Por Clênio Sierra de Alcântara
Vês! Ninguém assistiu
ao formidável
Enterro de tua última
quimera.
Somente a Ingratidão –
esta pantera –
Foi tua companheira
inseparável!
Acostuma-te à lama que
te espera!
O Homem, que, nesta
terra miserável
Mora entre feras,
sente inevitável
Necessidade de também
ser fera.
Toma um fósforo.
Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a
véspera do escarro!
A mão que afaga é a
mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda
pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil
que te afaga,
Escarra nessa boca que
beija!
Versos íntimos.
Augusto dos Anjos
Quando não temos capacidade de
reconhecer os préstimos, os grandes e mesmo os mínimos favores que alguém nos
faz, é porque somos, no mais das vezes, imbuídos de um sentimento de
autossuficiência e superioridade que nos leva a enxergar aqueles que estão ao
nosso redor como meros cumpridores de nossos desejos, vontades e necessidades.
Agradecer por um favor que nos
foi feito não exige muito de nós, não nos torna pequenos nem inferiores. Como
também não deve ser tomado como vergonha o fato de se pedir que outrem nos
preste auxílio no que quer que seja.
O exercício da gratidão é uma
prática cotidiana que não deve ser de modo algum negligenciada sob pena de que
percamos o senso de responsabilidade para com o bom convívio em sociedade. Desculpem-me
se estou me expressando em tom professoral e/ou em linguagem enfadonha típica
daqueles manuais de autoajuda pela qual tenho verdadeira ojeriza. Não quero
ensinar ninguém a viver, até porque, contando apenas quarenta anos de idade, eu
sei muito pouco da vida. Além disso, dizem por aí, eu sou, de maneira geral, um
tremendo casca-grossa. Contudo, posso seguramente dizer que, em matéria de
gratidão, eu não faço feio.
Nem sempre fui um homem grato,
verdade seja dita; mas aprendi a sê-lo. E compreendo que agradecer pode vir de
formas diversas e não somente se resumir a dizer “obrigado” ou “muito
obrigado”. Posso retribuir o auxílio; posso fazer companhia; posso ouvir um
desabafo; enfim, a gratidão não tem forma definida.
Mancadas, deslizes, ações
precipitadas... Somos todos falíveis e há quem considere que toda mancada, todo
deslize e toda ação precipitada é resultante de caso pensado, que foi algo
arquitetado para prejudicar alguém e/ou simplesmente tirar vantagem de uma
pessoa e/ou de uma situação. É esse tipo de gente que toma uma falta que você
pratica como o resumo de seu caráter e joga na lata do lixo tudo o mais: se
você fez 99% e não 100% por ela, você não presta e não vale nada.
Mais de uma vez eu escrevi e/ou
disse a uma infinidade de pessoas, que não sou cristão, não professo religião
alguma, não acredito no sobrenatural e que sentimentos como culpa e perdão não
habitam o meu ser. Mas eu tenho escrúpulos e bons sentimentos, sim, porque uma
coisa não exclui a outra. Sou um cara otimista, apaixonado profundamente pela
vida e que acredita que o prazer, a alegria e a felicidade estão sempre nos
estendendo a mão para que os agarremos.
Mais algumas verdades sejam
ditas: eu detesto a falta de consideração; eu não tolero a ingratidão; eu repudio
a hipocrisia; eu tenho horror a quem tenta me fazer de idiota.
Chove. Estia. Faz frio. Esquenta.
Um riso chega. A lágrima cai. Alguém nasce. Vem o luto. Anoitece. Brilha a
aurora... A coisa mais maravilhosa da vida é justamente isso: ela está sempre
se renovando.
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