Por Clênio Sierra de Alcântara
Bons amigos, bons livros e uma
consciência tranquila... esta é a vida ideal. Mark
Twain
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n’alma
É germe – que faz a palma,
É chuva – que faz o mar.
O livro e a América. Castro Alves
Algumas
pessoas me perguntam por que eu escrevo. Normalmente eu respondo que isso se dá
porque como tentativa de eu retirar de mim algumas impurezas, de me expurgar.
Mas não é só por isso. Afora o fato de existir nesse exercício intelectual –
nesse ofício, fica melhor dito – algo que me escapa, algo que eu não sei
explicar o porquê de ele estar em mim, sinto que escrevo também para acertar as
contas com o meu passado; para me vingar de uma série de perturbações, absurdos
e até da morte; para buscar compreender algumas inquietações existenciais; e
para me manter vivo, porque o meu compromisso intelectual se dá justamente na
dimensão do humano, na matéria do humano, sem metafísica nem nada que recaia no
terreno do incognoscível. De modo que, escrever – e ler, evidentemente -,
aciona em mim um mecanismo de forte ligação com este vasto mundo no qual
habito. E eu não conheço nada que possa ser mais transgressor, influente e
libertário do que o ato de escrever.
No
próximo dia 27 de agosto, a partir das 19:00 h, ocorrerá, na Livraria Cultura
do Paço Alfândega, no Recife, uma sessão de autógrafos dos meus dois primeiros
livros: A Cidade e a História: alguns
escritos acerca do universo urbano e das políticas de proteção e valorização do
patrimônio histórico, artístico e cultural, que reúne, em sua maior parte, artigos publicados neste blog; e Maldita a hora em que estiveste aqui, uma reunião de contos.
Produzidos por conta própria e com a colaboração de meia dúzia de amigos – meia
dúzia não: exatamente cinco -, com os quais arrecadei 24,01% do valor total das
despesas que tive com a gráfica, os títulos que ora vêm a lume são,
seguramente, o início de uma trajetória que, espero, há de ser frutífera;
prolífica eu não posso dizer, mas frutífera eu confio que será, porque tão
grande quanto a minha sede de saber é o meu entendimento de que o conhecimento
que se adquire deve ser incessantemente difundido; e eu creio que o que escrevo
pode ser útil a alguém de alguma forma.
Na
quase odisseia que eu enfrentei para lançar esses livros, as mais marcantes
situações talvez tenham sido duas: alguns desencorajamentos de indivíduos que
diziam que eu estava botando dinheiro fora, porque as pessoas não querem saber
de livros e muito menos se eles são de um autor desconhecido; e as portas
fechadas de algumas editoras que recusaram os meus trabalhos. Ah, meus caros
leitores, isso em nada me abalou. Eu não deixei margem para tristeza, dúvidas,
incertezas e arrependimentos. E segui em frente. E eu sou inteiramente responsável pelos
erros e acertos que os dois livros possam conter, porque a própria revisão
deles fui eu que fiz.
Dois
fundamentos norteiam a minha pulsação de escrever: a coragem de dizer; e a
ausência de concessões. Procuro de todas as formas não perder meus nortes e nem
esmorecer no trato com a construção de minhas narrativas. Tenho plena
consciência de que eu sou um escritor em construção; e de que, como pensava
Oliveira Lima, nós aprendemos até morrer. Acredito que toda vez que escrevemos
deixamos de algum modo o rastro de nossa compreensão e/ou incompreensão das
coisas concretas e também abstratas que pontuam a nossa existência. Também
creio que o principal compromisso do intelectual seja o de procurar, na medida
do possível, clarificar tudo aquilo que se mostre obscuro para aqueles que de
alguma maneira vivem sob a ausência da luz – luz aqui entendida, evidentemente,
como ilustração.
Podem
dizer o que quiserem a respeito do futuro do livro: que ele vai desaparecer;
que ele se tornará obsoleto; e que ele, pelo menos na forma concreta como nós o
conhecemos, não será necessário numa sociedade cada vez mais digital e
conectada. O fato é que eu nunca abrirei mão dos livros. Eu nunca desistirei
dos livros porque o meu apego a eles vai muito além da sede de saber: eu agarro
e afago um livro, como quem agarra e afaga a própria vida.
No
dia 27 de agosto eu estarei na Livraria Cultura todo pimpão e cheio de mim, em
meio às coisas que amo e recebendo os amigos para que celebrem junto comigo
este agora que permanecerá para todo o sempre na minha memória.
E é por isso que eu te amo, desde 1998 !!!
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