13 de fevereiro de 2015

Cadáveres insepultos ou Honra ao demérito

Por Clênio Sierra de Alcântara



Ao abrirem mão de certos princípios, os petistas agora se veem novamente enrolados até o pescoço com os desdobramentos de mais um assombroso escândalo.  As velas do bolo do aniversário de trinta e cinco anos foram apagadas, mas os fatos desabonadores não.



Na semana passada o Partido dos Trabalhadores (PT) comemorou, ao seu modo, os seus trinta e cinco anos de fundação. Metido numa série de escândalos há pelo menos cinco anos, o partido, em que pese o fato de estar ocupando o cargo máximo que pode ser alcançado por um candidato numa eleição política, que é a Presidência da República, sabe, contudo, que não está enfrentando seus melhores dias.

Depois de ver alguns dos seus mais conhecidos e importantes quadros atrás das grades em decorrência da apuração de um conjunto de crimes que ficou conhecido como “mensalão”, o PT se vê, agora, metido com os desdobramentos da chamada Operação Lava-jato, que investiga o desvio de dinheiro da Petrobras, por meio de acertos com empreiteiras que, como se tem dito, tinham de pagar uma porcentagem de cada licitação que elas “vencessem” na companhia, a fim de que os recursos abastecessem caixa-dois de campanhas políticas não só do PT, mas também de outros partidos.

É inegável que o PT tem, sim, o que comemorar, afinal, seus candidatos – primeiro com Luis Inácio Lula da Silva e depois com Dilma Rousseff – vêm ocupando o cargo de Presidente da República há mais de uma década; elegeu durante esse tempo uma quantidade expressiva de vereadores, prefeitos, governadores, deputados e senadores; e promoveu a execução de programas de grande alcance social como o Bolsa Família e o Prouni. Por outro lado, de modo paralelo, o partido, que nunca desistiu de pôr amarras na imprensa – por razões óbvias – e de proclamar suas raízes autoritárias, aparelhou o Estado com seus militantes como “nunca antes na história deste país”; aliou-se a personagens execráveis do cenário político, como Paulo Maluf, Fernando Collor e José Sarney; e criou um ministério atrás do outro para abrigar os cupinchas. Ou seja, o partido aderiu inteiramente a tudo o que dizia que iria combater quando chegasse ao poder, o que nos faz crer que não se tratava realmente de princípios doutrinários o que os seus líderes anunciavam: tratava-se de enrolação, de embuste, de propaganda enganosa.

O Partido dos Trabalhadores – não se sabe até quando manterão essa denominação que ficou imprópria – parece que não se deu conta de que o principal prejudicado com os sucessivos aumentos de impostos, arrochos anunciados e a ameaça real de apagão e de falta de água é justamente a parcela da população que eleição após eleição tem feito a alegria da agremiação. Afora isso o espectro de um impeachment vem rondando os céus de Brasília deixando as lideranças petistas em desassossego, porque o tempo que eles têm de estrada já lhes ensinou que, na briga pelo poder, mesmo as alianças mais bem tramadas podem se desmanchar no ar caso a cabeça da Presidente Dilma Rousseff seja posta a prêmio.

À pretensão de reescrever a história do Brasil, o PT juntou a desfaçatez, o descaramento e a caradura. Com um plano de perpetuação no poder seus líderes devem ter imaginado que logo, logo passariam como um rolo compressor por sobre as instituições legitimamente constituídas e imporiam seus gostos e vontades dentro daquela visão de mundo em que todos são iguais, mas uns são mais iguais que outros. Daí por que permanecem na ordem dos discursos petistas as acusações de que seus pares são vítimas e alvos de uma imprensa elitista e preconceituosa, como se os fatos fossem inventados por ela e o impoluto partido sofresse com um desmedido golpismo.

Os fatos vão-se acumulando como detritos num monturo e o PT insiste em querer negá-los e sepultá-los. Não adianta os petistas continuarem lançando pás e mais pás de terra sobre a apuração dos malfeitos porque eles continuarão vindo à superfície. O PT quer dar aos fatos que vão surgindo o mesmo destino inglório que deram a Celso Daniel, cujo assassinato até hoje não foi esclarecido, apesar de circularem sérias especulações a respeito. Mesmo enterrado, o cadáver de Celso Daniel permanece insepulto como uma lembrança inapagável na cabeça de inúmeros petistas.

A megalomania do PT é tão absurda e inconveniente que os seus dirigentes não percebem que sua antes portentosa e faiscante estrela está se apagando.


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