Por Clênio Sierra de Alcântara
“Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta”.
Motivo. Cecília Meireles.
Na noite da última segunda-feira o Auditório Mauro Mota, da Academia Pernambucana de Letras, estava todo ele repleto de uma radiante alegria e de uma forte emoção. Isso porque esse templo da cultura pernambucana prestava uma justa homenagem a uma senhora simpaticíssima, bonachona e muito talentosa: Myriam Brindeiro.
Tive a honra de conhecer Myryam Brindeiro, tempos atrás, no Espaço Pasárgada, na ocasião em que ela lançou o cd Myriam Brindeiro canta Manuel Bandeira. Quem ainda não o ouviu, trate de ouvi-lo. Myriam é poetisa de imensa sensibilidade; e compositora refinada que mergulha nas entrelinhas dos versos alheios – além de Bandeira, ela também musicou produções, entre outros, de Carlos Pena Filho e de Alberto da Cunha Melo – para torná-los peças musicais que são puro deleite. De posse de seu violão a doce Myriam Brindeiro – ela é danada: possui canções próprias, com letra e música, que são encantadoras – parece alcançar o apogeu de sua existência, como se a música ditasse o compasso dos seus batimentos cardíacos: Myriam é uma ave canora.
Quando Myriam me ligou, há algumas semanas, convidando a mim e a Edson Nery da Fonseca para tomarmos parte em tal evento – infelizmente o meu querido João Altão não pôde comparecer por causa de problemas de saúde -, eu vibrei, não só pela lembrança que ela teve de minha pessoa, mas, sobretudo, porque eu estava ciente de que, ao marcar o compromisso na agenda, eu garantia por antecipação momentos de grande satisfação.
Os congestionamentos enlouquecedores do trânsito do Recife impediram que eu chegasse à Academia Pernambucana de Letras a tempo - o evento fora marcado para ter início às 19:30h – de prestigiar a abertura da noite festiva. Felizmente ainda pude ouvir boa parte da saudação feita por Melquíades Montenegro à homenageada, que estava elegantemente trajando um longo vestido preto; e, na cabeça, “um chapeuzinho que eu comprei no São João da Rua da Alegria”.
Logo após o pronunciamento do Melquíades, tiveram início as apresentações musicais – nada mais apropriado para uma noite que celebrava uma poetisa-cantora-compositora. Primeiro subiram ao palco as “meninas” do coral da União Brasileira de Escritores, seção de Pernambuco, do qual Myriam faz parte; elas entoaram “Moleque olindense" e “Ladeiras de Olinda”, de autoria da própria homenageada, e “Eu sei que vou te amar”. Em seguida, a maestrina e violinista Rubi Jean nos apresentou a linda “Hino ao amor”. Por sua vez, a pianista Carmem Lúcia Amorim, da Academia Pernambucana de Música, tocou a peça “Le petit négre”, de Claude Debussy. E, por último, cantou o Paulo Viola.
Terminados os números musicais vieram as homenagens em forma de depoimentos; e nenhum deles foi mais emocionante do que o do Guilherme, um sobrinho-enteado da Myriam – confesso que chorei enquanto o ouvia.
Depois de ouvirmos as palavras finais da estrela principal da noite, todos nós nos dirigimos ao pátio para provarmos dos petiscos e dos sucos. Antes disso, eu subi ao palco; parabenizei a Myriam, levando em meus braços, o abraço que lhe fora enviado por seu amigo de longa data Edson Nery da Fonseca que muito lhe preza e admira.
Noite musical. Noite de lágrimas. Noite de celebração. Noite de alegria. Noite de Myriam Brindeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário