Por Clênio Sierra de Alcântara
“Você mostrou pra mim
Onde encontrar assim
Mais de um milhão
De motivos pra sonhar, enfim
E é tão gostoso ter
Os pés no chão e ver
Que o melhor da vida
Vai começar”.
O melhor vai começar.
Guilherme Arantes
Cumplicidade. Considero duas
coisas essenciais num relacionamento – seja ele afetivo e/ou de amizade -:
confiança e cumplicidade. E como cumplicidade requer confiança, penso que elas
estão intrinsecamente ligadas.
Não é com qualquer um que
podemos dizer: somos cúmplices. Cumplicidade é algo que vai se construindo
paulatinamente, num crescendo cotidiano no qual a sinceridade é o maquinismo
mais forte. Ser cúmplice é compartilhar muito mais do que segredinhos,
alegrias, decepções, fracassos e desejos. Ser cúmplice é compartilhar com
outrem a essência de que somos feitos sem medir as consequências.
Sinceramente eu não sou um cara dado
a relacionamentos de amizade e/ou afetivos superficiais. Talvez seja de minha
natureza a atração que exerço sobre pessoas verdadeiras: ou elas me amam ou me
odeiam. Sem meio termo, sem restrições, sem remendos, sem estabelecer
condições, sem cobranças, sem repreensões, enfim, sem querer podar ou anular em
mim o que lhes desagrada.
Durante vários anos eu
covardemente me esquivei das pessoas por pré-estabelecer que ninguém é de
confiança e, por conseguinte, capaz de ser meu cúmplice. Custou para que eu me
livrasse da crosta de medo que me envolvia e compreendesse que cada um de nós
precisa se desarmar – embora não de todo – e aprender a confiar, a ser
cúmplice, do contrário, não conseguimos fortalecer relacionamentos. Com o
decorrer do tempo vamos percebendo que algumas pessoas se tornam verdadeiros
portos seguros para nós.
Mas, quanto tempo é necessário
para que a cumplicidade se estabeleça? Um, dois, cinco, oito, dez anos? Dez
anos é bastante tempo, não é? Dez anos é uma longa duração. Dez anos é tempo
suficiente para maturar muitas coisas entrelaçadas com a cumplicidade, como
carinho e companheirismo. Penso, no entanto, que cumplicidade algumas vezes
pode ir se estabelecendo desde o primeiro contato, dependendo da empatia e/ou
simpatia que o interlocutor desperta em nós e vice-versa.
Ainda que eu seja tomado por
muitos como um tremendo casca grossa, insensível e estúpido – basta dizer que
por alguns eu sou chamado de Seu Lunga -, tive e tenho a fortuna de encontrar
pessoas que me dão satisfações plenas de afeto e abrigo. Sempre preferi a
verdade a mentira. E de uns tempos para cá passei a encarar certos aspectos da
vida com o peito escancaradamente aberto, sem receio de acertar.
Não sei se “a alegria é a prova
dos nove”, como dizia Oswald de Andrade. O fato é que estou inclinado a
acreditar que dez anos de cumplicidade pode durar a vida toda.
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