12 de julho de 2014

Sobre a ingratidão

Por Clênio Sierra de Alcântara



Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro!
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que beija!

                                                         Versos íntimos. Augusto dos Anjos






Quando não temos capacidade de reconhecer os préstimos, os grandes e mesmo os mínimos favores que alguém nos faz, é porque somos, no mais das vezes, imbuídos de um sentimento de autossuficiência e superioridade que nos leva a enxergar aqueles que estão ao nosso redor como meros cumpridores de nossos desejos, vontades e necessidades.

Agradecer por um favor que nos foi feito não exige muito de nós, não nos torna pequenos nem inferiores. Como também não deve ser tomado como vergonha o fato de se pedir que outrem nos preste auxílio no que quer que seja.

O exercício da gratidão é uma prática cotidiana que não deve ser de modo algum negligenciada sob pena de que percamos o senso de responsabilidade para com o bom convívio em sociedade. Desculpem-me se estou me expressando em tom professoral e/ou em linguagem enfadonha típica daqueles manuais de autoajuda pela qual tenho verdadeira ojeriza. Não quero ensinar ninguém a viver, até porque, contando apenas quarenta anos de idade, eu sei muito pouco da vida. Além disso, dizem por aí, eu sou, de maneira geral, um tremendo casca-grossa. Contudo, posso seguramente dizer que, em matéria de gratidão, eu não faço feio.

Nem sempre fui um homem grato, verdade seja dita; mas aprendi a sê-lo. E compreendo que agradecer pode vir de formas diversas e não somente se resumir a dizer “obrigado” ou “muito obrigado”. Posso retribuir o auxílio; posso fazer companhia; posso ouvir um desabafo; enfim, a gratidão não tem forma definida.

Mancadas, deslizes, ações precipitadas... Somos todos falíveis e há quem considere que toda mancada, todo deslize e toda ação precipitada é resultante de caso pensado, que foi algo arquitetado para prejudicar alguém e/ou simplesmente tirar vantagem de uma pessoa e/ou de uma situação. É esse tipo de gente que toma uma falta que você pratica como o resumo de seu caráter e joga na lata do lixo tudo o mais: se você fez 99% e não 100% por ela, você não presta e não vale nada.

Mais de uma vez eu escrevi e/ou disse a uma infinidade de pessoas, que não sou cristão, não professo religião alguma, não acredito no sobrenatural e que sentimentos como culpa e perdão não habitam o meu ser. Mas eu tenho escrúpulos e bons sentimentos, sim, porque uma coisa não exclui a outra. Sou um cara otimista, apaixonado profundamente pela vida e que acredita que o prazer, a alegria e a felicidade estão sempre nos estendendo a mão para que os agarremos.

Mais algumas verdades sejam ditas: eu detesto a falta de consideração; eu não tolero a ingratidão; eu repudio a hipocrisia; eu tenho horror a quem tenta me fazer de idiota.


Chove. Estia. Faz frio. Esquenta. Um riso chega. A lágrima cai. Alguém nasce. Vem o luto. Anoitece. Brilha a aurora... A coisa mais maravilhosa da vida é justamente isso: ela está sempre se renovando.

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