Por Clênio Sierra de
Alcântara
Quanto vale uma vida humana?
Há quem diga que tal vida não tem preço. Mas para o jovem Jhonatan de Sousa Silva,
natural de Xinguara, no Pará, ela pode valer entre R$ 5.000,00 e R$ 100.000,00.
Jhonatan é um matador profissional; e tendo apenas 24 anos de idade, já tirou a
vida de 49 pessoas. Isso mesmo: 49 pessoas! A naturalidade com que ele desempenha
sua profissão é tamanha porque ele a exerce desde a mais tenra idade; imaginem
que ele estreou nesse ramo quando tinha somente 14 anos. Basta pagar que ele
vai lá e pá, atira no indivíduo. E caso seja do desejo do cliente, além de
abater com tiros, ele ainda corta as cabeças dos marcados para morrer. Jhonatan
é um prodígio. “Ninguém morre de graça”, ele costuma dizer. E, com o perdão do
trocadilho, não é de graça mesmo.
Para aqueles muito
fervorosos que dizem que nada acontece na face da Terra sem o consentimento de
um certo Todo-poderoso, Jhonatan, o fenômeno, afirma que é temente a Deus; e
que reza todas as noites pedindo proteção para si, para os pais e os irmãos,
para os dois filhos pequenos e para a namorada. Jhonatan é mesmo um assombro.
Num país onde pululam
Pimentas Neves e no qual a impunidade é quase regra e não exceção, a atuação de
um matador profissional com o potencial desse Jhonatan não choca a opinião
pública e menos ainda as autoridades policiais e judiciárias. E não choca por
quê? Ora, não são como Jhonatan que agem os inúmeros grupos de extermínio
espalhados por este país afora? Não são inúmeros Jhonatans que fazem com que um
estado como Alagoas ostente o desonroso título de lugar onde mais se cometem
homicídios no Brasil? Não são Jhonatans as centenas de foragidos acusados de
crimes de assassinato que as polícias não conseguem prender?
A escalada desse tipo de
crime só faz aumentar em várias regiões do país, e o Estado continua apregoando
uma justiça branda, uma justiça que acredita que pode transformar um homicida
em cidadão de bem, destinando a ele um regime de progressão de pena e a
maravilha de um regime semiaberto. Desde 2005 o país apresenta uma média de 26
brasileiros mortos por ano entre cada 100.000 habitantes, e o Estado permanece
incapaz de efetivamente localizar e prender assassinos como esse jovem
Jhonatan.
Quando tomei conhecimento do
caso Jhonatan senti uma revolta indescritível. Jhonatan me pareceu ser a
síntese deste país retrógrado, que insiste em se apresentar para o resto do
mundo como nação progressista. Não dá para aceitar que alguém consiga dar cabo
da vida de tantas pessoas sem ser detido pelas autoridades policiais. O que é
isso, minha gente?! Até quando manteremos a cabeça baixa diante deste estado de
coisas? Afinal de contas, para que servem as delegacias de polícia? Para
intimidar os cidadãos corretos? Para fazer de conta que existe ordem neste
país? O que mais me revolta é saber que existem muitos outros Jhonatans soltos
por aí; e que eu e você, que agora me lê, podemos ter nossas vidas ceifadas por
essas criaturas monstruosas.
Eu cometi um erro crasso
quando, em artigo enfocando outras barbaridades ocorridas no estado natal da
minha querida Jane Duboc, eu escrevi que o Pará é uma terra de ninguém. Eu
errei porque não é só o Pará que é uma terra de ninguém: Pernambuco é uma terra
de ninguém; Alagoas é uma terra de ninguém; o Rio de Janeiro é uma terra de
ninguém; isso porque, meus camaradas, o Brasil é, todo ele, uma terra de
ninguém.
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