23 de abril de 2015

Corte no orçamento

Por Clênio Sierra de Alcântara


Enquanto isso, o mosquito da Dengue segue em sua apocalíptica missão de fazer o maior número de vítimas possível. É um danado esse mosquito!



Novamente demonstrando que não estão nem aí para os protestos que têm tomado ultimamente as grandes cidades brasileiras contra a corrupção, a impunidade, o aumento da inflação, dos impostos e do número de desempregados, os cortes de verbas dos orçamentos dos ministérios e outros males que assolam o país, os nobres ocupantes do Congresso Nacional lutaram e conseguiram com louvor que fosse fixada a elevação do chamado Fundo partidário, que de R$ 289,5 milhões passou para R$ 867,5 milhões.

Dias atrás a “Pátria educadora” viu o seu Ministro da Educação ser demitido porque “ofendera” os nobilíssimos parlamentares chamando-os de “achacadores”. Poderia ter dito muito mais do que isso o senhor Cid Gomes, mas ele se conteve e deixou a Câmara dos Deputados derrotado pelos mais do que conhecidos “homens de bem”.

Num momento em que o país atravessa uma crise socioeconômica, os congressistas aumentam seus próprios salários. Num momento em que o país anuncia cortes orçamentários, inclusive no Ministério da Educação, que seria, segundo a presidente Dilma Rousseff, a vitrine desse seu segundo mandato, os congressistas batalham para que seus cônjuges também tenham direito a passagens aéreas pagas pelo contribuinte. Num momento em que o país assiste à desvalorização de sua moeda e à perda considerável do poder de compra do salário mínimo, eis que os impolutos congressistas brasileiros se empenham tenaz e ferreamente para que o Fundo partidário obtenha um aumento bastante expressivo, numa demonstração mais do que clara, claríssima, límpida e cristalina de que, embora sejam eleitos pelo povo, não é a favor do povo que comumente eles militam e legislam, mas majoritariamente em causa e interesses próprios.

Há algo de muito preocupante num sistema democrático – sim, eu sou um defensor da democracia – que permite que partidos políticos sejam criados a todo momento sem que se estabeleça um limite. Para que tantos partidos, me digam? Os Estados Unidos, a maior nação democrática do mundo, são muito bem conduzidos num sistema partidário bipolarizado; embora lá existam dezenas de partidos, são os democratas e os republicanos que dominam o cenário político estruturando e defendendo os interesses não apenas deles próprios, mas também os do seu país. Já aqui no Brasil o processo é outro. As agremiações se multiplicam como empresas arrojadas. Enganam-se os que pensam que existem motivações ideológicas e preocupações sociais nos fundamentos da maioria desses partidos; iludem-se os que imaginam haver um “projeto de país” nessas legendas; seus dirigentes criam as siglas partidárias apenas fazendo os cálculos de quanto apurarão com elas.

No Brasil três tipos de negócios prosperam de forma assombrosa e desconhecem toda e qualquer crise econômica e, por isso, proliferam quase que na mesma velocidade do mosquito Aedes aegypti: igrejas pentecostais e neopentecostais; farmácias e drogarias; e, claro, partidos políticos. Há quem pense que, dado o nosso vergonhoso histórico de períodos de governos ditatoriais, é preciso que a sociedade tenha plena liberdade de representação e uma delas é, de fato, a representação partidária. Ocorre que essa lógica de representatividade social foi perversamente aproveitada por grupos minoritários que defendem os interesses dos partidos que eles concebem e não as demandas sociais que supostamente os alicerçam. O que dizer da ação do senhor Gilberto Kassab que criou o Partido Social Democrático e agora se empenha em refundar o Partido Liberal? Alguém aí duvida que depois de ressuscitar essa legenda o senhor Gilberto Kassab partirá para criar e/ou restabelecer outras?

A criação de partidos deveria ser vista como uma oportunidade de parcelas da sociedade se veem representadas nos palcos decisórios da vida nacional. No Brasil, infelizmente, a coisa foi desvirtuada e virou meio de vida e caminho para que grupos de interesses tomem parte em negociatas, repartam butins e aufiram grandes lucros. Isso, sim, é que é um permanente corte no orçamento.


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