Por Clênio Sierra de
Alcântara
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Enquanto isso, o mosquito da Dengue segue em sua apocalíptica missão de fazer o maior número de vítimas possível. É um danado esse mosquito! |
Novamente demonstrando que
não estão nem aí para os protestos que têm tomado ultimamente as grandes
cidades brasileiras contra a corrupção, a impunidade, o aumento da inflação,
dos impostos e do número de desempregados, os cortes de verbas dos orçamentos
dos ministérios e outros males que assolam o país, os nobres ocupantes do
Congresso Nacional lutaram e conseguiram com louvor que fosse fixada a elevação
do chamado Fundo partidário, que de R$ 289,5 milhões passou para R$ 867,5
milhões.
Dias atrás a “Pátria
educadora” viu o seu Ministro da Educação ser demitido porque “ofendera” os
nobilíssimos parlamentares chamando-os de “achacadores”. Poderia ter dito muito
mais do que isso o senhor Cid Gomes, mas ele se conteve e deixou a Câmara dos
Deputados derrotado pelos mais do que conhecidos “homens de bem”.
Num momento em que o país
atravessa uma crise socioeconômica, os congressistas aumentam seus próprios
salários. Num momento em que o país anuncia cortes orçamentários, inclusive no
Ministério da Educação, que seria, segundo a presidente Dilma Rousseff, a
vitrine desse seu segundo mandato, os congressistas batalham para que seus
cônjuges também tenham direito a passagens aéreas pagas pelo contribuinte. Num
momento em que o país assiste à desvalorização de sua moeda e à perda
considerável do poder de compra do salário mínimo, eis que os impolutos
congressistas brasileiros se empenham tenaz e ferreamente para que o Fundo
partidário obtenha um aumento bastante expressivo, numa demonstração mais do
que clara, claríssima, límpida e cristalina de que, embora sejam eleitos pelo
povo, não é a favor do povo que comumente eles militam e legislam, mas majoritariamente
em causa e interesses próprios.
Há algo de muito preocupante
num sistema democrático – sim, eu sou um defensor da democracia – que permite
que partidos políticos sejam criados a todo momento sem que se estabeleça um
limite. Para que tantos partidos, me digam? Os Estados Unidos, a maior nação
democrática do mundo, são muito bem conduzidos num sistema partidário
bipolarizado; embora lá existam dezenas de partidos, são os democratas e os
republicanos que dominam o cenário político estruturando e defendendo os
interesses não apenas deles próprios, mas também os do seu país. Já aqui no
Brasil o processo é outro. As agremiações se multiplicam como empresas
arrojadas. Enganam-se os que pensam que existem motivações ideológicas e
preocupações sociais nos fundamentos da maioria desses partidos; iludem-se os
que imaginam haver um “projeto de país” nessas legendas; seus dirigentes criam
as siglas partidárias apenas fazendo os cálculos de quanto apurarão com elas.
No Brasil três tipos de
negócios prosperam de forma assombrosa e desconhecem toda e qualquer crise
econômica e, por isso, proliferam quase que na mesma velocidade do mosquito Aedes aegypti: igrejas pentecostais e
neopentecostais; farmácias e drogarias; e, claro, partidos políticos. Há quem
pense que, dado o nosso vergonhoso histórico de períodos de governos
ditatoriais, é preciso que a sociedade tenha plena liberdade de representação e
uma delas é, de fato, a representação partidária. Ocorre que essa lógica de
representatividade social foi perversamente aproveitada por grupos minoritários
que defendem os interesses dos partidos que eles concebem e não as demandas
sociais que supostamente os alicerçam. O que dizer da ação do senhor Gilberto
Kassab que criou o Partido Social Democrático e agora se empenha em refundar o
Partido Liberal? Alguém aí duvida que depois de ressuscitar essa legenda o
senhor Gilberto Kassab partirá para criar e/ou restabelecer outras?
A criação de partidos
deveria ser vista como uma oportunidade de parcelas da sociedade se veem representadas
nos palcos decisórios da vida nacional. No Brasil, infelizmente, a coisa foi
desvirtuada e virou meio de vida e caminho para que grupos de interesses tomem
parte em negociatas, repartam butins e aufiram grandes lucros. Isso, sim, é que
é um permanente corte no orçamento.
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