16 de janeiro de 2015

O bê-a-bá da deseducação


Por Clênio Sierra de Alcântara



A educação de boa qualidade pode desencadear um monte coisas positivas, dentre elas o aprendizado de que uma eficiente higiene bucal garante dentes limpos e saudáveis


Quem acompanhou os embates da disputa eleitoral que miravam a ocupação do Palácio do Planalto, com certeza não esqueceu que a então candidata à reeleição Dilma Rousseff se portava como uma governante que, em caso de vitória nas urnas, implantaria um governo novo com ideias novas. Que a presidente Dilma Rousseff tem uma dificuldade imensa de fazer discursos coesos e coerentes isso também já é público e notório: no dia em que for publicada uma coletânea com o melhor – melhor?! – das frases mais disparatadas ditas por ela, até os mais vermelhos petistas irão concordar com a tese de que o secador de cabelo do Celso Kamura só fez derreter um pouco mais a massa cinzenta da presidente. Sorry, periferia!

Como se sabe, nunca antes na história deste país, foram criados tantos ministérios como nos governos do Partido dos Trabalhadores. Tivesse o propósito honroso de ser uma possibilidade de dinamizar e melhorar o trato com a coisa pública e de buscar soluções concretas para os graves problemas socioeconômicos – nunca é demais listá-los: infraestrutura, segurança pública, saúde, educação... – que assolam o país de norte a sul, vá lá que até se compreenderia a megalomania. Mas não é assim. Os ministérios foram sendo criados tão somente para alojar os chamados “aliados”, os partidos que garantiriam a governabilidade. E eis aí um dos fundamentos da paralisia do Brasil: como vai se promover o desenvolvimento e a pujança de um país, tendo um quadro gigantesco de ministérios comandados, em geral, por indivíduos com evidente desconhecimento do que tratam as pastas para as quais eles são designados? Isso por si só já demonstra como de “novo” esse governo da presidente Dilma não tem nada. E a história recente nos mostrou que para piorar o cenário, alguns ministros se esforçaram não para promover o desenvolvimento da nação, mas para encher os seus próprios bolsos. E assim a vida segue com os descalabros da vanguarda do atraso.

Governo novo, ideias novas, eis a divisa. Nada novo no front. Depois de irresponsavelmente represar os reajustes de combustíveis, energia elétrica e outros mais, a sabichona presidente, agora que foi reeleita, resolveu abrir as comportas dos aumentos em série. A economia produziu um PIB nanico. A inflação mostrou seus dentes vorazes. Governo novo, ideias novas, eis o brado retumbante. Continuamos com estradas esburacadas. Pessoas morrem aos montes esperando atendimento nos hospitais públicos e nas mãos de criminosos. Governo novo, ideias novas, eis a máxima marqueteira.

Como a miséria, que vinha recuando, não recuou nos últimos quatro anos, verificou-se que o correto seria mudar o slogan do novo governo: no lugar de “Pais rico é país sem pobreza”, pôs-se um “Brasil, pátria educadora”, tendo a presidente pronunciado em seu discurso de posse que “a educação será a prioridade das prioridades” dessa sua segunda gestão. Das duas uma: ou a presidente não sabe o significado da palavra “prioridade” ou ela utilizou o termo “educadora” referindo-se a um outro tipo de educação que não é a que é ensinada nas salas de aula. Será? Bem, em se tratando de alguém que disse que “depois que a pasta de dentes sai do dentrifício, ela, dificilmente, volta para dentro do dentrifício”, não se pode deixar de pensar no pior. Caso não,  vejamos: como é que se alardeia para toda a não que a educação será a “prioridade das prioridades” e, dias depois, num completo contrassenso, anuncia que o Ministério da Educação sofrerá um corte 500 milhões de reais em seu orçamento?

Que começo triste, senhora presidente! Que início de governo desalentador, presidenta! Que prioridade é essa, afinal? Como a digníssima espera mudar o panorama sofrível da educação brasileira com menos dinheiro em caixa? Como é que com menos recursos a senhora vai conseguir levar água, luz, carteiras, livros, banheiros, professores, merenda e tantas outras demandas para o sem-número de escolas onde faltam coisas básicas como essas? Como a senhora espera que crianças acreditem no poder transformador da educação se nas escolas que frequentam elas têm de sentar no chão para assistirem às aulas, não encontram água para beber, não sabem o que é uma biblioteca e precisam ir até uma touceira para fazerem suas necessidades?

Sinceramente, presidente Dilma, seu comportamento me faz pensar que a senhora não conhece verdadeiramente o drama vivenciado por tantos estudantes por este país afora. Presidente Dilma, mesmo em escolas onde aparentemente não está faltando nenhum equipamento e tudo se encontra certinho, o corpo discente não tem se saído bem nos exames nacionais e internacionais, demonstrando que há alguma coisa errada ou com o corpo docente ou com os cursos de Pedagogia que seus componentes frequentaram. Agora imagine, presidente Dilma, o nível de ensino que é conquistado por alguém que frequenta uma escola carente de quase tudo, inclusive de mestres?

Presidente Dilma Rousseff, investimentos em educação não dão resultado a curto prazo, como todos nós sabemos. É preciso que a educação seja tratada de fato como prioridade, porque o Brasil está caminhando para ser uma nação não de iletrados, mas de analfabetos funcionais, que é quase a mesma coisa. Passa dos dez milhões o número de analfabetos. A taxa de evasão escolar entre os jovens é altíssima. Os cursos de licenciatura vêm amargando ano após ano a diminuição do número de alunos que neles se matriculam. A violência nas escolas cresce de forma assustadora...

Pergunte ao seu recém-empossado ministro Cid Gomes, senhora presidente Dilma Rousseff, se ele tem algum dado positivo sobre a pasta que ele assumiu. Possivelmente ele lhe dirá que o programa de assistência social Bolsa Família contribuiu para que os alunos cadastrados nele frequentassem com mais assiduidade as aulas, uma das exigências para o recebimento do auxílio pecuniário. Tem mais alguma coisa? Provavelmente não. E para marcar de forma ainda mais amarga esse seu começo de gestão chega-nos a notícia, divulgada nesta semana pelo Mesmo Ministério da Educação que a senhora deixou mais pobre, que 529.374 (quinhentos e vinte e nove mil, trezentos e setenta e quatro) estudantes tiraram nota zero na última edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Não é espantoso, presidente?

De tanto protelar um compromisso firme com a educação do seu povo, os governantes deste país vêm assistindo, há décadas, ao rebaixamento do nível intelectual dos brasileiros, algo que se reflete tanto na baixa produtividade dos trabalhadores de modo quase geral quanto no aumento da criminalidade, passando pelos índices ínfimos de leitura e pelo crescimento do número de corruptos e corruptores. A educação sozinha, senhora presidente Dilma Rousseff, não transforma tudo, porque valores morais e éticos requerem dos indivíduos o entendimento profundo do papel de cada um no corpo social; além do que, é preciso que sejam oferecidas oportunidades aos educandos para que eles se percebam como agentes que podem desempenhar ações transformadoras na sociedade em que vivem. Justiça social, senhora presidente Dilma Rousseff, deve ser fundamentada por uma educação de muito boa qualidade. Pense nisso, presidente. Não deixe a força bruta da estupidez comprometer o nosso futuro fazendo a lição na cartilha da deseducação.



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