25 de janeiro de 2025

O Museu da Cidade de João Pessoa

 Por Sierra


Fotos: Arquivo do Autor
O Museu da Cidade de João de Pessoa ocupa um belo prédio construído na década de 20, do século passado; e fica defronte à Praça da Independência. Percorra com atenção todos os cômodos do edifício, prestando atenção a todos os detalhes arquitetônicos, inclusive, os da fachada


Eu já tratei aqui com vocês diversas vezes sobre a relação de interesse muito próxima que eu mantenho com museus, galerias de arte e congêneres; relação essa que, eu não duvido disso, está muito ligada à minha formação acadêmica; e que, por extensão, como um correr natural do curso e itinerário de um rio, foi se estabelecendo e se assentando em minha vida como uma espécie de necessidade vital, integrando uma cesta básica para a manutenção do meu bem viver.












Antes mesmo de voltar a João Pessoa, capital da Paraíba, eu planejara fazer uma visita ao Museu da Cidade, localizado no bairro do Tambiá, numa rua que tem um movimento muito intenso de carros e que fica defronte a um dos espaços mais arborizados e bucólicos do município, que é a Praça da Independência.

Na manhã do último dia 15 de janeiro eu saí da cidade do Conde, onde me encontrava hospedado na casa de um amigo muito querido, o Luiz Tavares, e tomei um ônibus rumo a João Pessoa com a intenção de, entre outros afazeres e demandas de um dia reservado para a flânerie, ir conhecer o Museu da Cidade.





Olhe para cima e veja os detalhes do forro do teto



Algumas fotografias que documentam diferentes momentos da trajetória do edifício








Normalmente eu sou levado a essas instituições não só para ver o que está exposto nelas, mas também para conhecer os prédios que as abrigam; a riqueza e/ou simplicidade do acervo; o projeto museológico; o cuidado com os objetos; o modo como as peças foram dispostas no que diz respeito, por exemplo, a uma ordem cronológica; a proposta de narrativa que as instituições estão propondo; enfim, eu sou movido por vários interesses, de maneira que a atmosfera museal, que para mim é quase sempre envolvente, é tomada por tudo isso que eu mencionei aqui e por outros mais.


Aqui e abaixo alguns personagens envolvidos na vida do político João Pessoa











Fotografias que documentam espaços  da cidade e personagens anônimos encontrados nas ruas




A primeira coisa que me chamou a atenção no Museu da Cidade da capital paraibana foi, claro, o prédio que o abriga, que é um elegante sobrado construído na década de 20 do século passado, que serviu de residência e local de trabalho para o então presidente da Paraíba, João Pessoa, em razão de o Palácio Redenção, sede do governo estadual, se encontrar em obras; um raro exemplar arquitetônico daquele tempo que sobreviveu a uma sanha incansável e medonha que, não é de hoje, vem deixando ruir e vir abaixo vários imóveis daquela época, arrasando a memória urbana de João Pessoa. Segundo informações contidas num quadro exposto no museu, o prédio foi projetado e construído pelo engenheiro Souto Barcellos para servir de moradia para Tranquilino Monteiro, que era um rico comerciante de algodão. E eu desconfio que foi inspirado na arborização da Praça da Independência que batizaram cômodos do sobrado com nomes de árvores, como guajiruzeiro, sapotizeiro, pitombeira, coqueiro, cajueiro e jambeiro.



















Acessibilidade é um dos pontos positivos do Museu da Cidade




Ali defronte a imensa e muito arborizada Praça da Independência
























Talvez porque eu já dispusesse de várias referências bibliográficas e fotográficas do passado da capital paraibana, graças a obras de personalidades como José Américo de Almeida, Walfredo Rodríguez, Juarez Batista, José Luiz Mota Menezes e Wellington Aguiar, eu não tenha me entusiasmado muito com o que vi como acervo do Museu da Cidade, que é constituído basicamente por alguns móveis, reprodução de aquarelas, quadros e muitas fotografias. Segundo a minha avaliação, o acervo não faz jus nem à denominação do museu nem ao prédio que o abriga. E, pela experiência que eu tenho como visitante de museus e galerias de arte por este país afora, eu avaliei como pouco atraente o projeto museológico daquele espaço. Para mim, as maiores evidências da pobreza do acervo, digamos assim, do Museu da Cidade, são as duas salas - isso mesmo, duas salas - dedicadas a dois livros que tratam do passado da urbe: o Itinerário lírico da cidade de João Pessoa, do Jomar Morais de Souto; e Cidade de João Pessoa - Roteiro de ontem e de hoje, de José Américo de Almeida. A mim me pareceu que, preencher duas salas com imagens dos livros e textos sobre eles, foi o meio que encontraram para não deixá-las vazias.


O correto é Jomar Morais de Souto






Não tenho dúvidas de que, caso o visitante não se encante muito com o acervo do Museu da Cidade, de João Pessoa, como aconteceu comigo, ele ficará, no mínimo, interessado em conhecer todas as dependências do sobrado, que é, ele mesmo e por si só, uma atração à parte; e eu diria até - e me desculpem se eu soo algo exagerado - que ele é o grande e principal atrativo. Eu fiquei bastante feliz ao verificar que restauraram, revitalizaram e transformaram em equipamento cultural uma edificação tão representativa de um tempo e que passou muitos anos abandonada e fazendo feia figura no cenário urbano; de modo que eu fui percorrendo os cômodos do prédio carregando comigo certo regozijo, vendo o cuidado que tiveram em recuperar tudo o que estava prestes a desaparecer. E aqui eu quero aproveitar para fazer um apelo aos responsáveis pelo museu: parte do telhado do primeiro andar está com uma infiltração que precisa ser sanada o quanto antes; vidros de algumas portas estão quebrados; e o taco, o piso de madeira perdeu o brilho, também no primeiro andar, devido, eu acredito, à entrada da luz do sol e de água da chuva.


Infiltração severa no telhado do primeiro andar



O piso de madeira está carecendo de verniz ou de cera


Alguns vidros estão quebrados



Pelo que eu conheço e já li e vi sobre o passado da capital paraibana, o Museu da Cidade está com um acervo pobre, um projeto museológico simplório e com uma abordagem narrativa fraca e limitada, algo que pode ser revisto e melhorado, porque um bom museu é aquele que nos desperta tamanho interesse que nós sentimos vontade de algum dia ir visitá-lo novamente.

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