Por Clênio Sierra de Alcântara
Situada na Zona da Mata Norte pernambucana,
a cidade de Goiana guarda para os seus visitantes e moradores monumentos
históricos que dizem muito da grande importância econômica que ela tinha como
um dos mais ricos e movimentados municípios de Pernambuco durante pelo menos até o Período Imperial.
Construída sobre um terreno quase todo
plano – estou falando de sua área central, onde estão instalados os órgãos
administrativos e os edifícios mais antigos, entre os quais se destacam igrejas
seculares, como a Igreja de Nossa Senhora do Amparo dos Homens Pardos e a Igreja de Santa Tereza -, a cidade cresceu apoiada no cultivo da
cana de açúcar; ainda hoje, em que pese o variado e vigoroso comércio e a
instalação de indústrias variadas, a área urbana continua cercada por um
luxuriante e vasto canavial. É algo muito bonito de se ver, sobretudo nesta
época em que o imenso tapete verde apresenta pendões esbranquiçados que
balançam ao sabor dos ventos, nos convidando para ir conhecer o Engenho Uruaé.
Percorrer a área histórica de Goiana é dar
de cara com um espaço que difere bastante daquela lógica da ocupação
portuguesa, uma vez que aí o colonizador não encontrou morros e nem precisou
construir fortalezas, ou seja, um sistema de defesa contra invasores, porque,
além de tudo, sua zona costeira fica bem distante do centro administrativo.
Muito embora várias casas residenciais
tenham perdido os aspectos que caracterizavam as fachadas de séculos atrás,
pode-se perceber nos edifícios conjugados, aqui e ali, o ar de passado que todo
visitante espera encontrar em cidades que possuem acervo arquitetônico
histórico. Particularmente eu gosto de caminhar por esses lugares imaginando
cenas e situações, buscando compreender como os habitantes de tempos idos
interagiam com determinados espaços. Para mim isso é um exercício instigante
porque ele me permite estabelecer comparações com usos e dinâmicas de outros
territórios que visitei; e me permite também ver in loco paisagens urbanas descritas como cenários de acontecimentos
em vários livros. Recordo, só para ficar num exemplo, que eu cheguei a me emocionar
quando dei conta que estava atravessando logradouros outrora percorridos - no século XIX - por
esse assombro de mulher que foi Nísia Floresta.
Não, o sítio histórico de Goiana não é um
espaço onde as coisas estão todas nos seus lugares. Como ocorre em muitos
outros municípios brasileiros que abrigam patrimônios históricos, ali também se
encontram deficiências lamentavelmente gritantes. Faz um tempo danado que a
Igreja da Misericórdia aguarda ser restaurada; a
praça defronte ao conjunto carmelita desde há muito está precisando ser
revitalizada; algumas construções estão abandonadas. Afora isso, nunca é demais dizer que, infelizmente, as
nossas cidades sofrem com a imundície generalizada; o lixo se espalha por algumas
ruas enfeiando tudo.
Sempre que vou a Goiana eu percebo que
encontro nela algo novo. Desta feita eu atravessei um trecho da área marginal
do Rio Goiana e vi a cidade por outro
ângulo. Apraz-me acreditar que muita coisa parece estar sendo preparada para
durar ainda mais alguns séculos. E cada passeio de descobertas é como que um
motivo para continuar a exploração do território.
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