26 de novembro de 2014

Doar sangue é um compromisso social

Por Clênio Sierra de Alcântara



Fotos: do autor (a maioria)



Quando, há mais de quinze anos, eu me encaminhei a um hemocentro para efetuar a minha primeira doação de sangue, não fui carregando o medo da dor que o processo, segundo alguns me diziam, acarretava. Tudo ali era novo para mim: o lugar, a instituição, a avaliação prévia do possível doador, o procedimento de coleta e armazenamento do “líquido precioso” – na verdade, ensina a Cartilha do doador, o sangue, apesar de líquido, é considerado um tecido. Recordo que senti uma dorzinha quando da introdução da agulha; e que logo relaxei naquela cadeira, me sentindo importante por saber que o meu sangue poderia servir para salvar a vida de uma ou mais pessoas.







Desde aquele dia eu decidi que me tornaria um doador habitual, com carteirinha e tudo; e que me manteria tentando arregimentar entre os meus conhecidos mais doadores. Passados tantos anos – e dezenas de doações – a compreensão da importância do ato de doar sangue se consolidou em mim de tal maneira, que eu passei a enxergá-lo não como uma obrigação e sim, como um compromisso social, porque viver em sociedade, acredito, requer de cada um que nela está inserido, algum tipo de comprometimento para com o bem-estar da coletividade. E não pense leitor, que escrevo isso me derramando em um pieguismo barato. Não, nada disso. Altruísmo? Também. Mas o que realmente me move – não só nessa, mas também em outras frentes – em tal resolução é a essência pragmática de minha personalidade: eu sempre penso que poderei algum dia estar nas dependências de um hospital necessitando de transfusão de sangue e que, nessa circunstância, terei de contar com pessoas que, como eu, se dispõem a contribuir para que os bancos de sangue mantenham um estoque razoável para atender a quem dele precisar. Trata-se, portanto, de um auxílio mútuo. Sendo assim, caro amigo que me lê agora, seja qual for o sentimento que lhe move, torne-se um doador. Doar sangue, você verá, não nos enfraquece. Muito pelo contrário.




O bolo ficou bonito e muito gostoso













Na quinta-feira da semana passada eu recebi uma ligação da Fundação Hemope, o principal hemocentro de Pernambuco. Fui parabenizado – sinceramente não precisava – por ter efetuado cinquenta doações; e, por isso, convidado a tomar parte, na sede da instituição, na Rua Joaquim Nabuco, no bairro das Graças, no Recife, na manhã do dia 25 de novembro – início da Semana do Doador de Sangue; e dia do aniversário do Hemope, que iria completar trinta e sete anos de bons serviços prestados à sociedade -, de uma, digamos, celebração-homenagem a mim e a outros doadores que alcançaram números expressivos de doações. Num primeiro momento eu pensei em agradecer pela iniciativa e recusar o convite; e falei para a simpática moça que me ligou que eu daria a resposta no dia seguinte. Pensei, pensei e avaliei a celebração como um meio de dar visibilidade a uma ação à qual todo cidadão que goza de boa saúde deveria aderir. Liguei para o hemocentro e confirmei minha presença.




Doadores em potencial aguardando a vez na fila da triagem







Assim foi que eu saí de casa ontem bem cedo – vestindo camiseta vermelha, claro – para participar do evento. Quando cheguei à Fundação Hemope já encontrei o ambiente agitado e com uma boa vibração. No grande salão da recepção, no lado esquerdo, doadores em potencial aguardavam a vez para passar na triagem; e, no lado direito, tudo ia se arrumando para que a solenidade tivesse início.


Até  super-herois compareceram para prestigiar o evento







Maestro Josias no comando do Vozes do Recife



E o evento começou em grande estilo, com o Maestro Josias mandando ver no teclado a bonita “Lembrança”; depois, sob a sua condução, se apresentou o harmonioso Coral Vozes do Recife, que entoou canções natalinas e algo mais. Em seguida, os homenageados foram chamados para receber um certificado, a nova carteira do doador e um broche que identificava a quantidade de doações realizadas. As autoridades da instituição fizeram breves discursos. O Vozes do Recife nos embalou um pouco mais, antes de partirmos para os comes e bebes: o bolo confeitado estava delicioso.



Sala de coleta de sangue




Estou aqui realizando mais uma doação



Foi uma manhã radiosa a que eu vivenciei ontem. Renovei meu compromisso como doador aproveitando o ensejo para efetuar minha 51ª doação – não havia maneira melhor de eu contribuir para a realização de um evento de tal natureza e importância.





Eu no momento em que recebia o meu certificado

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