13 de agosto de 2014

Eduardo Campos: um audaz leão do Norte


Por Clênio Sierra de Alcântara


              Foto: internet          Eduardo Campos: um jovem político com vocação para ser um grande estadista                                                                                 


Sempre me posicionei de forma apartidária; e não apenas por convicção ideológica, mas também e, principalmente, porque a mim me importa observar o todo e ter autonomia e liberdade para avaliar o comportamento dos que integram o binômio “situação” e “oposição”, sem que eu tenha, como se diz por aqui, o rabo preso e comprometimento com quem quer que seja.

No Brasil o que deveria ser a essência de um partido político, a ideologia, é mero verniz para diferir uma agremiação de outra. Ninguém precisa ser um cientista político para constatar isso; basta que se veja a maneira venal com que as alianças se formam a todo momento e não somente em ano de eleições. Percebe-se que o fundamento ideológico desses tantos partidos – da louvada “pluralidade partidária” brasileira – que ocupam o cenário político nacional é um caldo que não dá sustância, uma vez que, isso sim, o princípio verdadeiramente basilar, o moto-contínuo deles é a conquista do poder; e para conquistá-lo, como se sabe, dar-se até um quarto ao diabo.

Com sua figura firmemente presa à do seu avô Miguel Arraes, Eduardo Campos logrou uma carreira política das mais promissoras das últimas décadas em Pernambuco. E acenava que poderia chegar mais longe, tanto que, depois de passar anos colado com o Partido dos Trabalhadores (PT), resolveu abandonar o barco da estrela solitária e singrar ele próprio o mar repleto de tubarões da política brasileira, se lançando candidato na disputa pela presidência da República neste ano.

Muito embora se apresentando como alguém que estava disposto a fazer uma “nova política” no Brasil, Eduardo Campos, o candidato bem apessoado e dono de vistosos olhos azuis, ainda não conseguira se livrar da pátina vergonhosa que tanto se prende a espécimes que vão de malufs até sarneys. O escândalo dos precatórios, havido na época em que ele era secretário no governo do avô, nunca se desprendeu dele; e certamente seria o principal ponto a ser atacado por seus adversários quando tivesse início a propaganda eleitoral no rádio e na tevê. Além disso, para quem se apresentava como o “novo”, repetir conchavos e alianças com antes declarados “inimigos políticos”, não era nada alvissareiro; bem como a campanha que ele fez para que sua mãe, Ana Arraes, ingressasse no Tribunal de Contas da União.

Indiscutivelmente Pernambuco deu um salto enorme, economicamente falando, durante as duas gestões de Eduardo Campos como governador de estado. É claro que o alinhamento com o executivo nacional na pessoa de um também pernambucano, Luis Inácio Lula da Silva, contou muitíssimos pontos a favor. Pernambuco, que vinha cada vez perdendo mais espaço no panorama econômico nordestino, em particular, e brasileiro, em geral, tomou um fôlego como há muito não se via; investimentos vultosos no polo de Suape, só para ficar num exemplo, atraíram dezenas de empresas e impulsionou o desenvolvimento de várias cadeias produtivas. Afora isso, o modelo de gestão do funcionalismo público implantado por seus auxiliares passou a atrair olhares de outros governantes, que viram em ações como o programa Pacto pela vida e a busca pela melhoria do quadro educacional algo que merecia ser replicado.

Com apenas quarenta e nove anos de idade, recentemente completados, Eduardo Campos faleceu vítima de um acidente aéreo na manhã desta quarta-feira, em Santos, cidade do litoral paulista. A morte, essa criatura abominável que não poupa ninguém, ceifou a vida de um muito jovem político que, em que pese alguns erros de percurso, portava-se como uma das mais promissoras personalidades políticas deste país. Desde já, eu imagino, Pernambuco, o Pernambuco de espírito guerreiro, progressista, valente e reivindicador, está sentindo sua falta porque, das figuras públicas que restaram neste lugar, nenhuma tem o carisma, o pensamento para frente, o destemor e a vontade de vencer que tinha Eduardo Campos, um político que vinha, como nenhum outro, batalhando para o engrandecimento de sua terra. Vocês verão: Eduardo Campos vai fazer uma falta danada por aqui.

Grandes homens e grandes estadistas não se formam do dia para noite. Levará tempo para que apareça, em Pernambuco, outro homem público com a fibra e com a garra necessárias para a forja de um grande estadista, destino para o qual Eduardo Campos parecia estar caminhando.





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