Por Clênio Sierra de Alcântara
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Fotos: do autor (a maioria) |
Quando, há mais de quinze
anos, eu me encaminhei a um hemocentro para efetuar a minha primeira doação de
sangue, não fui carregando o medo da dor que o processo, segundo alguns me
diziam, acarretava. Tudo ali era novo para mim: o lugar, a instituição, a
avaliação prévia do possível doador, o procedimento de coleta e armazenamento
do “líquido precioso” – na verdade, ensina a Cartilha do doador, o sangue, apesar de líquido, é considerado um tecido.
Recordo que senti uma dorzinha quando da introdução da agulha; e que logo
relaxei naquela cadeira, me sentindo importante por saber que o meu sangue
poderia servir para salvar a vida de uma ou mais pessoas.
Desde aquele dia eu decidi
que me tornaria um doador habitual, com carteirinha e tudo; e que me manteria
tentando arregimentar entre os meus conhecidos mais doadores. Passados tantos
anos – e dezenas de doações – a compreensão da importância do ato de doar
sangue se consolidou em mim de tal maneira, que eu passei a enxergá-lo não como
uma obrigação e sim, como um compromisso social, porque viver em sociedade,
acredito, requer de cada um que nela está inserido, algum tipo de
comprometimento para com o bem-estar da coletividade. E não pense leitor, que
escrevo isso me derramando em um pieguismo barato. Não, nada disso. Altruísmo?
Também. Mas o que realmente me move – não só nessa, mas também em outras
frentes – em tal resolução é a essência pragmática de minha personalidade: eu
sempre penso que poderei algum dia estar nas dependências de um hospital
necessitando de transfusão de sangue e que, nessa circunstância, terei de
contar com pessoas que, como eu, se dispõem a contribuir para que os bancos de
sangue mantenham um estoque razoável para atender a quem dele precisar.
Trata-se, portanto, de um auxílio mútuo. Sendo assim, caro amigo que me lê
agora, seja qual for o sentimento que lhe move, torne-se um doador. Doar
sangue, você verá, não nos enfraquece. Muito pelo contrário.
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O bolo ficou bonito e muito gostoso |
Na quinta-feira da semana passada
eu recebi uma ligação da Fundação Hemope, o principal hemocentro de Pernambuco.
Fui parabenizado – sinceramente não precisava – por ter efetuado cinquenta
doações; e, por isso, convidado a tomar parte, na sede da instituição, na Rua
Joaquim Nabuco, no bairro das Graças, no Recife, na manhã do dia 25 de novembro
– início da Semana do Doador de Sangue; e dia do aniversário do Hemope, que iria
completar trinta e sete anos de bons serviços prestados à sociedade -, de uma,
digamos, celebração-homenagem a mim e a outros doadores que alcançaram números
expressivos de doações. Num primeiro momento eu pensei em agradecer pela
iniciativa e recusar o convite; e falei para a simpática moça que me ligou que
eu daria a resposta no dia seguinte. Pensei, pensei e avaliei a celebração como
um meio de dar visibilidade a uma ação à qual todo cidadão que goza de boa
saúde deveria aderir. Liguei para o hemocentro e confirmei minha presença.
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Doadores em potencial aguardando a vez na fila da triagem |
Assim foi que eu saí de casa
ontem bem cedo – vestindo camiseta vermelha, claro – para participar do evento.
Quando cheguei à Fundação Hemope já encontrei o ambiente agitado e com uma boa
vibração. No grande salão da recepção, no lado esquerdo, doadores em potencial
aguardavam a vez para passar na triagem; e, no lado direito, tudo ia se arrumando
para que a solenidade tivesse início.
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Até super-herois compareceram para prestigiar o evento |
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Maestro Josias no comando do Vozes do Recife |
E o evento começou em grande
estilo, com o Maestro Josias mandando ver no teclado a bonita “Lembrança”;
depois, sob a sua condução, se apresentou o harmonioso Coral Vozes do Recife,
que entoou canções natalinas e algo mais. Em seguida, os homenageados foram
chamados para receber um certificado, a nova carteira do doador e um broche que
identificava a quantidade de doações realizadas. As autoridades da instituição
fizeram breves discursos. O Vozes do Recife nos embalou um pouco mais, antes de
partirmos para os comes e bebes: o bolo confeitado estava delicioso.
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Sala de coleta de sangue |
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Estou aqui realizando mais uma doação |
Foi uma manhã radiosa a que
eu vivenciei ontem. Renovei meu compromisso como doador aproveitando o ensejo
para efetuar minha 51ª doação – não havia maneira melhor de eu contribuir para
a realização de um evento de tal natureza e importância.
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Eu no momento em que recebia o meu certificado |
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