Por Clênio Sierra de Alcântara
Com a colaboração de todos iremos pôr novamente o Centro Cultural Estrela de Lia de pé, porque uma roda de ciranda não pode ficar parada |
Integrante de um grupo
constituído, entre outros, por Beto Hees, Roger de Renor e Demétrio
Albuquerque, que concebeu uma campanha lançada na última quarta-feira com
vistas a arrecadar fundos para a reconstrução do Centro Cultural Estrela de Lia
– CCEL, em Jaguaribe, na Ilha de Itamaracá, e alguém que muito admira essa
importante artista pernambucana, resolvi escrever este artigo como modo de
esclarecer certas afirmações que têm circulado na imprensa a propósito do CCEL,
do qual a maior parte da estrutura ruiu em janeiro deste ano, na ocasião em que
Lia completou setenta anos de vida.
É fato que o senhor Yves
Ribeiro, em nome do Governo do Estado, contactou Lia de Itamaracá mais de uma
vez, assumindo o compromisso de conseguir junto ao executivo estadual meios
para reconstruir o CCEL, como pude testemunhar num encontro que ele, que é amigo
de longa data da grande diva, manteve na casa dela numa chuvosa manhã de
fevereiro. O que deve ficar muitíssimo claro é que, independentemente de o
Governo do Estado vir a disponibilizar ou não algum tipo de recurso para a
reestruturação do centro cultural – e vale dizer que recentemente o deputado
estadual Guilherme Uchoa acenou com a possibilidade de serem disponibilizados
R$ 100.000,00 através de uma emenda parlamentar -, nós estamos firmes com o
nosso objetivo de conseguirmos com a campanha angariar o capital necessário
para revitalizar o CCEL e fazê-lo brilhar com a mesma intensidade da época em
que figurava como o único espaço de toda a Ilha de Itamaracá a abrigar
manifestações culturais aliadas com ações de cidadania, como a realização de
cursos de culinária e de percussão, além de palestras que abordavam questões
como preservação ambiental e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.
Foto: Beto Hees Eu e Lia no camarim de uma apresentação no Recife |
Incomoda-me sobremaneira
os discursos que procuram atribuir à “situação” a falta de apoio para que Lia de
Itamaracá consiga recuperar o CCEL, um espaço destinado principalmente a toda
população itamaracaense e não apenas aos turistas e demais visitantes. Acontece
que a oposição de hoje parece esquecer que já foi situação e que, como tal,
igualmente à atual gestão municipal da ilha, não moveu nem uma palha ou tronco
de coqueiro para ajudar a famosa cirandeira a pôr o CCEL de pé em 2005. Pelo
contrário; até onde eu sei a gestão anterior chegou ao fim e ficou devendo dois
cachês à nossa tão admirada e por vezes desprezada artista popular, que é
reconhecida por lei como Patrimônio Vivo de Pernambuco.
Compreendo perfeitamente a
atitude de alguns gestores da coisa pública – coisa pública, enfatize-se isso –
em negar apoio à Lia de Itamaracá dando como desculpa o fato de ela ser
assessorada e empresariada por Beto Hees. Essa gente tem Beto Hees como persona
non grata porque não aceita ser confrontada, não tolera a determinação
dele em querer brigar pelo pagamento de um cachê decente não só para Lia, mas
para todo artista popular; essa gente fica brava quando ele procura a imprensa
para denunciar os atrasos dos pagamentos dos tais cachês e quaisquer outros
abusos praticados por gestores culturais que a despeito de propagandearem a
exaltação dos artistas da terra, não se furtam em contratar a peso de ouro
coisas culturalmente irrelevantes como bandas pornobregas para se apresentarem
nas festas do município. Não tivesse a personalidade destemida que tem, Beto
Hees não teria conseguido alçar Lia de Itamaracá ao patamar que ela conquistou
de artista popular que já se apresentou em todas as capitais do país e
excursionou até pela Europa. Quem conhece a cirandeira de perto sabe bem o
quanto que ela é grata a Beto Hees, porque vê nele o responsável por sua
reaparição no cenário cultural brasileiro numa parceria que já dura dezessete
anos.
Foto: do autor Beto Hees arrumando a negona para uma sessão de fotos destinada à revista Serafina da Folha de S. Paulo |
A campanha de
financiamento coletivo CiranDar
as Mãos, organizada pela Catarse e que conta com elementos de
identidade visual criados pela agência de publicidade Curinga Comuniquê, do Recife,
nossa parceira, foi lançada no último dia 10 de dezembro e vai se estender até
08 de fevereiro de 2015. Durante esse período, que não é longo, objetivamos
arrecadar os R$ 169.470,00 necessários para pôr o CCEL novamente de pé. Ao
acessar o endereço www.liadeitamaraca.com/cirandarasmaos,
o interessado em contribuir com a campanha encontra todas as informações
necessárias para efetuar a doação, além de se inteirar da natureza do projeto,
da trajetória de Lia e do modo muito transparente com que essa ação está sendo
conduzida. Então, gente, vamos unir forças e fazer isso acontecer. Vamos
colaborar para que a ciranda, essa manifestação cultural tão aglutinadora –
ora, ninguém dança ciranda sozinho, não é verdade? -, volte a ter o seu espaço,
de modo a ser preservada e repassada para as próximas gerações.
Estamos plenamente
confiantes de que dentro de alguns meses o Centro Cultural Estrela de Lia
abrirá novamente suas portas; e que Lia, a negona a quem eu chamo de sereia
negra, estará lá toda emperiquitada, cheirosa que só ela, com um sorriso largo
e aliciante, e com muito axé para dar, convidando a todos – a todos mesmo,
situação e oposição - para tomar parte na roda e cirandar, cantando assim: “Essa
ciranda não é minha só, é de todos nós, é de todos nós”.
(Artigo publicado também in O Monitor [Garanhuns], janeiro de 2015, Nº 170, Opinião, p. 2)
(Artigo publicado também in O Monitor [Garanhuns], janeiro de 2015, Nº 170, Opinião, p. 2)
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