Por ClênioSierra de Alcântara
A cada dois anos a história se repete: eu digo que não
vou mais e acabo indo, porque meu apego aos livros é maior do que a minha
vontade; e eu fico na torcida de que desta vez será diferente. Que tolo que eu
sou!
Anteontem eu fui visitar a IX Bienal Internacional do
Livro de Pernambuco, montada no pavilhão do Centro de Convenções, em Olinda, e
remoí cada um dos dissabores que venho apontando desde a primeira vez que
compareci a esse evento. Não bastassem a profusão de lixo cultural destinados
aos públicos infantil e adolescente – é quase insuportável ver tantos stands
exibindo posters e revistas de ídolos infanto-juvenis -, a superabundância de
revistas de artesanato e decoração, gibis, palavras-cruzadas, apostilas de
concursos e uma invasão assustadora de editoras de publicações religiosas, a
Bienal do Livro de Pernambuco está se transformando numa imensa feira livre
onde são oferecidos desde quadros e doces caseiros até bolsas e outros acessórios.
A impressão que eu tenho é que os organizadores do evento
se preocupam apenas em preencher o espaço, seja com o diabo que for; daí por
que encontramos stands nos quais livros mesmo não aparecem. O fato é que essa
bienal, que é vendida como a terceira maior do país, tornou-se um negócio
bastante lucrativo; só com os vales-compra distribuídos pelos governosestadual
e municipal para os profissionais da Educação, os comerciantes obtêm um bom
ganho. Fazendo um cálculo assim por alto, pelo que eu tenho visto nas últimas
edições do evento, 70% a 75% - estão vendo que eu não sou tão pessimista assim!
– das publicações que são postas à venda ali não eram para ser sequer
distribuídas de forma gratuita a professores quanto mais ser vendidas. Tudo bem
que existam pessoas que adoram uma literaturazinha de autoajuda e tal, mas
minha opinião é de que as compras feitas com os vales – leitor, esse dinheiro
sai dos nossos impostos! – deveriam ser única e exclusivamente destinados à
aquisição de livros técnicos da área de atuação do profissional e ponto. Quer
ler Gabriel Chalita, Padre Marcelo Rossi, Augusto Cury, Dan Brown e Stephanie
Meyer? Então pague do seu próprio bolso.
Diferentemente de muitos dos frequentadores da bienal –
incluindo certo tipinho descompromissado de professor, que se esforça para não
fazer nada – eu não compro livros a cada dois anos. Livros são artigos
essenciais para mim; eles são elementos-chave dentro do que se convencionou
chamar de qualidade de vida; de modo que, da mesma forma que eu vou ao supermercado
fazer a feira do mês, mensalmente eu adquiro pelo menos dois títulos.
Sinceramente, eu não sei se conseguiria viver sem ter a companhia dos livros.
Por isso eu creio que para os amantes da boa leitura, um passeio por um evento
como a Bienal do Livro de Pernambuco cause no mínimo um mal-estar. Só não vê
quem não quer que nessa bienal, o livro é mero coadjuvante, um pretexto para se
atrair compradores para um sem-número de outras coisas. E como a ideia é
ocupar, é vender espaço – o valor do aluguel do metro quadrado no pavilhão não
é para qualquer um -, inventam-se outros chamarizes como palestras e
lançamentos de obras que às vezes são canceladas sem que se dê nenhuma
satisfação à plateia.
A mim me parece que o único acerto dos organizadores
desta edição da bienal foi homenagear o Tarcísio Pereira, o livreiro que durante
anos comandou um ícone chamado Livro 7. De resto, a Bienal do Livro de
Pernambuco é um espetáculo grotesco e desanimador. Qualquer sebo que comporte
um bom acervo é mil vezes mais interessante do que essa bienal.
Se futuramente a Bienal do Livro de Pernambuco continuar
nesse ritmo de mau a pior que a tem marcado em suas nove edições, e eu for
convidado a palestrar ali – quase tudo é possível, ora pois –, recusarei
dizendo em tom de pilhéria: “Chamem o Machado de Assis”. E se o meu
interlocutor insistir afirmando: “Meu caro, Machado morreu faz muito tempo”. Eu
completarei: “Ah, foi? Pior para você. Neste caso, chame o João Alberto”.
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