Por Clênio Sierra de Alcântara
Imagem da internet |
Acredito que não há no mundo
quem conteste a máxima que diz que “a propaganda é a alma do negócio”. Anúncios
são a forma mais consagrada de fazer com que algo – um produto, um serviço, uma
ideia, etc. – se torne conhecido do grande público ou de um público específico.
E para atingir o consumidor recorre-se aos mais variados recursos publicitários
nos diferentes meios de comunicação.
Algumas peças publicitárias
– sobretudo as que são veiculadas pela televisão – apelam para o emocional,
outras procuram ser bem-humoradas, umas subestimam a inteligência do
telespectador e ainda existem as que descambam para um completo mau gosto, para
não dizer, para a ofensa mesmo. Esse exercício de convencimento é acompanhado
pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), que recebe
reclamações sobre os anúncios e, depois de avaliar se as queixas têm
fundamento, recomendam até que a propaganda pare de ser veiculada.
Propagandas eficientíssimas
são aquelas que despertam no público consumidor uma empatia tal que ele passa a
levar para a sua vida cotidiana além do que é anunciado, claro, os bordões dos
reclames e a denominar um dado produto a partir da marca fantasia. Ainda hoje
se diz por aqui: “Pega um bombril na
cozinha”, para se referir a uma lã de aço. Ou: “Bota um pouco de omo no tanque”, se referindo a sabão em
pó. E houve uma época em que modess
era sinônimo de absorvente íntimo feminino. E os de minha geração certamente
recordarão de bordões que eram repetidos à exaustão, como estes: “Bonita
camisa, Fernandinho!”; e “Quando a gente não quer, qualquer desculpa serve”.
Sem esquecer da utilização que se fazia deles no dia a dia: “Cadê fulano?”,
alguém perguntava; e se respondia: “Tomou Doril” – uma marca de analgésico -,
para dizer que não se sabia onde o fulano estava, uma vez que o slogan da
propaganda do medicamento dizia: “Tomou Doril, a dor sumiu”. E ainda tem aquele
anúncio maravilhoso que mostrava uma moça usando pela primeira vez um sutiã e
ao final o locutor completava: “O primeiro Valisère a gente nunca esquece”.
Quantas e quantas vezes não ouvimos “a primeira vez a gente nunca esquece”
relacionado a toda e qualquer coisa e/ou situação que fosse uma experiência
nova que estivéssemos vivenciando?
De uns tempos para cá a
propaganda brasileira, que é uma das mais premiadas do mundo, elegeu também a
vulgaridade e o mau gosto como meios de convencimento. Chegamos a ver um siri
humanizado que mostrava a bunda para o telespectador num comercial de cerveja;
e, mais recentemente, o anúncio de um site de vendas de objetos usados que,
fazendo uso de um famigerado e pegajoso bordão que dizia “Sabe de nada,
inocente”, punha uma mulher em traje de banho sendo chamada de ordinária e
levando o espectador a vê-la como uma esposa que aprontou alguma safadeza com o
marido – pelo menos foi essa a leitura que eu fiz -, ao qual o bordão era
dirigido. Ocorreu uma grita junto ao Conar e o reclame foi retirado de
circulação.
Ainda mais recente é uma
série de comerciais de uma cerveja que insiste em tratar o consumidor como um
completo idiotão, ao mostrar indivíduos em situações diversas que, quando
indagados por que fazem isso e aquilo, respondem com um estúpido “porque sim!”.
Ora, caras-pálidas, como dizia o personagem Telekid – interpretado pelo Marcelo
Tass -, do excelente Castelo Rá-Tim-Bum, “porque sim não é resposta”.
Argumentar, meus caros, dá trabalho, não é?
Sou de um tempo – e me
perdoem se aparento ser passadista; de verdade, eu não sou do tipo que pensa
que tudo do passado era melhor do que o que existe hoje – em que havia alguma
inocência e poesia. Nos dias que correm o apelo maior é para a greia, para o
achincalhe, para a licenciosidade, para o pouco ou nenhum pensar. Para mim, tão
nocivo quanto enxergar o mal em tudo, é não enxergá-lo em lugar nenhum.
(Artigo publicado também in: O Monitor [Garanhuns], Nº 168, novembro de 2014, Variedades, p. 5.)
(Artigo publicado também in: O Monitor [Garanhuns], Nº 168, novembro de 2014, Variedades, p. 5.)
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