13 de dezembro de 2014

Centro Cultural Estrela de Lia – Alguns esclarecimentos

Por Clênio Sierra de Alcântara



Com a colaboração de todos iremos pôr novamente o Centro Cultural Estrela de Lia de pé, porque uma roda de ciranda não pode ficar parada

Integrante de um grupo constituído, entre outros, por Beto Hees, Roger de Renor e Demétrio Albuquerque, que concebeu uma campanha lançada na última quarta-feira com vistas a arrecadar fundos para a reconstrução do Centro Cultural Estrela de Lia – CCEL, em Jaguaribe, na Ilha de Itamaracá, e alguém que muito admira essa importante artista pernambucana, resolvi escrever este artigo como modo de esclarecer certas afirmações que têm circulado na imprensa a propósito do CCEL, do qual a maior parte da estrutura ruiu em janeiro deste ano, na ocasião em que Lia completou setenta anos de vida.


É fato que o senhor Yves Ribeiro, em nome do Governo do Estado, contactou Lia de Itamaracá mais de uma vez, assumindo o compromisso de conseguir junto ao executivo estadual meios para reconstruir o CCEL, como pude testemunhar num encontro que ele, que é amigo de longa data da grande diva, manteve na casa dela numa chuvosa manhã de fevereiro. O que deve ficar muitíssimo claro é que, independentemente de o Governo do Estado vir a disponibilizar ou não algum tipo de recurso para a reestruturação do centro cultural – e vale dizer que recentemente o deputado estadual Guilherme Uchoa acenou com a possibilidade de serem disponibilizados R$ 100.000,00 através de uma emenda parlamentar -, nós estamos firmes com o nosso objetivo de conseguirmos com a campanha angariar o capital necessário para revitalizar o CCEL e fazê-lo brilhar com a mesma intensidade da época em que figurava como o único espaço de toda a Ilha de Itamaracá a abrigar manifestações culturais aliadas com ações de cidadania, como a realização de cursos de culinária e de percussão, além de palestras que abordavam questões como preservação ambiental e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.



Foto: Beto Hees         Eu e Lia no camarim de uma apresentação no Recife


Incomoda-me sobremaneira os discursos que procuram atribuir à “situação” a falta de apoio para que Lia de Itamaracá consiga recuperar o CCEL, um espaço destinado principalmente a toda população itamaracaense e não apenas aos turistas e demais visitantes. Acontece que a oposição de hoje parece esquecer que já foi situação e que, como tal, igualmente à atual gestão municipal da ilha, não moveu nem uma palha ou tronco de coqueiro para ajudar a famosa cirandeira a pôr o CCEL de pé em 2005. Pelo contrário; até onde eu sei a gestão anterior chegou ao fim e ficou devendo dois cachês à nossa tão admirada e por vezes desprezada artista popular, que é reconhecida por lei como Patrimônio Vivo de Pernambuco.

Compreendo perfeitamente a atitude de alguns gestores da coisa pública – coisa pública, enfatize-se isso – em negar apoio à Lia de Itamaracá dando como desculpa o fato de ela ser assessorada e empresariada por Beto Hees. Essa gente tem Beto Hees como persona non grata porque não aceita ser confrontada, não tolera a determinação dele em querer brigar pelo pagamento de um cachê decente não só para Lia, mas para todo artista popular; essa gente fica brava quando ele procura a imprensa para denunciar os atrasos dos pagamentos dos tais cachês e quaisquer outros abusos praticados por gestores culturais que a despeito de propagandearem a exaltação dos artistas da terra, não se furtam em contratar a peso de ouro coisas culturalmente irrelevantes como bandas pornobregas para se apresentarem nas festas do município. Não tivesse a personalidade destemida que tem, Beto Hees não teria conseguido alçar Lia de Itamaracá ao patamar que ela conquistou de artista popular que já se apresentou em todas as capitais do país e excursionou até pela Europa. Quem conhece a cirandeira de perto sabe bem o quanto que ela é grata a Beto Hees, porque vê nele o responsável por sua reaparição no cenário cultural brasileiro numa parceria que já dura dezessete anos.




Foto: do autor          Beto Hees arrumando a negona para uma sessão de fotos destinada à revista Serafina da Folha de S. Paulo


A campanha de financiamento coletivo CiranDar as Mãos, organizada pela Catarse e que conta com elementos de identidade visual criados pela agência de publicidade Curinga Comuniquê, do Recife, nossa parceira, foi lançada no último dia 10 de dezembro e vai se estender até 08 de fevereiro de 2015. Durante esse período, que não é longo, objetivamos arrecadar os R$ 169.470,00 necessários para pôr o CCEL novamente de pé. Ao acessar o endereço www.liadeitamaraca.com/cirandarasmaos, o interessado em contribuir com a campanha encontra todas as informações necessárias para efetuar a doação, além de se inteirar da natureza do projeto, da trajetória de Lia e do modo muito transparente com que essa ação está sendo conduzida. Então, gente, vamos unir forças e fazer isso acontecer. Vamos colaborar para que a ciranda, essa manifestação cultural tão aglutinadora – ora, ninguém dança ciranda sozinho, não é verdade? -, volte a ter o seu espaço, de modo a ser preservada e repassada para as próximas gerações.

Estamos plenamente confiantes de que dentro de alguns meses o Centro Cultural Estrela de Lia abrirá novamente suas portas; e que Lia, a negona a quem eu chamo de sereia negra, estará lá toda emperiquitada, cheirosa que só ela, com um sorriso largo e aliciante, e com muito axé para dar, convidando a todos – a todos mesmo, situação e oposição - para tomar parte na roda e cirandar, cantando assim: “Essa ciranda não é minha só, é de todos nós, é de todos nós”.


(Artigo publicado também in O Monitor [Garanhuns], janeiro de 2015, Nº 170, Opinião, p. 2)



Nenhum comentário:

Postar um comentário