17 de abril de 2015

Da imensa vontade de encontrar outra felicidade


Por Clênio Sierra de Alcântara


Calma-te e escuta, coração ansioso:
Limita os teus desejos ao possível!
Um sonho é sempre um sonho: Inacessível
e o desabar de um sonho é doloroso! [...]

                                                O mar. Faria Neves Sobrinho



                                                           Especialmente para Alexandre Melo


 Embora nem sempre estejamos preparados para o novo, isso não impede que tentemos superar os desafios que ele nos apresenta


                                                                

Não foram bons esses dias. Na verdade, não têm sido nada confortáveis meus dias ultimamente. Desilusões, insegurança, incerteza... O modo como a tristeza tem se mantido vigilante aguardando um simples vacilo meu para me abater é algo perturbador. Eu chorei mergulhado na incompreensão e na não aceitação de certas circunstâncias, mas não baixei e nem vou baixar a guarda.

Às vezes nós superdimensionamos os problemas e os obstáculos; assim como também apequenamos situações graves. Erro duplo. Falta de tino e de habilidade para sopesar a realidade que se nos apresenta. E, neste momento em que escrevo, reflito sobre os recentes dias passados e percebo que ainda não consegui diluir por completo a substância mesma da minha inquietude. Paciência.

Eu parti em viagem no último fim de semana intentando de alguma maneira rearrumar o que dentro de mim existe de muito precioso – bem, é o meu entendimento -, que é a minha confiança no futuro. Não aceito, não permito e não admito que quem quer que seja se atreva a sequer ameaçar o meu futuro. Se for preciso que eu caminhe até lá sozinho, assim será. Se for necessário que eu tenha de deixar pedaços de mim à margem da estrada, assim também será. Não, eu não vou fraquejar e nem me deixar sucumbir pelo fardo pesado que este tempo presente lançou sobre os meus ombros. Não vou de forma alguma abrir mão da integridade dos meus propósitos e da minha ideia de completude, satisfação e felicidade.

Foi um telefonema, um simples telefonema que quase implodiu os meus arcos de sustentação. Se vocês acreditam que a crueldade só possui uma voz medonha como aquelas dos filmes de terror, vocês se enganam. A crueldade chegou aos meus ouvidos e me invadiu através de uma voz muito suave e bastante familiar; e, a equação que me apresentou, eu até agora não consegui elucidar. Por mais espantoso que possa parecer, porque eu sou um homem de quarenta e um anos, me faltaram maturidade e discernimento para enfrentar a questão; eu não estava preparado – e ainda não estou – para ser confrontado daquela maneira. Ouvir o que disse aquela voz por mim tão conhecida foi como se alguém estivesse querendo tirar de mim o meu instrumento de orientação. Dias sem paz. Dias de desassossego. Dias de choro...

O cheiro forte da maresia sempre funcionou em mim como um potente estimulante. Eu busco o mar como quem sente necessidade premente de encontrar nele a cura para todos os seus males. O barco lá longe. Um animado vendedor de cocos. Crianças erguendo fortalezas de areia. Os pregões anunciando as mais variadas coisas. Casais trocando comedidas carícias... E eu passando em caminhada com minhas pisadas despreocupadas da hora de voltar para casa.

Na segunda-feira passada eu dei por concluída a leitura de algo que me tocou intensamente. Acredito que não se consegue atravessar todas as páginas do De profundis, do Oscar Wilde, com uma inteira e total indiferença. Bom, eu não consegui. E confesso, sem pudor algum, que eu me reconheci em vários trechos daquele relato tão vivo e pungente. E em meio a tanto sofrimento, rancor e desilusão o autor de O retrato de Dorian Gray inseriu esta frase luminosa que eu enxergo como uma tentativa de ele se impor na treva do cárcere em que se encontrava: “Depois, é preciso que eu aprenda a ser feliz”.

Eu cheguei a uma idade ou, dito de outro modo, eu cheguei a um entendimento da vida em que não me permito perder uma nesga que seja de felicidade; ela pode vir em pedaços bem pequenos, em porções generosas, em conta-gotas; ela pode se achegar a mim no tamanho, na duração e/ou na quantidade que for que eu a agarro com a maior sofreguidão, como se dela dependesse a minha existência. O que eu não quero de jeito nenhum é fazer par com a tristeza.

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