Por Clênio Sierra de Alcântara
Quarta-feira, 28 de agosto de
2013. Poucos minutos depois de eu ter me sentado a fim de pôr anotações e
leituras em dia, eis que faltou energia elétrica. Até aí tudo bem, eram 15:20 h e eu só pensei
que o serviço logo seria restabelecido. Com a precaução própria daqueles que já
viram muita coisa na vida, minha avó Maria da Conceição ligou seu radinho de
pilha – de pilha! – para ouvirmos as notícias. Não demorou para que Graça
Araújo, da Rádio Jornal, informasse
que a queda no fornecimento de energia era na verdade um apagão que atingira
todo o Nordeste. Quando ouvi a notícia – e as outras que se sucederam
informando o caos que começava a se estabelecer no centro do Recife com a
paralisação de semáforos, fechamento de lojas e tudo o mais – é claro que
comecei a xingar em pensamento o desgoverno da senhora Dilma Poste Apagado
Rousseff, querendo adivinhar qual seria a desculpa da vez para mais esse apagão
energético.
Não me deixei abater. Não deixei
minha fúria e indignação me levarem a começar a escrever naquele exato momento
o meu testemunho sobre mais um apagão que acometera o Brasil. Ednaldo Santos,
que entrou no ar após o término do programa de Graça Araújo, não perdeu a
oportunidade de destilar a sua habitual e correta retórica contra as
malfeitorias praticadas pelos donos do poder. Não se deve escrever com raiva,
alguém já disse. Eu me segurei.
As horas foram se passando e nada
de a energia voltar. Não me enfureci. Acendi algumas velas para iluminar a
casa. E foi sob a luz de vela que dei continuidade às minhas leituras. A Rádio
Jornal informava os lugares do Recife nos quais o fornecimento de energia
estava sendo restabelecido. Exatamente às 18:18 h a energia voltou à minha
casa.
Quarta-feira, 28 de agosto de
2013. Posto em votação no plenário o processo de cassação de mandato do
deputado Natan Donadon, condenado pelo Supremo Tribunal Federal por uma série
de delinquências, e há algumas semanas vendo o sol nascer quadrado na cela de
uma prisão, resultou em absolvição do parlamentar-bandido por seus seguidores
de princípios.
Ignorando a moralidade que se
espera de todo e qualquer cidadão eleito para ocupar uma função pública;
ignorando a grita que desde junho vem tomando as ruas do país; ignorando em
justa medida o anseio da sociedade de que tenhamos um Congresso Nacional livre
de “fichas-sujas”, eis que honoráveis deputados resolveram mais uma vez nos dar
um tapa na cara e fazer pouco caso de nossa indignação, mantendo com o delinquente
Natan Donadon o status de deputado federal. Mesmo nas trevas Brasília é uma
festa.
Leio aqui e ali que a absolvição
do ilustre deputado-infrator foi articulada pela ala evangélica daquela casa.
Sempre mantenho o alerta ligado com relação aos evangélicos que, não raro, têm
uma visão retrógrada do que está ao redor deles. Em político evangélico eu só
voto se for por engano – desde já eu anuncio: cara Marina Silva, a senhora não
terá meu voto. Não se trata de preconceito; trata-se de precaução. Na campanha
eleitoral do ano passado – só para ficar em mais um mau e estapafúrdio exemplo
-, aqui na ilha onde moro, uma candidata a vereadora – se eu não fosse ateu
daria graças aos céus por ela não ter sido eleita – distribuiu panfletos nos
quais anunciava que só trabalharia para a parte evangélica da população. E
quanto ao resto do povo? Que se danasse, ora pois!
Verdade seja dita: pior do que
evangélico intolerante e contrário ao progresso do mundo – por favor, tenham
vergonha de se esconderem atrás de uma Bíblia! -, é evangélico cúmplice de
malfeitores, é evangélico que entra em conluio com delinquentes, é evangélico
que usa seu cargo político para promover a degeneração da sociedade.
Quarta-feira, 28 de agosto de
2013. No vagar das horas – chovia nesta ilha chamada Itamaracá -, imersos na
mansidão tenebrosa de suas consciências luciferianas, nobres, impolutos
deputados federais brasileiros deram mais uma contribuição para que o Brasil
permaneça chafurdando na lama pútrida da miséria moral, social e política.
Na crendice popular brasileira
agosto é o mês do desgosto. O Congresso Nacional, que tanta descrença desperta
no povo, faz com que todos os meses tenhamos muitos desgostos.
Quarta-feira, 28 de agosto de 2013. Um dia para jamais ser
esquecido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário