A ferro e fogo os militantes fundamentalistas do Estado Islâmico vêm há anos mantendo de forma perturbadoramente incansável uma guerra contra tudo e contra todos que, segundo eles, seguem um estilo de vida incompatível com a fé religiosa por eles professada. Estado Islâmico, Talibã e Boko Haram são nomes diferentes de grupos terroristas que maculam a essência do Corão promovendo atrocidades as mais diversas com o fito de arruinar os pilares – principalmente a liberdade de expressão – do chamado mundo civilizado.
Como o propósito desses
fundamentalistas é desencadear o medo e o terror nas sociedades ocidentais
talvez pensando que, com isso, as nações não muçulmanas se renderão a eles,
esses terroristas têm chamado a atenção do mundo pela série de barbáries por
eles cometidas. Não basta sequestrar e fazer refém algum infeliz que caia em
suas teias e pedir alguma compensação para libertá-lo. Não, é preciso degolar,
decapitar e até queimar vivo o “inimigo” para que fique mais do que claro que
eles não estão ali para brincadeira. E nesse exercício macabro nada mais
providencial do que fazer dos rituais de imolação um espetáculo coreografado e
filmado de modo que seja amplamente difundido nas tevês e na internet, uma vez
que vivemos num tempo em que as imagens ganham mais dimensão do que narrativas
escritas.
Ao encamparem a ideia de que
tudo o que está em desacordo com o que diz o Corão precisa ser destruído para
que surja um mundo novo, os fundamentalistas não têm se limitado a ceifar vidas
humanas, eles também vêm demonstrando um empenho descomunal para acabar com
todo e qualquer vestígio material defendidos pelos chamados infiéis.
Em 2001,
membros do Talibã, fazendo uso de mísseis e dinamite, destruíram duas
imponentes estátuas de Buda em Bamiyam, no Afeganistão. Semanas atrás a sanha
desmedida dos membros do Estado Islâmico descarregou sua frustração no Museu de
Mosul, no Iraque, quebrando a marretadas inúmeras peças que compunham o acervo;
e, num sítio arqueológico dos arredores da capital iraquiana, eles atacaram com
furadeira as magníficas estátuas de touros alados e com cabeça humana que
guardavam as portas de Nínive, uma cidade da antiga Assíria, entre o século IX
a. C. e o VII a. C., uma perda irreparável.
Enquanto via as imagens que
mostravam os terroristas em ação no Museu de Mosul senti uma aflição tamanha
que você, leitor, não faz ideia. Dias depois, para o meu conforto, tomei
conhecimento de que, pelo menos no museu, as peças destruídas nãos se tratavam
das originais: com o propósito justamente de proteger esse patrimônio que, na
verdade, pertence a toda a humanidade, da vanguarda do atraso formada pelos
ditos seguidores de Maomé, organizações internacionais decidiram levar o acervo
para locais seguros como o Museu Britânico, em Londres, depois que os Estados
Unidos invadiram o Iraque em 2003 deixando no local apenas réplicas.
Atente-se para o fato
incômodo de que não são apenas vestígios materiais que os terroristas se
empenham em destruir; eles igualmente vêm buscando arrasar grupos populacionais
minoritários que ocupam áreas marcadas pelos conflitos. Isso significa dizer
que, junto com as vidas das pessoas, além do patrimônio material – edificações,
estátuas, objetos, instrumentos de trabalho, etc -, eles estão destruindo
também o chamado patrimônio imaterial, que é aquele que abarca, entre outras
coisas, ritos, brincadeiras, danças e modos de preparo de alimentos. E a
verdade igualmente incômoda é que os países que formam coalizões com o intuito
de barrar o avanço desses grupos fundamentalistas não têm conseguido frear a
vaga destruidora que os ditos muçulmanos vêm perpetrando.
Guerras são necessárias? Em
alguns casos sim, como a que se processa atualmente contra grupos
fundamentalistas que se empenham em fazer a humanidade regredir culturalmente e
viver conforme a visão única de mundo que eles têm e admitem. Não se trata,
portanto, de uma guerra despropositada; muito pelo contrário; o que está
em jogo é a defesa de todos os valores que o processo civilizatório
forjou para que, ao longo do tempo, fôssemos perdendo todo e qualquer vestígio
de bestialidade e nos compreendêssemos como seres portadores de uma capacidade
descomunal de inteligência e sabedoria para buscarmos o bem comum.
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