30 de julho de 2012

Retornando a Goiana


Por Clênio Sierra de Alcântara


Fotos: Ernani Neves


Situada na Zona da Mata Norte pernambucana, a cidade de Goiana guarda para os seus visitantes e moradores monumentos históricos que dizem muito da grande importância econômica que ela tinha como um dos mais ricos e movimentados municípios de Pernambuco durante pelo menos até o Período Imperial.







Construída sobre um terreno quase todo plano – estou falando de sua área central, onde estão instalados os órgãos administrativos e os edifícios mais antigos, entre os quais se destacam igrejas seculares, como a Igreja de Nossa  Senhora do Amparo dos Homens Pardos e a Igreja de Santa Tereza -, a cidade cresceu apoiada no cultivo da cana de açúcar; ainda hoje, em que pese o variado e vigoroso comércio e a instalação de indústrias variadas, a área urbana continua cercada por um luxuriante e vasto canavial. É algo muito bonito de se ver, sobretudo nesta época em que o imenso tapete verde apresenta pendões esbranquiçados que balançam ao sabor dos ventos, nos convidando para ir conhecer o Engenho Uruaé.




Percorrer a área histórica de Goiana é dar de cara com um espaço que difere bastante daquela lógica da ocupação portuguesa, uma vez que aí o colonizador não encontrou morros e nem precisou construir fortalezas, ou seja, um sistema de defesa contra invasores, porque, além de tudo, sua zona costeira fica bem distante do centro administrativo.






Muito embora várias casas residenciais tenham perdido os aspectos que caracterizavam as fachadas de séculos atrás, pode-se perceber nos edifícios conjugados, aqui e ali, o ar de passado que todo visitante espera encontrar em cidades que possuem acervo arquitetônico histórico. Particularmente eu gosto de caminhar por esses lugares imaginando cenas e situações, buscando compreender como os habitantes de tempos idos interagiam com determinados espaços. Para mim isso é um exercício instigante porque ele me permite estabelecer comparações com usos e dinâmicas de outros territórios que visitei; e me permite também ver in loco paisagens urbanas descritas como cenários de acontecimentos em vários livros. Recordo, só para ficar num exemplo, que eu cheguei a me emocionar quando dei conta que estava atravessando logradouros outrora percorridos - no século XIX - por esse assombro de mulher que foi Nísia Floresta.














Não, o sítio histórico de Goiana não é um espaço onde as coisas estão todas nos seus lugares. Como ocorre em muitos outros municípios brasileiros que abrigam patrimônios históricos, ali também se encontram deficiências lamentavelmente gritantes. Faz um tempo danado que a Igreja da Misericórdia aguarda ser restaurada; a praça defronte ao conjunto carmelita desde há muito está precisando ser revitalizada; algumas construções estão abandonadas. Afora isso, nunca é demais dizer que, infelizmente, as nossas cidades sofrem com a imundície generalizada; o lixo se espalha por algumas ruas enfeiando tudo.







Sempre que vou a Goiana eu percebo que encontro nela algo novo. Desta feita eu atravessei um trecho da área marginal do Rio Goiana e vi a cidade por outro ângulo. Apraz-me acreditar que muita coisa parece estar sendo preparada para durar ainda mais alguns séculos. E cada passeio de descobertas é como que um motivo para continuar a exploração do território.





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