Por Clênio
Sierra de Alcântara
Foto: internet Eduardo Campos: um jovem político com vocação para ser um grande estadista |
Sempre me posicionei de forma apartidária; e não apenas por
convicção ideológica, mas também e, principalmente, porque a mim me importa
observar o todo e ter autonomia e liberdade para avaliar o comportamento dos
que integram o binômio “situação” e “oposição”, sem que eu tenha, como se diz
por aqui, o rabo preso e comprometimento com quem quer que seja.
No Brasil o que deveria ser a essência de um partido
político, a ideologia, é mero verniz para diferir uma agremiação de outra.
Ninguém precisa ser um cientista político para constatar isso; basta que se
veja a maneira venal com que as alianças se formam a todo momento e não somente
em ano de eleições. Percebe-se que o fundamento ideológico desses tantos
partidos – da louvada “pluralidade partidária” brasileira – que ocupam o
cenário político nacional é um caldo que não dá sustância, uma vez que, isso
sim, o princípio verdadeiramente basilar, o moto-contínuo deles é a conquista
do poder; e para conquistá-lo, como se sabe, dar-se até um quarto ao diabo.
Com sua figura firmemente presa à do seu avô Miguel Arraes,
Eduardo Campos logrou uma carreira política das mais promissoras das últimas
décadas em Pernambuco. E
acenava que poderia chegar mais longe, tanto que, depois de passar anos colado
com o Partido dos Trabalhadores (PT), resolveu abandonar o barco da estrela
solitária e singrar ele próprio o mar repleto de tubarões da política
brasileira, se lançando candidato na disputa pela presidência da República
neste ano.
Muito embora se apresentando como alguém que estava disposto
a fazer uma “nova política” no Brasil, Eduardo Campos, o candidato bem
apessoado e dono de vistosos olhos azuis, ainda não conseguira se livrar da
pátina vergonhosa que tanto se prende a espécimes que vão de malufs até
sarneys. O escândalo dos precatórios, havido na época em que ele era secretário
no governo do avô, nunca se desprendeu dele; e certamente seria o principal
ponto a ser atacado por seus adversários quando tivesse início a propaganda
eleitoral no rádio e na tevê. Além disso, para quem se apresentava como o
“novo”, repetir conchavos e alianças com antes declarados “inimigos políticos”,
não era nada alvissareiro; bem como a campanha que ele fez para que sua mãe,
Ana Arraes, ingressasse no Tribunal de Contas da União.
Indiscutivelmente Pernambuco deu um salto enorme,
economicamente falando, durante as duas gestões de Eduardo Campos como
governador de estado. É claro que o alinhamento com o executivo nacional na
pessoa de um também pernambucano, Luis Inácio Lula da Silva, contou muitíssimos
pontos a favor. Pernambuco, que vinha cada vez perdendo mais espaço no panorama
econômico nordestino, em particular, e brasileiro, em geral, tomou um fôlego
como há muito não se via; investimentos vultosos no polo de Suape, só para
ficar num exemplo, atraíram dezenas de empresas e impulsionou o desenvolvimento
de várias cadeias produtivas. Afora isso, o modelo de gestão do funcionalismo
público implantado por seus auxiliares passou a atrair olhares de outros governantes,
que viram em ações como o programa Pacto
pela vida e a busca pela melhoria do quadro educacional algo que merecia
ser replicado.
Com apenas quarenta e nove anos de idade, recentemente
completados, Eduardo Campos faleceu vítima de um acidente aéreo na manhã desta
quarta-feira, em Santos, cidade do litoral paulista. A morte, essa criatura
abominável que não poupa ninguém, ceifou a vida de um muito jovem político que,
em que pese alguns erros de percurso, portava-se como uma das mais promissoras
personalidades políticas deste país. Desde já, eu imagino, Pernambuco, o
Pernambuco de espírito guerreiro, progressista, valente e reivindicador, está
sentindo sua falta porque, das figuras públicas que restaram neste lugar,
nenhuma tem o carisma, o pensamento para frente, o destemor e a vontade de
vencer que tinha Eduardo Campos, um político que vinha, como nenhum outro,
batalhando para o engrandecimento de sua terra. Vocês verão: Eduardo Campos vai
fazer uma falta danada por aqui.
Grandes homens e grandes estadistas não se formam do dia
para noite. Levará tempo para que apareça, em Pernambuco, outro homem público
com a fibra e com a garra necessárias para a forja de um grande estadista,
destino para o qual Eduardo Campos parecia estar caminhando.
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