4 de outubro de 2012

A requalificação da Praça Antônio Vitalino

Por Clênio Sierra de Alcântara

Fotos: Arquivo do Autor
Ao ver a área da praça completamente desocupada de seus feirantes eu, de pronto, senti como que a cidade tivesse perdido parte importante de sua história socioeconômica



Um dos cenários mais presentes – e marcantes – nas lembranças de minha infância, a Praça Antônio Vitalino, no centro da cidade de Abreu e Lima, em Pernambuco, abrigou durante décadas uma imensa feira livre que era referência em toda a Região Metropolitana do Recife, conforme eu narrei noutro artigo deste blog, que integra a série “Feiras livres”.











Na última quinta-feira, ao desembarcar com minha avó Maria da Conceição em solo abreulimense, fui surpreendido pela visão da praça vazia, sem acomodar um banco sequer de feirante. Confesso que nesse momento eu fui tomado por um misto de satisfação e nostalgia. Satisfação porque eu estava presenciando algo que desejara havia anos e chegara mesmo a pensar que nunca fosse acontecer, dado o descaso de várias administrações municipais para com os absurdos que inúmeros feirantes vinham praticando na área, como por exemplo, chumbar barracas no piso, ocupando de maneira irregular o espaço. E nostalgia porque foi nesse cenário, quer percorrendo a feira, quer aproveitando os brinquedos dos parques de diversões que nele se instalavam, que eu vivenciei, no tempo de criança, grandes alegrias e descobertas.







Embora para muitos comerciantes – tanto para os feirantes quanto para os proprietários dos estabelecimentos que ocupam os prédios que circundam a praça/pátio – tenha sido um verdadeiro baque nas vendas a transferência da feira livre para o bairro de Timbó, o fato indiscutível é que, do jeito que as coisas estavam não podiam mais continuar. Não se pode dizer que os comerciantes foram pegos de surpresa, porque o projeto de construção do novo pátio vinha se arrastando há mais de dez anos; as obras foram paralisadas em alguns momentos, mas sabia-se que a realocação iria ocorrer mais cedo ou mais tarde tão logo elas fossem concluídas. Por outro lado sejamos novamente francos: o novo espaço, com todos aqueles boxes, está mais para um mercadão do que para uma feira livre.




De verdade eu não queria que a feira livre fosse transferida para outra área, como ocorreu, porque seu espaço anterior constituía parte da identidade não só dela, mas também da própria cidade; existia uma simbiose entre a praça e a feira que se entranhou na memória urbana e social de Abreu e Lima. O problema era que, assim como se deu com o mercado público instalado na entrada da praça, o local foi sendo ocupado pelos feirantes de uma forma completamente diferente da que se verificava em décadas passadas. Enquanto o mercado, que era uma edificação com várias entradas inteiramente livres para a circulação de pessoas, foi pouco a pouco tendo suas paredes externas ocupadas por boxes construídos sem um mínimo de respeito para com a planta original do prédio, o pátio da feira livre passou a ser em quase sua totalidade ocupado por comerciantes de maneira fixa, durante toda a semana,  e não só com bancos de madeira, como também com barracas horrendas que, entre outros produtos, ofereciam refeições com condições mínimas de higiene, uma vez que tais barracas não possuíam água encanada para a lavagem dos utensílios.


Nesta e nas fotografias que se seguem podemos ver imagens da chamada nova feira livre de Abreu e Lima




Há trinta anos a dinâmica era a seguinte: ao término da feira – em princípio ela ocorria aos domingos, depois, passou a acontecer aos sábados – todos os bancos eram retirados do pátio, deixando a praça completamente livre para a realização de eventos de qualquer natureza, como comícios, shows e festividades religiosas. Os leitores da minha geração certamente recordarão que, num tempo em que a televisão não era um artigo presente na maioria das casas, como é hoje, algumas Prefeituras instalavam pelo menos um televisor - geralmente em sua praça principal - ao ar livre; e era um acontecimento, porque defronte a ele logo se reunia uma pequena multidão. É ainda muito clara na minha memória a noite em que eu assisti, lá na Praça Antônio Vitalino, a um filme do Godzilla. Caso essa dinâmica do ocupa/desocupa tivesse sido mantida, creio que a feira livre permaneceria acontecendo nessa praça.








Abreu e Lima é uma cidade carente de praças e áreas de lazer. A Praça Antônio Vitalino é a maior e mais central das poucas que existem nesse município. Sob essa ótica, a retirada da feira – espera-se que o espaço seja realmente requalificado de modo que resgate também o mercado público que, ouço dizer, querem transformar em um mercado de artesanato, o que seria muito apropriado – da praça/pátio foi uma das iniciativas mais bem acertadas da Municipalidade, porque o local voltou a receber o povo – o primeiro evento foi o VIII Festival Multicultural da cidade – para além das atividades meramente comerciais, como nos velhos tempos.






Praça Antônio Vitalino... Eu e vovó mirando o espaço vazio estando cada um de nós cheio de lembranças... Muitas coisas nós esquecemos, mas outras tantas são preservadas na memória quase intactas.


2 comentários:

  1. Quando passamos por Abreu e Lima sabíamos que algo havia além do engarrafamento. Agora vemos o espaço e, é natural que os primeiros momentos tragam nostalgia, especialmente aos viveram anos entre as barracas que animavam uma viver diferente. Importante que a Praça seja ocupada por atividades socializantes e que renovem a vida da cidade.

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  2. Olá Clênio, meu nome é Lucas Martins e preciso muito seu contato, sou estudante de arquitetura e estou fazendo meu trabalho de conclusão de curso sobre a feira livre de abreu e lima. Preciso de dados históricos, fotos e uma porção de informações. Se puder me ajudar, favor entrar em contato.

    Fone: 081 88037036 / 99557299
    e-mail: luca_smartins@hotmail.com

    Fico no aguardo.

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