Por Clênio Sierra de
Alcântara
Calma-te e escuta, coração ansioso:
Limita os teus desejos ao possível!
Um sonho é sempre um sonho: Inacessível
e o desabar de um sonho é doloroso! [...]
O mar. Faria Neves Sobrinho
Limita os teus desejos ao possível!
Um sonho é sempre um sonho: Inacessível
e o desabar de um sonho é doloroso! [...]
O mar. Faria Neves Sobrinho
Especialmente para Alexandre Melo
Embora nem sempre estejamos preparados para o novo, isso não impede que tentemos superar os desafios que ele nos apresenta |
Não foram bons esses dias.
Na verdade, não têm sido nada confortáveis meus dias ultimamente. Desilusões,
insegurança, incerteza... O modo como a tristeza tem se mantido vigilante
aguardando um simples vacilo meu para me abater é algo perturbador. Eu chorei
mergulhado na incompreensão e na não aceitação de certas circunstâncias, mas
não baixei e nem vou baixar a guarda.
Às vezes nós
superdimensionamos os problemas e os obstáculos; assim como também apequenamos
situações graves. Erro duplo. Falta de tino e de habilidade para sopesar a
realidade que se nos apresenta. E, neste momento em que escrevo, reflito sobre
os recentes dias passados e percebo que ainda não consegui diluir por completo
a substância mesma da minha inquietude. Paciência.
Eu parti em viagem no último
fim de semana intentando de alguma maneira rearrumar o que dentro de mim existe
de muito precioso – bem, é o meu entendimento -, que é a minha confiança no
futuro. Não aceito, não permito e não admito que quem quer que seja se atreva a
sequer ameaçar o meu futuro. Se for preciso que eu caminhe até lá sozinho,
assim será. Se for necessário que eu tenha de deixar pedaços de mim à margem da
estrada, assim também será. Não, eu não vou fraquejar e nem me deixar sucumbir
pelo fardo pesado que este tempo presente lançou sobre os meus ombros. Não vou
de forma alguma abrir mão da integridade dos meus propósitos e da minha ideia
de completude, satisfação e felicidade.
Foi um telefonema, um
simples telefonema que quase implodiu os meus arcos de sustentação. Se vocês
acreditam que a crueldade só possui uma voz medonha como aquelas dos filmes de
terror, vocês se enganam. A crueldade chegou aos meus ouvidos e me invadiu
através de uma voz muito suave e bastante familiar; e, a equação que me apresentou,
eu até agora não consegui elucidar. Por mais espantoso que possa parecer,
porque eu sou um homem de quarenta e um anos, me faltaram maturidade e
discernimento para enfrentar a questão; eu não estava preparado – e ainda não
estou – para ser confrontado daquela maneira. Ouvir o que disse aquela voz por
mim tão conhecida foi como se alguém estivesse querendo tirar de mim o meu
instrumento de orientação. Dias sem paz. Dias de desassossego. Dias de choro...
O cheiro forte da maresia sempre
funcionou em mim como um potente estimulante. Eu busco o mar como quem sente
necessidade premente de encontrar nele a cura para todos os seus males. O barco
lá longe. Um animado vendedor de cocos. Crianças erguendo fortalezas de areia.
Os pregões anunciando as mais variadas coisas. Casais trocando comedidas
carícias... E eu passando em caminhada com minhas pisadas despreocupadas da
hora de voltar para casa.
Na segunda-feira passada eu
dei por concluída a leitura de algo que me tocou intensamente. Acredito que não
se consegue atravessar todas as páginas do De
profundis, do Oscar Wilde, com uma inteira e total indiferença. Bom, eu não
consegui. E confesso, sem pudor algum, que eu me reconheci em vários trechos
daquele relato tão vivo e pungente. E em meio a tanto sofrimento, rancor e
desilusão o autor de O retrato de Dorian
Gray inseriu esta frase luminosa que eu enxergo como uma tentativa de ele
se impor na treva do cárcere em que se encontrava: “Depois, é preciso que eu
aprenda a ser feliz”.
Eu cheguei a uma idade ou,
dito de outro modo, eu cheguei a um entendimento da vida em que não me permito
perder uma nesga que seja de felicidade; ela pode vir em pedaços bem pequenos,
em porções generosas, em conta-gotas; ela pode se achegar a mim no tamanho, na
duração e/ou na quantidade que for que eu a agarro com a maior sofreguidão,
como se dela dependesse a minha existência. O que eu não quero de jeito nenhum é
fazer par com a tristeza.
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