31 de maio de 2014

Nós dois não fomos feitos muito para nós dois



 Por Clênio Sierra de Alcântara


Deixe estar, vai passar
Com sorte, tudo, tudo vai ser breve
Essa angústia no seu peito
E no meio essa falta ardendo em minha pele

Porque nós dois nos cruzamos com pressa demais
E foi tudo intenso e veloz
Nos amamos, meu bem, só que em pistas opostas
E
sós [...]
                                                 Deixe estar . Marina Lima/Antonio Cícero





O encontro. O desejo. O cheiro do corpo. O gosto da boca. A vontade de ficar junto. O tesão. O sexo incrível. A ideia fixa. A fantasia. A hora de ir embora. A saudade. O conforto de poder ouvir a voz pelo telefone. O reencontro. O abraço revigorante. As incertezas. O sexo não satisfatório. As incompatibilidades. A desarmonia. O cair na real. A cama vazia. A casa incômoda. A lembrança ruim. A música triste. O adeus.

Algum dia eu hei de escrever detidamente a história dos meus romances fugazes. Por ora bastam essas poucas e necessárias linhas para eu expressar minha frustração por dois romances que foram breves e eu queria muito que tivessem se prolongado. Fazer o quê, já que os corações só sentem o que querem sentir e nós nunca sabemos verdadeiramente o que vai no coração alheio?!

Não sei por que algumas pessoas têm tanta dificuldade para dizer o que sentem; enquanto que outras costumam duvidar dos sentimentos que você diz nutrir por elas. Não, eu não faço e nunca farei questão – assim espero, porque isso a mim me parece ser mais do que insegurança, é uma paranoia – nenhuma de ouvir “eu te amo”; para mim um “eu gosto de você” é mais do que satisfatório e prazeroso; e mesmo sem dizer nada disso e querer ficar comigo já me basta.

Não gosto de quem se achega para mim com “receitas de bem viver”. Não adianta que lhe digam que agindo assim, assim e assim vai dar tudo certo e você – olhem que pretensão – vai ser feliz, porque a vida não é uma operação matemática cujo resultado é exato. Casamento é bom? Filhos são coisas boas? Conheço gente que diz que não conseguiria viver sem. Mas também conheço uma porção de indivíduos que são infelizes justamente por terem se casado e tido filhos.

Vale o sexo pelo sexo? Claro que sim. Diz o meu amigo Marco-Aurélio de Alcântara: ”Sierra, eu não compreendo por que a maioria das pessoas repele o sexo pelo sexo. Por meu lado eu não tenho problema nenhum com isso”. Eu muito menos. Ocorre que às vezes as pessoas com as quais nos relacionamos nos oferecem muito mais do que uma sessão de sexo; elas nos ofertam carinho, proteção, aconchego, uma boa conversa e sinalizam para nós uma aposta de futuro para que um relacionamento nasça daquele encontro que, em princípio, ambas as partes haviam tomado somente como mais um, como algo breve e descompromissado.

Quando esse interesse se dá em fina e mútua sintonia é maravilhoso. Mas quando vem apenas em via de mão única – só de sua parte ou então da parte da outra pessoa – é um baque. E, por experiência própria, eu bem sei o quanto que isso nos desestabiliza; de um instante a outro perdemos o chão; o objeto de nosso desejo desfaz as nossas pretensões e fantasias; e nós voltamos à estaca a zero, rearrumando os nossos sentimentos e nossa cabeça e coração para que eles compreendam que não é nada fácil encontrar alguém que nos queira ao mesmo tempo que nós o queiramos.

Nunca sequer imaginei que pudesse encontrar uma pessoa perfeita, porque pessoas perfeitas não existem: eu, você, ninguém é perfeito. Mas existem pessoas que, apesar de carregarem em si coisinhas que nos desagradam, por outro lado ostentam muito daquilo que faz com que nos sintamos realizados e contentes por compartilhar com elas alegrias, sonhos e até frustrações.

Nos últimos meses eu saí de um relacionamento duradouro e tentei, em duas ocasiões, atracar meu coração em portos que eu pretendera que fossem seguros. Uma pena que não tenham sido. Confesso que fiquei desolado. Confesso que sou um homem estúpido e sentimental. Confesso que, neste exato momento, vejo alguém acenar de longe para mim e que eu vou me dirigir até lá, porque, se há uma coisa que esta vida me ensinou, foi que devemos aproveitá-la ao máximo, com toda a nossa força, coragem, desejo e vontade.

Não acredito e nunca acreditei que a felicidade de cada um está depositada noutra pessoa, como se fosse um tesouro a ser encontrado. Eu acredito, sim, que outra pessoa possa potencializar minha alegria de viver e a felicidade que carrego dentro de mim.


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