22 de outubro de 2014

Na tua ausência


Por Clênio Sierra de Alcântara


De repente ser livre
até me assusta
me aceitar sem você
certas vezes me custa
como posso esquecer os costumes
se nem mesmo esqueci de você!
   
                                                       Costumes. Roberto Carlos/Erasmo Carlos


Nada poderá apagar o que vivemos
e nem fazer dissipar nossos desejos;
ninguém ocupará no meu coração o teu espaço, porque
êmulos nós não fomos, fomos cúmplices.









Autorretrato em dia de má solidão


Ainda há pouco pensei em ti e fui quase abatido por uma tristeza medonha. Poucos minutos atrás mergulhei em algumas lembranças e nesta tua ausência amarguei a incômoda verdade de que me fazes falta, muita falta.

Nunca imaginei que em pleno Rio de Janeiro, nas ruas estreitas e antigas do Rio de Janeiro, nessas ruas sobre as quais os livros tanto me diziam, eu iria sentir um vazio, porque tomado pela solidão. Feroz e agressiva solidão.

Não queria voltar para casa. Não queria encontrar um consolo. Não queria maldizer as circunstâncias. Não queria pensar em tudo o que poderia ter sido e que não foi. Não queria acreditar que erramos. Não queria empunhar de novo a bandeira da minha verdade e nem tampouco ver tremular a tua. Não queria fazer de mim o responsável pela nossa perda e nem tem acusar de nada. Não queria remendar os cacos de nossas brigas porque eles parecem não ter mais serventia. Não queria mais ouvir dizeres que eu não valho nada e que ainda assim me amas. Não queria ficar alimentando uma falsa esperança. Não queria me julgar incapaz de te querer outra vez. Não queria estabelecer regras de convivência. Não queria ler novamente o rol de coisas ruins que em mim enxergaste. Não queria transformar aquele nosso desentendimento em uma trincheira da qual eu nunca pudesse sair. Não queria pôr numa balança o bom e o mau de nós. Não queria continuar passando dias em procura de distrações. Não queria enxergar noutra pessoa a possibilidade de um futuro juntos. Não queria principiar outro ritual de cumplicidade. Não queria continuar caminhando sozinho. Não queria que uma outra metade me fizesse sentir um homem especial. Não queria confessar a mais ninguém meus anseios, tristezas, alegrias, planos e vontades. Não queria que os nossos passos tomassem direções opostas. Não queria que os nossos beijos deliciassem outras bocas. Não queria que o brilho dos nossos olhos irradiassem outras faces. Não queria que a pulsação do nosso sexo impulsionasse outros desejos. Não queria que a fonte do nosso sentimento maior secasse.

Tenho andado pelas ruas do Rio de Janeiro carregando comigo o desconforto de algo que pesa no peito e que eu, sozinho, não consigo acalentar para que se acalme e eu não ocupe minhas horas com pensamentos de desilusão.

Continuo com o mesmo espírito de cão vadio que vaga pelo mundo ora muito desconfiado, ora se deixando afagar, porque carente de certas gentilezas. Eu, que por certo tempo me queria só, hoje ando estendendo a mão para segurar outra. Eu, que passei quase toda a minha vida ignorando o amor, comecei a me perceber amando.








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