Por Clênio Sierra de Alcântara
"Rompi tratados, traí os ritos
Quebrei a lança, lancei no espaço
Um grito, um desabafo
E o que me importa é não estar vencido
Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos".
Recomeço. É verdade que eu nem sempre estou disposto a recomeçar.
Sou muito cabeça-dura. Sou, por vezes, muito inflexível. Mas existem situações
que nos obrigam a recomeçar independentemente da nossa vontade.
Agora mesmo eu me pus num caminho
que, embora para muitos dos meus conhecidos seja apenas a continuidade, a etapa
seguinte de um processo, para mim foi uma volta ao começo. Melhor dizendo, foi
como que um retrocesso.
Custei a aceitar que a minha vida
estivesse imbuída dessas coisas miúdas que me fizeram crer que eu, de alguma
maneira, fracassei. Dezessete anos. Reconheço que é um longo tempo.
Evidentemente que se eu alterar a perspectiva do meu olhar a coisa muda de
figura. Ocorre que é justamente por querer manter um único ponto de visão que
eu maldigo em grande medida a trajetória percorrida.
Talvez eu devesse reavaliar meus
pensamentos. Talvez eu devesse reconsiderar o modo como encarei a situação.
Talvez, mais que tudo, eu devesse aceitar minha impotência para lidar com
certos aspectos do meu viver e tratar de dar outro impulso a ele porque – e
isso me parece ser uma verdade pétrea – ninguém tem controle sobre tudo o que
acontece em sua vida.
Se eu acreditasse em destino,
talvez, aceitasse passivamente todas essas vicissitudes. Dezessete anos.
Decerto que ter sobrevivido durante todo esse tempo foi um feito, porque são
tantos os agentes que podem dar cabo de nossa existência que, conseguir
atravessar um dia e acordar para um outro, é qualquer coisa realmente espantosa.
Mas acontece que viver por si só
não basta. É preciso que se dê um rumo ao caminhar. É preciso que se
estabeleçam metas. É preciso que se produza algo de bom. É preciso que não se
abaixe a cabeça durante muito tempo. É preciso se encorajar. É preciso se
descobrir. E é preciso, sobretudo, que se concilie a realidade com a fantasia,
porque, como alguém já disse, “a felicidade é a prova dos nove”; e viver também
compreende sonhar.
Dezessete anos depois a
constatação de que eu não me pus no caminho que pretendia ter tomado. A rota
ambicionada como que desapareceu do mapa do meu horizonte. Dezessete anos
depois o meu olhar para as veredas do futuro me deu a possibilidade de refazer
e/ou de repensar minha estratégia de retomada de itinerário, ainda que, para
tanto, tenha extraído de mim um naco considerável do meu vigor juvenil.
Não deveria, mas eu vou dizer
aqui que, algumas vezes, a tristeza tentou esmagar a mim e a muito do que eu
quis. Não sucumbo inteiramente, creio eu, porque o exercício diário da escrita
de alguma forma me salva e revigora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário