Por Clênio Sierra de
Alcântara
De
repente ser livre
até
me assusta
me
aceitar sem você
certas
vezes me custa
como
posso esquecer os costumes
se
nem mesmo esqueci de você!
Costumes.
Roberto Carlos/Erasmo Carlos
Nada poderá apagar o que
vivemos
e nem fazer dissipar nossos
desejos;
ninguém ocupará no meu
coração o teu espaço, porque
êmulos nós não fomos, fomos
cúmplices.
Ainda há pouco pensei em ti e fui quase abatido por uma tristeza medonha. Poucos minutos atrás mergulhei em algumas lembranças e nesta tua ausência amarguei a incômoda verdade de que me fazes falta, muita falta.
Nunca imaginei que em pleno Rio de Janeiro, nas ruas estreitas e antigas do Rio de Janeiro, nessas ruas sobre as quais os livros tanto me diziam, eu iria sentir um vazio, porque tomado pela solidão. Feroz e agressiva solidão.
Não queria voltar para casa.
Não queria encontrar um consolo. Não queria maldizer as circunstâncias. Não queria
pensar em tudo o que poderia ter sido e que não foi. Não queria acreditar que
erramos. Não queria empunhar de novo a bandeira da minha verdade e nem tampouco
ver tremular a tua. Não queria fazer de mim o responsável pela nossa perda e
nem tem acusar de nada. Não queria remendar os cacos de nossas brigas porque
eles parecem não ter mais serventia. Não queria mais ouvir dizeres que eu não
valho nada e que ainda assim me amas. Não queria ficar alimentando uma falsa
esperança. Não queria me julgar incapaz de te querer outra vez. Não queria
estabelecer regras de convivência. Não queria ler novamente o rol de coisas
ruins que em mim enxergaste. Não queria transformar aquele nosso
desentendimento em uma trincheira da qual eu nunca pudesse sair. Não queria pôr
numa balança o bom e o mau de nós. Não queria continuar passando dias em
procura de distrações. Não queria enxergar noutra pessoa a possibilidade de um
futuro juntos. Não queria principiar outro ritual de cumplicidade. Não queria
continuar caminhando sozinho. Não queria que uma outra metade me fizesse sentir
um homem especial. Não queria confessar a mais ninguém meus anseios, tristezas,
alegrias, planos e vontades. Não queria que os nossos passos tomassem direções
opostas. Não queria que os nossos beijos deliciassem outras bocas. Não queria
que o brilho dos nossos olhos irradiassem outras faces. Não queria que a
pulsação do nosso sexo impulsionasse outros desejos. Não queria que a fonte do
nosso sentimento maior secasse.
Tenho andado pelas ruas do Rio
de Janeiro carregando comigo o desconforto de algo que pesa no peito e que eu,
sozinho, não consigo acalentar para que se acalme e eu não ocupe minhas horas
com pensamentos de desilusão.
Continuo com o mesmo
espírito de cão vadio que vaga pelo mundo ora muito desconfiado, ora se
deixando afagar, porque carente de certas gentilezas. Eu, que por certo tempo
me queria só, hoje ando estendendo a mão para segurar outra. Eu, que passei
quase toda a minha vida ignorando o amor, comecei a me perceber amando.
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