2 de janeiro de 2012

Personas urbanas (6)

Por Clênio Sierra de Alcântara


"[...] Vem e me abrace forte
  Não me deixe à sorte nunca, nunca mais [...]".
                               Reencontro. Nenéo/Ivan Reis



Especialmente para Daniel Piza
que se foi tão bonito, tão talentoso e tão jovem.



Abraço. Assim como há aperto de mão e apertos de mão, há abraço e abraços. Não se trata de mera distinção. Trata-se de identificar aquilo que é mais intenso nesses atos do convívio social. Algumas pessoas pegam na mão de outra  sem firmeza; enquanto que certos indivíduos parecem transmitir num aperto de mão o vigor todo de sua pessoa. Da mesma forma, um abraço de verdade não é aquele que é dado rapidinho, com tapinhas nas costas; é aquele demorado, em que a gente chega a sentir no corpo do outro um lugar de fortaleza, um lugar que parece nos recompor com sua energia.

Deve existir todo um tratado em torno da natureza do abraço. Abraço de despedida. Abraço de reencontro. Abraço de paixão. Abraço de reconciliação. Abraço de saudação. Abraço de traição. Abraço de afogado. Abraço de salvação. Abraço de aflição. Abraço de camaradagem. Abraço de amizade. Abraço de pais. Abraço de irmãos. Abraço de compaixão. Abraço de falsidade. Abraço de alegria. Abraço de medo. Abraço de vitória. Abraço de derrota. Abraço de alívio. Abraço de desassossego. Abraço de reconforto.

Vez por outra eu leio aqui e ali que pessoas  rodam o mundo tão-somente para dar abraços. Agora mesmo, tomei conhecimento de que indivíduos saíram às ruas, na Noruega, para oferecer abraços àqueles que se sentiram profundamente abalados pelo massacre perpetrado por um esquizofrênico no ano passado. À primeira vista pode soar absurdo que alguém saia por aí disposto a distribuir abraços como forma de conforto. Mas o leitor há de concordar que existem pessoas tão retraídas e tão avessas a qualquer contato físico, que a ideia de um abraço pode oferecer algo de muito íntimo, desafiador e até constrangedor para elas; daí por que a oferta de um abraço por vezes toma um caráter de rompedor de muralhas de indiferença e de enclausuramento.

Adoro dar abraços. Um abraço sincero e afetuoso é, para mim, algo de muito revigorante. É no abraço acolhedor que eu enxergo a demonstração maior de humanidade. Definitivamente, para mim, abraço é abrigo.

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