Por Clênio Sierra de Alcântara
Desde que o escândalo que entrou
nos anais da imprensa com o nome de “mensalão” começou a ocupar um amplo espaço
na mídia, criou-se em torno do seu desdobramento uma grande expectativa: será
que figurões da política e do mundo financeiro seriam de fato punidos; ou todos
nós assistiríamos, mais uma vez, a um desses espetáculos judiciais alinhavados
por chicanas e mais chicanas que resultam, quando muito, em penas de prestação
de serviços comunitários?
Entre a denúncia do delito, o
recebimento dela pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a redação do processo
pelo ministro Joaquim Barbosa e o início do julgamento propriamente dito,
transcorreram vários anos. Ocorreu que, no ano passado, o STF “concluiu” o
julgamento; e os cabeças, os chefes da “quadrilha” do “mensalão” foram punidos
com uma severidade que, para nós, tão desacostumados com resultados
surpreendentes como aquele, foi um espanto.
Entre “vivas” e “louvações” ao
enérgico Joaquim Barbosa – eu olho para ele e só me vem à cabeça a figura
inconformada de Lima Barreto, o que só faz aumentar minha admiração por sua
pessoa -, o povo parecia se sentir com a alma lavada. Doravante o Brasil era um
país que não mandava para a cadeia apenas ladrões de galinha e quejandos: delinquentes
de colarinho branco, a partir de então, também estavam sujeitos ao rigor da
lei. Um suspirar profundo de satisfação certamente tocou cada um de nós.
Sentíamo-nos orgulhosos e altivos. Era um tempo novo o que aquele julgamento
prenunciava.
Quando a ressaca da alegria
recolheu-se voluntariosa, demos de cara com uma realidade indesejada. Tomamos
conhecimento de que, na verdade, aquele julgamento não estava de fato
encerrado, que existia uma grande possibilidade de os principais personagens
terem direito a um novo julgamento, que poderia, no final, livrar a cara de
todos eles.
Não, eu não vou encher este mero
artigo de opinião com um juridiquês que eu nem sequer compreendo. Não vou usar
e abusar de citações catadas num canto e noutro para parecer que tenho um
entendimento profundo da matéria em
si. Para mim – e creio que para a maioria dos leitores que me
acompanham – o que interessa saber é se os delinquentes que protagonizaram o
“maior escândalo da história deste país” serão punidos ou não, e não uma explicação
do que sejam “embargos infringentes”, porque saber do que eles tratam não vai
diminuir em nada a nossa indignação, muito pelo contrário.
Muitos, como eu, aguardaram
ansiosos pelo pronunciamento do ministro Celso de Mello, porque o voto dele
decidiria se haveria ou não um outro julgamento. E quando eu ouvi, através da
Globo News, que o ministro acatara os tais “embargos infringentes”, baixei a
cabeça inconformado, abatido, decepcionado. Alguém lembrou de dizer, no calor
da hora, que se fizera a justiça que deve ser feita num estado democrático de direito. Não sei se
o fulano que disse isso pensou nos milhares de indivíduos que estão mofando nas
penitenciárias deste país sem nem sequer terem sido julgados.
Uma vez que o estrago estava
feito e o remédio era esperar as cenas dos próximos capítulos, deixei a Bodega
do Abel torcendo para que o novo julgamento do “mensalão” se arraste por 2014
adentro e corroa a campanha de reeleição da senhora Dilma Poste Apagado
Rousseff. Há males que vêm para pôr fim a outros males.
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