Sou defensor da ideia de que toda cidade brasileira deveria possuir, no mínimo, uma biblioteca pública e um museu. Equipamentos urbanos que gozam de grande prestígio nos países ditos desenvolvidos, bibliotecas e museus são, de modo geral, instituições relegadas a segundo plano, no Brasil, como se elas não representassem, também, o nível cultural dos seus cidadãos; e esse desprezo não parte tão-somente da administração pública, mas também da própria população, que não frequenta com grande assiduidade as poucas que existem.
Fotos: Ernani Neves |
E o que dizer de nossos museus? Quem os frequenta com assiduidade percebe que o fluxo de visitantes não é grande. Talvez o nível educacional da população diga muito a respeito dessa situação. Há uma expressão que revela essa indiferença do cidadão comum para com os museus: quando alguém quer dizer que certo lugar ou evento contava com pouca ou quase nenhuma pessoa, diz que "aquilo estava parecendo com um museu".
Penso que toda cidade deveria possuir um museu que pudesse guardar registros de sua história; que pudesse dar guarida a peças daquele artesão que mora no bairro afastado; que exibisse fotos de diferentes épocas, mostrando a evolução urbana do município; que expusesse objetos, trajes e toda sorte de instrumentos de trabalho da gente da terra. Há quem pense que os museus são lugares mortos; e, no entanto, eles são um dos espaços mais vivos que uma cidade pode apresentar, porque tudo o que atravessa o tempo é algo que se mantém vivíssimo, porque interliga épocas. Os museus são casas de memória que documentam como os nossos antepassados viviam, delineando a escala do que foi feito para que chegássemos até aqui. "É quase infinita a diversidade de testemunhos históricos", bem disse o eminente historiador francês Marc Bloch no seu Introdução à História. Ainda segundo ele "Tudo quanto o homem diz ou escreve, tudo quanto fabrica, tudo em que toca, pode e deve informar a seu respeito".
Num artigo publicado na Revista do Serviço Público (Rio de Janeiro, vol. 94, nº 3, p. 99-108, julho/setembro de 1962), intitulado "Importância da biblioteca nos programas de alfabetização e educação de base", Edson Nery da Fonseca foi enfático: "Não podemos compreender campanhas de alfabetização e educação de base sem uma rede de bibliotecas que lhes assegure permanência". Já a respeito da importância dos museus para a sociedade é do antropólogo e museólogo - e também meu amigo - Raul Lody esta sentença esclarecedora: "O museu valoriza as singularidades de um grupo, de uma região, de uma comunidade [...] é um espaço de educação, de lazer e com forte vocação turística". Entendidos desta forma, as bibliotecas - públicas e escolares - e os museus são instituições de suma importância para o enriquecimento e a preservação cultural de uma cidade e de sua população na medida em que eles são guardiões e propagadores de conhecimento.
Escrevendo este artigo eu me lembrei de uma das recomendações de Baltasar Gracián que aparece em A arte da prudência: "Aqueles que não puderem ter a sabedoria como serva devem tê-la ao menos como companheira".
(Artigo publicado também in: O Monitor [Garanhuns], janeiro de 2012, Opinião, p. 2).
(Artigo publicado também in: O Monitor [Garanhuns], janeiro de 2012, Opinião, p. 2).
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