17 de agosto de 2014

Ofício e festa



 Por Clênio Sierra de Alcântara


Bons amigos, bons livros e uma consciência tranquila... esta é a vida ideal.                         Mark Twain


Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n’alma
É germe – que faz a palma,
É chuva – que faz o mar.

                                          O livro e a América. Castro Alves











Algumas pessoas me perguntam por que eu escrevo. Normalmente eu respondo que isso se dá porque como tentativa de eu retirar de mim algumas impurezas, de me expurgar. Mas não é só por isso. Afora o fato de existir nesse exercício intelectual – nesse ofício, fica melhor dito – algo que me escapa, algo que eu não sei explicar o porquê de ele estar em mim, sinto que escrevo também para acertar as contas com o meu passado; para me vingar de uma série de perturbações, absurdos e até da morte; para buscar compreender algumas inquietações existenciais; e para me manter vivo, porque o meu compromisso intelectual se dá justamente na dimensão do humano, na matéria do humano, sem metafísica nem nada que recaia no terreno do incognoscível. De modo que, escrever – e ler, evidentemente -, aciona em mim um mecanismo de forte ligação com este vasto mundo no qual habito. E eu não conheço nada que possa ser mais transgressor, influente e libertário do que o ato de escrever.

No próximo dia 27 de agosto, a partir das 19:00 h, ocorrerá, na Livraria Cultura do Paço Alfândega, no Recife, uma sessão de autógrafos dos meus dois primeiros livros: A Cidade e a História: alguns escritos acerca do universo urbano e das políticas de proteção e valorização do patrimônio histórico, artístico e cultural, que reúne, em sua maior parte, artigos publicados neste blog; e Maldita a hora em que estiveste aqui, uma reunião de contos. Produzidos por conta própria e com a colaboração de meia dúzia de amigos – meia dúzia não: exatamente cinco -, com os quais arrecadei 24,01% do valor total das despesas que tive com a gráfica, os títulos que ora vêm a lume são, seguramente, o início de uma trajetória que, espero, há de ser frutífera; prolífica eu não posso dizer, mas frutífera eu confio que será, porque tão grande quanto a minha sede de saber é o meu entendimento de que o conhecimento que se adquire deve ser incessantemente difundido; e eu creio que o que escrevo pode ser útil a alguém de alguma forma.

Na quase odisseia que eu enfrentei para lançar esses livros, as mais marcantes situações talvez tenham sido duas: alguns desencorajamentos de indivíduos que diziam que eu estava botando dinheiro fora, porque as pessoas não querem saber de livros e muito menos se eles são de um autor desconhecido; e as portas fechadas de algumas editoras que recusaram os meus trabalhos. Ah, meus caros leitores, isso em nada me abalou. Eu não deixei margem para tristeza, dúvidas, incertezas e arrependimentos. E segui em frente. E eu sou inteiramente responsável pelos erros e acertos que os dois livros possam conter, porque a própria revisão deles fui eu que fiz.

Dois fundamentos norteiam a minha pulsação de escrever: a coragem de dizer; e a ausência de concessões. Procuro de todas as formas não perder meus nortes e nem esmorecer no trato com a construção de minhas narrativas. Tenho plena consciência de que eu sou um escritor em construção; e de que, como pensava Oliveira Lima, nós aprendemos até morrer. Acredito que toda vez que escrevemos deixamos de algum modo o rastro de nossa compreensão e/ou incompreensão das coisas concretas e também abstratas que pontuam a nossa existência. Também creio que o principal compromisso do intelectual seja o de procurar, na medida do possível, clarificar tudo aquilo que se mostre obscuro para aqueles que de alguma maneira vivem sob a ausência da luz – luz aqui entendida, evidentemente, como ilustração.

Podem dizer o que quiserem a respeito do futuro do livro: que ele vai desaparecer; que ele se tornará obsoleto; e que ele, pelo menos na forma concreta como nós o conhecemos, não será necessário numa sociedade cada vez mais digital e conectada. O fato é que eu nunca abrirei mão dos livros. Eu nunca desistirei dos livros porque o meu apego a eles vai muito além da sede de saber: eu agarro e afago um livro, como quem agarra e afaga a própria vida.

No dia 27 de agosto eu estarei na Livraria Cultura todo pimpão e cheio de mim, em meio às coisas que amo e recebendo os amigos para que celebrem junto comigo este agora que permanecerá para todo o sempre na minha memória.












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