Por Clênio Sierra de Alcântara
Membro de um partido que é a
própria encarnação do apego ao poder e que não mede esforços para tanto, o
presidente da República Michel Temer é ele mesmo a personificação do tipo de
homem público de maus bofes que há tempos – e talvez desde sempre – infestou o
cenário da política nacional, como deixaram ver as acusações de práticas ilícitas
que lhes foram imputadas nos últimos meses pela Procuradoria Geral da República
e, também, o que ele precisou fazer para que os seus cupinchas o livrassem, ao
menos por enquanto, das garras da Justiça.
Por mais ilegítimo que o mandato
do atual presidente do Brasil seja, quando o senhor Michel Temer passou a dar
as cartas no Palácio do Planalto, parte significativa da população brasileira,
imagino eu, chegou a acreditar que algo de bom iria sair dali pelo simples fato
de que já estávamos no fundo do poço, sobrevivendo à base do volume morto e,
portanto, pior não poderia ficar. Contribuiu para o clima de positiva
expectativa os discursos do mandatário da nação exaltando o seu empenho para
que reformas de várias ordens – política, trabalhista, previdenciária,
tributária e por aí vai – finalmente saíssem do papel a fim de que o
paquidérmico Estado brasileiro pudesse caminhar com alguma desenvoltura pelas
veredas do verdadeiro desenvolvimento socioeconômico. Convenhamos que não era e
nem é tarefa das mais fáceis, sobretudo num país em que se tomam privilégios de
todo tipo como algo sagrado do qual não se deve sequer ousar dizer o nome,
quanto mais tocar e alterar. Os defensores do Estado mastodôntico, que são
aqueles que gozam das maiores e mais polpudas regalias, se puseram a demonizar
os projetos das reformas, dizendo que o único problema que assola este país é a
corrupção generalizada que assalta diuturnamente os recursos públicos.
Evidentemente que não se trata
somente de corrupção. Uma das razões do atraso que acomete amplos setores da
economia brasileira é peso da carga tributária que, além de ser bastante
onerosa, é movida por uma legislação não unificada que faz com que, por
exemplo, uma empresa de atuação nacional tenha de lidar com diferentes
porcentagens de recolhimentos de um mesmo imposto nas várias unidades da
federação. Não é apenas a corrupção em todas as latitudes que atravanca o
progresso deste país; a baixa produtividade é igualmente uma doença crônica que
acomete os trabalhadores daqui; e também as estatais obsoletas e ineficientes
que prestam serviços de baixa e/ou de péssima qualidade e que não fazem outra
coisa que não seja cavar mais e mais benefícios para os seus funcionários,
porque quem paga a conta são os empregados da iniciativa privada e os que
trabalham de maneira autônoma.
Barganhando aqui e ali, o
presidente Michel Temer conseguiu que uma nada entusiasmadora reforma trabalhista
fosse aprovada pelo Congresso Nacional. Depois disso, vieram as delações dos
irmãos Joesley e Wesley Batista que fulminaram a credibilidade do presidente e
o país de mais de treze milhões de desempregados continuou com o seu horizonte
enegrecido. E mesmo a liberação do saque de bilhões de reais das contas
inativas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) melhorou a autoestima
do cidadão que, sem emprego, continua desamparado e sem expectativa de que
melhorias chegarão num curto prazo. E sem que as reformas prometidas lá no
início do mandato sejam realmente promovidas, dizem os especialistas do mercado
financeiro, a economia brasileira vai continuar se arrastando, sem força
suficiente para se reerguer num futuro imediato.
Muito de suas energias o
presidente Michel Temer e os seus ministros estão gastando para fazer crer que
as coisas irão, enfim, entrar nos eixos, como quando foi anunciado o pacote de
privatizações que incluiu a Eletrobrás. Mas, em meio a essa, vá lá, boa
notícia, esse Governo que está aí vem demonstrando que lança mão de maquinações
típicas de quem parece ignorar que existe algo denominado “opinião pública” e
se põe a promover ações de retrocesso, como demonstraram o empenho do Ministro
da Saúde Ricardo Barros em tirar de Pernambuco a fabricação do principal
produto da Hemobrás e passar a produzi-lo no Paraná, seu reduto eleitoral, e a
recente celeuma envolvendo a Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca),
que fica nos estados do Pará e do Amapá. O Brasil tem ano após ano demonstrado
à comunidade internacional que é incapaz de efetivamente proteger os
ecossistemas da Região Amazônica e vem agora o senhor Michel Temer decretar o
fim da Renca com o fito de que a área possa ser explorada por mineradoras. Durante
a movimentação em torno do caso que, pelo menos por enquanto, está suspenso,
não vi ninguém apontar o dedo para o Ministro do Meio Ambiente Sarney Filho que
há anos milita no Partido Verde. Como pôde alguém, como esse ministro, um
paladino defensor das causas ambientalistas e do denominado desenvolvimento
sustentável, ter apoiado a decretação do fim de uma reserva ambiental?
No cômputo geral em
andamento, infelizmente, o presidente Michel Temer vem acenando que,
diferentemente do que prometia esse seu governo, tão dado ao fisiologismo, não
será capaz de tirar o país do atoleiro em que se encontra.
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