Desde o meu primeiro grande
encontro com o sítio histórico de João Pessoa, ocorrido já se vão quase dez
anos, eu fiquei acompanhando, entre outros aspectos daquele espaço, a evolução
da degradação que paulatinamente ia consumindo o bonito sobrado localizado na
esquina da Rua da Areia com a Rua Henrique Siqueira, dando como certo que, mais
dia menos dia, ele iria desaparecer da paisagem urbana, histórica e sentimental
daquela cidade, certeza essa que só fez aumentar quando eu tomei conhecimento
de que no dia 17 de abril de 2016 parte dele desabara; fato esse que eu
constataria dias depois numa das visitas que fiz ao local.
Fotos: do autor |
À medida que a situação do
sobrado ia se agravando, eu desfiava meu rosário de lamento e de indignação perante
o seu estado de abandono. Recusava-me a aceitar que mais uma vez a capital da
Paraíba estava prestes a acrescentar mais uma edificação de valor patrimonial
ao seu já extenso rol de perdas, como fazia crer a situação precária em que
aquele imóvel se encontrava.
Tudo era tão desolador
naquele trecho da Rua da Areia, da famosa Rua da Areia onde outros prédios
agonizam exibindo suas fraturas e ruínas, que passar por ali, tão próximo à
Praça Antenor Navarro, onde levas e levas de turistas desembarcam de ônibus e
vans querendo conhecer o traçado urbano e as construções mais expressivas e
longevas dessa que é a terceira mais antiga cidade do Brasil, era um exercício
de quase autoflagelação, como quem se põe a cutucar feridas para sentir dor. Numa
das vezes em que eu fui até lá me vieram à lembrança uns versos do Políbio
Alves que dizem: “O Varadouro/ ainda pulsa/ vive/ explode cheio de sangue/
entrecortado de mangue” (Políbio Alves. Varadouro. 4ª ed. João Pessoa: Editora
Universitária/UFPB, 2011, p. 53). E eu
só pensava que a qualquer momento, tal qual outras edificações do velho bairro
do Varadouro, a agonia daquele sobrado chegaria ao fim com o seu completo
desabar.
Visto dessa maneira, vocês,
leitores, não fazem ideia da inquietação que me tomou quando, meses atrás, eu
vi homens tocando uma obra nas ruínas do sobrado. Desconfiado, eu cheguei mesmo
a suspeitar, como até escrevi, que aquilo lá era uma obra que, a pretexto de
recuperar o belo imóvel que existiu ali, iriam ignorar seus traços e tudo o
mais. Enganei-me. No último dia 3 de fevereiro, numa ensolarada tarde de
fevereiro, eu vi, maravilhado, que, pelo menos em sua fachada, o sobrado fora
todo ele reconstituído e a ele fora restituída a sua singela beleza. E uma
grande satisfação me tomou, porque todo aquele pensamento ruim de perda
iminente ao menos quanto àquele sobrado se dispersou completamente. De um
estado de ruína ressurgiu uma edificação reluzente que continuará acumulando
histórias, presente que permanecerá naquele cenário que é todo ele o quinhão
mais significativo da memória urbana de João Pessoa, porque foi no bairro do
Varadouro, na chamada Cidade Baixa, que a capital paraibana efetivamente
principiou.
Parei para admirar o
trabalho pronto e fotografá-lo. Paredes, janelas e portas novinhas. Do tempo
dos dias de ruína ainda se encontravam por lá as manilhas de cimento que foram
postas no local como meio de isolamento, depois do desabamento parcial ocorrido
em abril de 2016.
Não sei qual destino terá o
imóvel quanto ao seu uso. Uma placa de “aluga” foi fixada nele e agora é
esperar para ver. Seja como for, aquele belo imóvel, aquele imponente sobrado foi
restaurado e certamente há de figurar na paisagem urbana que irá se fixar na memória de cada um passante
que transitar por ali e lançar seus olhos em direção a ele.
gostei demais ... fala muito sobre a histiria da paraiba
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