25 de março de 2015

Desilusão em São Lourenço da Mata

Por Clênio Sierra de Alcântara


Foto: internet      São Lourenço deve estar lamentando o tanto de promessas não cumpridas que foram feitas para a cidade que leva o seu nome. Não se pode confiar inteiramente nos homens, meu caro

O Brasil perdeu e feio com a tal Copa do Mundo de Futebol de 2014. Não, eu não estou me referindo aqui à surra e ao placar espantoso de 7X1 que a selecinha de Luiz Felipe Scolari levou da superior Alemanha, num jogo que ficou na história como o dia em que a “pátria de chuteiras” – relevem o nosso bom e talentoso Nelson Rodrigues, porque os gênios também têm seus momentos de obnubilação – amargou a vergonha de ser humilhada dentro de sua própria casa. Como eu disse noutra ocasião, o Brasil já tinha perdido a Copa antes mesmo de ela começar.

A fim de ganharem a simpatia da população – eu me pergunto: quem ainda se deixa enganar neste país de falcatruas e embromações? – para com a realização da Copa, políticos e boleiros anunciaram um sem-número de realizações de ordem estrutural, como melhoria do transporte público, abertura de novas vias, reaparelhamento de aeroportos e até uma “Cidade da Copa”, aqui em Pernambuco. Prometeram o mundo e o fundo; e o resultado foi que muito pouco foi concluído a contento e obras ficaram inacabadas enquanto que outras nem sequer saíram do papel.

Passado menos de um ano do término do evento o Brasil colhe os maus frutos da semeadura irresponsável que pôs de pé, para a alegria das empreiteiras, estádios suntuosos cujo custo de manutenção é absurdamente enorme e que, ainda por cima, são subutilizados. Enquanto isso – e nunca é demais lembrar que estamos atravessando um cenário de grave crise socioeconômica – o país permanece acumulando mazelas aparentemente insolúveis que vão desde hospitais que não têm a mínima condição de atender pacientes até escolas cujos telhados estão em iminência de desabar. Não vou me alongar na descrição de tais deficiências porque elas são fatos que aparecem no noticiário frequentemente.

Neste momento, aqui em Pernambuco, foi posto em questão no debate entre posição e oposição o legado negro da famigerada Arena Pernambuco para as finanças do estado. Quanto o governo ainda deve à construtora Odebrecht? Qual o custo mensal de manutenção do estádio? Por que a Cidade da Copa não foi erguida? Quando ficarão prontos os prometidos meios de mobilidade urbana que integravam o projeto? As respostas que chegam não são satisfatórias porque elas não esclarecem para valer os fatos que se quer elucidar. As autoridades tendem a nos passar a impressão de que as coisas neste país são assim mesmo e acabou. E que se danem todos aqueles que querem se meter onde não foram chamados.

Caro leitor, se algum dia você se dispuser a percorrer São Lourenço da Mata, cidade onde a tal Arena Pernambuco foi levantada, verá como o lugar, em que pese certos encantos, é carente de muitas melhorias, como saneamento básico e pavimentação de ruas. Para mim chega a ser um grande acinte me deparar com uma construção como a dita arena de futebol e ver as necessidades de São Lourenço da Mata se multiplicado em derredor. A cada comunidade visitada, a cada ladeira vencida para chegar a certos recantos afastados do centro da cidade, a cada visão de casas humildes ocupando áreas degradadas e a cada ponte atravessada sobre o descuidado Rio Capibaribe que corre por lá um sentimento de revolta foi tomando conta de mim a ponto de eu só conseguir maldizer o por tantos louvado estádio.

Não sou adepto da futurologia. E nem me atrevo a fazer exercícios de adivinhação. Mas sou levado a crer que a Arena Pernambuco ainda há de causar muitos prejuízos aos cofres públicos abastecidos com o dinheiro dos impostos que nós pagamos. Já os muito católicos acreditam piamente que algum dia São Lourenço descerá no meio do gramado, numa noite de disputa, e há de marcar nem que seja um gol a favor dos seus devotos. E os que riem de tudo isso são aqueles que engordaram suas burras nas transações feitas à boca miúda para que não se fizessem notar pelas massas em estado de euforia.

Alguém repetidas vezes gritou: Goool! E o zé-ninguém, pertinho da tevê e bem longe do estádio, porque o ingresso era muito caro, baixou a cabeça e chorou.

A desilusão é muitíssimo mais dilacerante do que a realidade


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