Por Clênio Sierra de Alcântara
Foto: Silvia Ferreira 15 de novembro de 2013 - Última aparição pública de Edson Nery da Fonseca na ocasião em que foi homenageado na 4ª Feira do Livro, em Olinda |
Neste novo livro Edson Nery da Fonseca expõe mais uma vez sua maestria no trato com o legado memorialístico |
Bibliotecário por formação e amante incondicional dos livros, Edson Nery da
Fonseca empreendeu ao longo de mais da metade dos seus noventa e dois anos de
vida, a tarefa, para alguns árdua, de promover o estímulo à leitura e à
pesquisa fosse como professor, fosse como consultor para aquisição de acervos e
constituição de bibliotecas, fosse como um gentil-homem que apreciava
participar de palestras e conferências esbanjando toda a sua pose elegante e
toda a sua simpatia que conquistava as mais distintas plateias.
Desfrutei
do enorme privilégio de ter convivido não apenas com o admirado intelectual,
mas também com o homem Edson Nery da Fonseca; e posso dizer, sem reservas, que
essa convivência constituiu uma das experiências mais enriquecedoras que vivi.
De modo que é novamente me sentindo muito, muitíssimo honrado que eu tenho a
satisfação de anunciar aqui o lançamento de mais uma obra fruto da nossa
parceria. Na ocasião das comemorações dos seus noventa anos, em 2011, trouxemos
a lume o livro O grande
sedutor: escritos sobre Gilberto Freyre de 1945 até hoje, lançado pela
Editora Cassará, do Rio de Janeiro; agora está à disposição do público leitor Tentativas de interpretação,
também saído pela Cassará, e que condensa textos originalmente publicados na
forma de opúsculos, artigos de jornais e colaborações em livros. Em todos eles,
verificarão os leitores, Edson Nery da Fonseca exibe uma de suas qualidades que
eu mais admiro: a capacidade de fazer da matéria das lembranças pessoais um dos
esteios da tecedura de sua escrita. Edson vai e vem no tempo alinhavando
acontecimentos, descrevendo situações e evocando personagens e lugares que ele
conheceu pessoalmente e/ou que lhe foram apresentados pelos livros, como Mauro
Mota, Murilo Mendes, Assis Chateaubriand e Castro Alves, o Recife e Brasília.
Em páginas de pura fineza,
que escreveu apresentando Tentativas de
interpretação, mestre Lourival Holanda nos diz, em determinado momento, que
trata-se de uma publicação importante porque leva às gerações recentes um
“tesouro acumulado por tanto tempo de frequentações literárias e densa vivência
humana”; e completa: “Partilhar é já um modo de multiplicar sua eficácia
seminal das obras que germinam em silêncio, levando adiante uma ideia de
cultura feita de ressonâncias e ressurgências – quando as águas profundas
fecundam a superfície”.
A importância de Edson Nery
da Fonseca em minha vida começou a ser desenhada ainda antes de eu o conhecer
pessoalmente; ela teve início quando eu principiei a percorrer os caminhos da
obra de Gilberto Freyre por ele sinalizados; e, tendo-o conhecido, ele foi
tomando conta de mim e eu dele na medida do possível, como só os amigos que
verdadeiramente se amam cuidam um do outro.
Neste dia seis de dezembro
Edson Nery da Fonseca completaria noventa e três anos de idade. Sinto dele uma
imensa saudade, porque ele me é muito caro. Daí por que eu quis encerrar esta
evocação com estes versos do poema “A viagem”, de Charles Baudelaire, na
tradução cheia de frescor de Jamil Almansur Haddad: “Ah, como o mundo é grande
ao resplendor das lâmpadas!/ Aos olhos da saudade, ah, que é pequeno o mundo!”.
(Artigo publicado também in O Monitor [Garanhuns], Nº 169, Opinião, p. 2, dezembro de 2014.)
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