29 de junho de 2012

Personas urbanas (8)


Por Clênio Sierra de Alcântara



"Rompi tratados, traí os ritos
Quebrei a lança, lancei no espaço
Um grito, um desabafo

E o que me importa é não estar vencido

Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos".

                                  Sangue latino. João Ricardo/ Paulinho Mendonça







Recomeço. É verdade que eu nem sempre estou disposto a recomeçar. Sou muito cabeça-dura. Sou, por vezes, muito inflexível. Mas existem situações que nos obrigam a recomeçar independentemente da nossa vontade.

Agora mesmo eu me pus num caminho que, embora para muitos dos meus conhecidos seja apenas a continuidade, a etapa seguinte de um processo, para mim foi uma volta ao começo. Melhor dizendo, foi como que um retrocesso.

Custei a aceitar que a minha vida estivesse imbuída dessas coisas miúdas que me fizeram crer que eu, de alguma maneira, fracassei. Dezessete anos. Reconheço que é um longo tempo. Evidentemente que se eu alterar a perspectiva do meu olhar a coisa muda de figura. Ocorre que é justamente por querer manter um único ponto de visão que eu maldigo em grande medida a trajetória percorrida.

Talvez eu devesse reavaliar meus pensamentos. Talvez eu devesse reconsiderar o modo como encarei a situação. Talvez, mais que tudo, eu devesse aceitar minha impotência para lidar com certos aspectos do meu viver e tratar de dar outro impulso a ele porque – e isso me parece ser uma verdade pétrea – ninguém tem controle sobre tudo o que acontece em sua vida.

Se eu acreditasse em destino, talvez, aceitasse passivamente todas essas vicissitudes. Dezessete anos. Decerto que ter sobrevivido durante todo esse tempo foi um feito, porque são tantos os agentes que podem dar cabo de nossa existência que, conseguir atravessar um dia e acordar para um outro, é qualquer coisa realmente espantosa.

Mas acontece que viver por si só não basta. É preciso que se dê um rumo ao caminhar. É preciso que se estabeleçam metas. É preciso que se produza algo de bom. É preciso que não se abaixe a cabeça durante muito tempo. É preciso se encorajar. É preciso se descobrir. E é preciso, sobretudo, que se concilie a realidade com a fantasia, porque, como alguém já disse, “a felicidade é a prova dos nove”; e viver também compreende sonhar.

Dezessete anos depois a constatação de que eu não me pus no caminho que pretendia ter tomado. A rota ambicionada como que desapareceu do mapa do meu horizonte. Dezessete anos depois o meu olhar para as veredas do futuro me deu a possibilidade de refazer e/ou de repensar minha estratégia de retomada de itinerário, ainda que, para tanto, tenha extraído de mim um naco considerável do meu vigor juvenil.

Não deveria, mas eu vou dizer aqui que, algumas vezes, a tristeza tentou esmagar a mim e a muito do que eu quis. Não sucumbo inteiramente, creio eu, porque o exercício diário da escrita de alguma forma me salva e revigora.

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