Por Clênio Sierra de Alcântara
A educação de boa qualidade pode desencadear um monte coisas positivas, dentre elas o aprendizado de que uma eficiente higiene bucal garante dentes limpos e saudáveis |
Quem acompanhou os embates
da disputa eleitoral que miravam a ocupação do Palácio do Planalto, com certeza
não esqueceu que a então candidata à reeleição Dilma Rousseff se portava como
uma governante que, em caso de vitória nas urnas, implantaria um governo novo
com ideias novas. Que a presidente Dilma Rousseff tem uma dificuldade imensa de
fazer discursos coesos e coerentes isso também já é público e notório: no dia
em que for publicada uma coletânea com o melhor – melhor?! – das frases mais
disparatadas ditas por ela, até os mais vermelhos petistas irão concordar com a
tese de que o secador de cabelo do Celso Kamura só fez derreter um pouco mais a
massa cinzenta da presidente. Sorry, periferia!
Como se sabe, nunca antes na
história deste país, foram criados tantos ministérios como nos governos do
Partido dos Trabalhadores. Tivesse o propósito honroso de ser uma possibilidade
de dinamizar e melhorar o trato com a coisa pública e de buscar soluções
concretas para os graves problemas socioeconômicos – nunca é demais listá-los:
infraestrutura, segurança pública, saúde, educação... – que assolam o país de
norte a sul, vá lá que até se compreenderia a megalomania. Mas não é assim. Os
ministérios foram sendo criados tão somente para alojar os chamados “aliados”,
os partidos que garantiriam a governabilidade. E eis aí um dos fundamentos da
paralisia do Brasil: como vai se promover o desenvolvimento e a pujança de um
país, tendo um quadro gigantesco de ministérios comandados, em geral, por
indivíduos com evidente desconhecimento do que tratam as pastas para as quais
eles são designados? Isso por si só já demonstra como de “novo” esse governo da
presidente Dilma não tem nada. E a história recente nos mostrou que para piorar
o cenário, alguns ministros se esforçaram não para promover o desenvolvimento
da nação, mas para encher os seus próprios bolsos. E assim a vida segue com os
descalabros da vanguarda do atraso.
Governo novo, ideias novas,
eis a divisa. Nada novo no front. Depois de irresponsavelmente represar os
reajustes de combustíveis, energia elétrica e outros mais, a sabichona
presidente, agora que foi reeleita, resolveu abrir as comportas dos aumentos em
série. A economia produziu um PIB nanico. A inflação mostrou seus dentes
vorazes. Governo novo, ideias novas, eis o brado retumbante. Continuamos com
estradas esburacadas. Pessoas morrem aos montes esperando atendimento nos
hospitais públicos e nas mãos de criminosos. Governo novo, ideias novas, eis a
máxima marqueteira.
Como a miséria, que vinha
recuando, não recuou nos últimos quatro anos, verificou-se que o correto seria
mudar o slogan do novo governo: no lugar de “Pais rico é país sem pobreza”, pôs-se
um “Brasil, pátria educadora”, tendo a presidente pronunciado em seu discurso
de posse que “a educação será a prioridade das prioridades” dessa sua segunda
gestão. Das duas uma: ou a presidente não sabe o significado da palavra “prioridade”
ou ela utilizou o termo “educadora” referindo-se a um outro tipo de educação
que não é a que é ensinada nas salas de aula. Será? Bem, em se tratando de
alguém que disse que “depois que a pasta de dentes sai do dentrifício, ela,
dificilmente, volta para dentro do dentrifício”, não se pode deixar de pensar
no pior. Caso não, vejamos: como é que
se alardeia para toda a não que a educação será a “prioridade das prioridades”
e, dias depois, num completo contrassenso, anuncia que o Ministério da Educação
sofrerá um corte 500 milhões de reais em seu orçamento?
Que começo triste, senhora
presidente! Que início de governo desalentador, presidenta! Que prioridade é
essa, afinal? Como a digníssima espera mudar o panorama sofrível da educação
brasileira com menos dinheiro em caixa? Como é que com menos recursos a senhora
vai conseguir levar água, luz, carteiras, livros, banheiros, professores,
merenda e tantas outras demandas para o sem-número de escolas onde faltam
coisas básicas como essas? Como a senhora espera que crianças acreditem no
poder transformador da educação se nas escolas que frequentam elas têm de
sentar no chão para assistirem às aulas, não encontram água para beber, não
sabem o que é uma biblioteca e precisam ir até uma touceira para fazerem suas
necessidades?
Sinceramente, presidente
Dilma, seu comportamento me faz pensar que a senhora não conhece
verdadeiramente o drama vivenciado por tantos estudantes por este país afora.
Presidente Dilma, mesmo em escolas onde aparentemente não está faltando nenhum equipamento
e tudo se encontra certinho, o corpo discente não tem se saído bem nos exames
nacionais e internacionais, demonstrando que há alguma coisa errada ou com o
corpo docente ou com os cursos de Pedagogia que seus componentes frequentaram.
Agora imagine, presidente Dilma, o nível de ensino que é conquistado por alguém
que frequenta uma escola carente de quase tudo, inclusive de mestres?
Presidente Dilma Rousseff,
investimentos em educação não dão resultado a curto prazo, como todos nós
sabemos. É preciso que a educação seja tratada de fato como prioridade, porque
o Brasil está caminhando para ser uma nação não de iletrados, mas de
analfabetos funcionais, que é quase a mesma coisa. Passa dos dez milhões o
número de analfabetos. A taxa de evasão escolar entre os jovens é altíssima. Os
cursos de licenciatura vêm amargando ano após ano a diminuição do número de
alunos que neles se matriculam. A violência nas escolas cresce de forma
assustadora...
Pergunte ao seu
recém-empossado ministro Cid Gomes, senhora presidente Dilma Rousseff, se ele
tem algum dado positivo sobre a pasta que ele assumiu. Possivelmente ele lhe
dirá que o programa de assistência social Bolsa Família contribuiu para que os
alunos cadastrados nele frequentassem com mais assiduidade as aulas, uma das
exigências para o recebimento do auxílio pecuniário. Tem mais alguma coisa?
Provavelmente não. E para marcar de forma ainda mais amarga esse seu começo de
gestão chega-nos a notícia, divulgada nesta semana pelo Mesmo Ministério da
Educação que a senhora deixou mais pobre, que 529.374 (quinhentos e vinte e
nove mil, trezentos e setenta e quatro) estudantes tiraram nota zero na última
edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Não é espantoso, presidente?
De tanto protelar um
compromisso firme com a educação do seu povo, os governantes deste país vêm
assistindo, há décadas, ao rebaixamento do nível intelectual dos brasileiros, algo
que se reflete tanto na baixa produtividade dos trabalhadores de modo quase
geral quanto no aumento da criminalidade, passando pelos índices ínfimos de
leitura e pelo crescimento do número de corruptos e corruptores. A educação
sozinha, senhora presidente Dilma Rousseff, não transforma tudo, porque valores
morais e éticos requerem dos indivíduos o entendimento profundo do papel de
cada um no corpo social; além do que, é preciso que sejam oferecidas
oportunidades aos educandos para que eles se percebam como agentes que podem
desempenhar ações transformadoras na sociedade em que vivem. Justiça social, senhora
presidente Dilma Rousseff, deve ser fundamentada por uma educação de muito boa qualidade.
Pense nisso, presidente. Não deixe a força bruta da estupidez comprometer o
nosso futuro fazendo a lição na cartilha da deseducação.
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