22 de janeiro de 2015

Seu rei mandou dizer que é preciso ir a Paudalho

Por Clênio Sierra de Alcântara


Segundo os apontamentos registrados por Sebastião de Vasconcellos Galvão em seu Dicionário corográfico, histórico e artístico de Pernambuco o povoamento de Paudalho, cidade que dista a cerca de  km do Recife, teve início em 1680, tendo sido primitivamente uma aldeia dos índios tabajaras.

Freguesia que pertencia a Igaraçu foi criada como tal pelo bispo Dom José Joaquim da Cunha Azeredo Coutinho em 1879, de acordo com uma carta do mesmo ao bispo visitador Padre Joaquim Saldanha Marinho, com data de 31 de agosto daquele ano, lançada no livro de tombo da freguesia. Por força de um alvará de 27 de julho de 1811 desmembrou-se de Olinda.

Foi criada como vila e município em virtude da representação do governador Caetano Pinto de Miranda Montenegro, de 6 de dezembro de 1809, tendo sido inaugurada em 16 de maio de 1812 pelo ouvidor Clemente Ferreira França.

A Lei provincial nº 86, de 5 de maio de 1840 instituiu-a comarca geral. E quase quarenta anos depois, a Lei nº 1318, de 4 de fevereiro de 1879, elevou a vila à categoria de cidade, mudando-lhe a denominação para Espírito Santo que, entretanto, conservou o município.

Conforme a Lei Orgânica dos Municípios – nº 52, de agosto de 1892 -, no regime republicano, constituiu-se município autônomo em 3 de abril de 1893, elegendo o primeiro governo administrativo.

Em 1911, o município de Paudalho aparece dividido em dois distritos: Paudalho e Floresta dos Leões (atual Carpina). Informações contidas no Boletim do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio dão conta de que, em 1933, Paudalho figura com o distrito único do mesmo nome. Essa configuração foi mantida até 31 de dezembro de 1943, ocasião em que o Decreto-lei estadual nº 952 extinguiu a comarca de Paudalho, que passou a figurar na divisão territorial em vigor no quinquênio 1944-1948, como termo componente da comarca de São Lourenço da Mata. Mas por efeito do Decreto-lei estadual nº 1116, de 14 de fevereiro de 1945, conforme vai dito na Enciclopédia Brasileira dos Municípios, a comarca de Paudalho foi restaurada, constituindo-se do termo de mesmo nome, desanexando-se da de São Lourenço da Mata.

O nome Paudalho – pau de alho, pau do alho, pau d’alho – deriva-se de uma grande árvore que existia na margem direita do Rio Capibaribe, no extremo oeste da cidade. Diz-se que essa árvore tinha cheiro bem semelhante ao do alho.

No dia 17 de fevereiro de 2013 eu visitei Paudalho junto com o fotógrafo Ernani Neves a fim de fazermos mais uma matéria para este blog. Estando a BR 408 em obras de duplicação, precisamos redobrar nossa atenção no trânsito.

Logo que descemos do carro, já na parte antiga da cidade, que ainda conserva várias edificações que retratam o passado de opulência do município, quando senhores de engenho de cana-de-açúcar mandavam construir casarões na zona urbana, tivemos o privilégio de travar conversa com um bem falante e atencioso dono de padaria chamado João Carlos Cavalcante, quase defronte à Biblioteca Pública Municipal Severino Soares e bem próximo ao Mercado Público, na Rua Dr. Antônio Montenegro.

João Carlos, que participa do Clube Carnavalesco Lenhadores de Paudalho, criado em 1907, e que se reúne na Praça Pedro Coutinho, nos falou, com pesar, dos que ele classificou como “destruidores da história” e “assassinos dos marcos históricos”. Segundo ele, várias pessoas estão deixando que o casario antigo seja dilapidado quer fazendo reformas que descaracterizam as edificações, quer deixando-as se arruinarem.

Enquanto percorríamos o centro urbano verificamos que faltavam placas indicando os nomes de várias ruas. E num ponto e noutro encontramos prédios antigos abandonados, ratificando o que dissera o João Carlos.

A pracinha – Praça Joaquim Nabuco – que fica no adro da Igreja de Nossa Senhora do Rosário apresentava assentos de ferro destruídos e a pavimentação de pedras portuguesas bastante esburacada.

É na Av. Raul Bandeira que se encontram o Paço Municipal e a sede do Clube Estrela de Paudalho, fundado em 5 de maio de 1915. Mais adiante, na longa Av. Luiz Maranhão, estão instalados o Teatro Municipal e o Pátio de Eventos Pio Guerra.

Buscando a outra margem do Rio Capibaribe, atravessamos uma pequena ponte sem guarda-corpo que, assim como estava, representava um grande perigo para todos que transitavam por ela.

Ao lado da Igreja de Santa Tereza nos deparamos com um retrato resultante da política do Governo federal em promover a venda desenfreada de automóveis, deixando a esmo os meios de transporte destinados ao grosso da população: uma estação de trem abandonada e alguns prédios que compunham o serviço ligado à linha férrea também em estado lamentável. Imagine leitor que, décadas atrás, um trem, partindo do Recife, passava por ali rumo a Natal, a capital do Rio Grande do Norte. Acredito que era uma viagem muito interessante.

Compondo ainda esse quadro triste, os trilhos seguindo para lugar nenhum assistem à decrepitude da Ponte do Itaíba. A respeito dessa ponte narra Sebastião de Vasconcellos Galvão ainda em seu Dicionário corográfico, histórico e artístico de Pernambuco:


Existe a chamada do Tahyba, por ficar no local do poço do mesmo nome, sorvedouro muito perigoso na enchente do Capibaribe, onde, anteriormente à construção da ponte, pereceram muitas pessoas que tentavam atravessar o rio naquela parte. Tem a largura de 111 metros, superstructura do systema trailles e pavimento, repousando sobre pilares de bases solidas. Foi orçada sua construção em réis 138:555$000, sendo iniciada em 18 de Maio de 1872 e entregue ao transito em 1876.


O lastro de madeira da ponte foi substituído por um de cimento armado em 1920.

Atravessando a Ponte do Itaíba – itaíba significa “árvore da pedra”, segundo Theodoro Sampaio -, vimos mais casas construídas às margens do rio. E dela mesmo avistamos algumas olarias, um dos marcos econômicos do município.

É na sua zona rural, em terras do antigo Engenho Ramos, território marcante da infância de Gilberto Freyre, onde certa feita um menino o chamou para fazer safadeza no meio do mato, que Paudalho apresenta o que muitos consideram seu principal atrativo. Trata-se da Igreja de Nossa Senhora da Luz, onde se venera a imagem do mártir São Severino, santo que faz do lugar um dos maiores pontos de peregrinação religiosa do Nordeste. Quem for até lá não deve deixar de visitar a “casa dos milagres”, onde estão depositados inúmeros e curiosos ex-votos.

Seu rei mandou dizer, por fim, que todo aquele que for a Paudalho deve fazer uma parada estratégica na Acerolândia, localizada às margens da BR 408, onde, entre outras coisas, podemos tomar sorvetes deliciosos.


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