apocalipse numa hora dessa não dá, mulher. Deixa esse apocalipse para lá porque o bom da vida pode começar e recomeçar, é só querer. Aproveita, visse?!
Sinto-me completamente lisonjeado pela homenagem, saudoso e até um pouco melancólico por não estar em Recife / Olinda por estes dias, e feliz em saber que o Rei Momo continua encantando seus súditos. Até aqueles mais rabugentos!!
ResponderExcluirAh, daqui do Rio também cantei a plenos pulmões: "Meu caju, meu cajueiro Pede um cheiro que eu dou O puro suco do fruto do meu amor..."
Beijos, Sierra!