22 de junho de 2012

Contra os trotes


Por Clênio Sierra de Alcântara


Cada vez que eu fico a par de mais uma arbitrariedade decorrente dos chamados trotes, nas universidades, mais cresce o meu repúdio a essa maneira imbecil e estúpida de recepcionar os recém-chegados ao ensino dito superior.

Salvo engano o primeiro registro de um trote violento que se tem notícia na história do Brasil, ocorreu em Pernambuco, no século XIX, que resultou na morte de um estudante da Faculdade de Direito do Recife.

Nos últimos anos tomamos conhecimento, através da imprensa, de vários casos de trotes que tiveram consequências graves, como mortes e quadros de coma alcoólico. Sem falar dos episódios em que estudantes foram expostos a cenas de humilhações e ao ridículo, tudo por causa de uns desajustados que pensam estar oferecendo aos calouros um suposto ritual de passagem.

Acreditem, meus caros leitores, que, de tanto ouvir falar nessas práticas abomináveis, eu fui para o meu primeiro dia de aula, na Universidade Federal de Pernambuco, com minha alma armada para revidar qualquer armação. Recordo que eu dizia assim, de mim para mim, enquanto seguia de ônibus para o campus: “Se algum engraçadinho se meter a besta comigo, vai levar também”. Felizmente não houve nada. Nem mesmo o chamado “trote do bem”. Foi um dia de aula bem tranquilo.

Escrevendo agora sobre trotes, pensei também em expor outra visão da universidade que eu vivenciei. Ao ingressar no ensino superior eu julgava que encontraria um ambiente de todo livre de preconceitos, um ambiente onde reinava a tolerância de ideias e de comportamentos. Não foi o que eu encontrei, infelizmente. O exemplo máximo de intolerância e de incompatibilidade de ideias foi verificado no departamento do meu curso: além de picharem paredes, vândalos travestidos de alunos, atearam fogo numa das dependências do edifício. O que foi apurado é que se tratara de um protesto a respeito de não sei o quê. O episódio foi a prova cabal de que, mesmo o ensino dito superior, não consegue reprimir os instintos mais primitivos. Que coisa!

Tendo em vista acontecimentos relacionados com a prática de trotes que resultaram em verdadeiras tragédias – alguém pode imaginar a dor dos parentes mortos nesses rituais insanos? -, já era hora de as faculdades e universidades buscarem reprimir esses exercícios de barbárie. Não se pode promover uma cultura de tolerância recorrendo a tais expedientes.

Os trotes são em tudo repulsivos, porque, além de atentarem contra a vida de indivíduos que estão no auge da juventude, denigrem a imagem de instituições educacionais que têm como atividade fim bem instruir seus alunos para que eles possam oferecer o melhor de si para a sociedade.


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