Por Clênio Sierra de Alcântara
O Ministério da Cultura do Brasil precisa urgentemente ser mantido acima dos interesses partidários e contar com um orçamento que seja condizente com a missão que ele detém |
Quando ainda estava nos seus
começos e surgia como a possibilidade de ser um governo que poria o país nos
eixos, a administração do presidente Michel Temer assombrou meio mundo da roda
dos ditos intelectuais brasileiros, ao anunciar o fim do Ministério da Cultura.
Tamanha foi a gritaria e tão ruidosos foram os protestos surgidos aqui e ali,
que o vacilante e principiante governo reconsiderou a decisão e manteve o
alquebrado ministério. Agora eu pergunto: há mesmo muita diferença entre o não
existir e o existir e ser ignorado e tratado com indiferença?
No curto espaço de um ano o
raquítico Ministério da Cultura passou pelo comando de três ministros: Marcelo
Calero, Roberto Freire e João Batista de Andrade; e ontem, depois de um período
de vacância de dois meses, foi anunciado que o cargo será ocupado por Sérgio Sá
Leitão, vindo da Agência Nacional do Cinema (Ancine); e, considerando o andar
trôpego da carruagem do desgoverno do senhor Michel Temer, não causará nenhum espanto
– pelo menos não a mim - se também esse Sérgio Sá Leitão cair fora e abandonar
o veículo que está em lento movimento.
Não sei por que razão os
grupos que protestaram contra a extinção do dito ministério não levantaram a
voz no momento em que se viu que, ainda que mantida a sua existência, o governo
não o estava levando realmente a sério, como ainda não está dada a demora de
dois meses para arranjar alguém disposto a comandá-lo. E o fato de os partidos
que são sempre sequiosos de ocupar mais e mais ministérios não disputá-lo, por
si só diz muito do pequeno papel que ele tem dentro da estrutura governamental.
Os partidos se digladiam para tomar a frente de pastas cujos orçamentos sejam
volumosos e o Ministério da Cultura, até onde se sabe, é um dos que tem o menor
entre todos eles – quem acompanha o noticiário tomou conhecimento de que no
corte orçamentário estipulado pela equipe econômica do atual mandatário da
nação, o Ministério da Cultura perdeu 43% do seu montante -; e, além disso, é
um ministério que, sob a ótica de suas excelências parlamentares, não dá grande
visibilidade e gera poucos dividendos políticos.
A celeuma causada pelo
temporário fim do Ministério da Cultura por um instante fez saber ao grande
público que existia esse bendito ministério. Mais do que isso: fez muita gente
pensar que os brasileiros constituímos uma sociedade que tem pleno conhecimento
do papel desempenhado por tal ministério. A grande verdade é que o grosso da
população, o povão, não faz a mínima ideia, ignora completamente o que
efetivamente cabe aos homens e mulheres que integram o acanhado Ministério da
Cultura. E isso revela o grau de alienação em que tantos dos nossos cidadãos
vivem.
Da mesma forma que apelamos
às autoridades para que tenhamos acesso a serviços de educação, saúde e
segurança pública de qualidade, devemos cobrar para que o país comporte um
Ministério da Cultura funcionando a pleno vapor e não à base de migalhas, a fim
de que todos os elementos culturais que nos definem, encantam, embriagam,
enchem nossas vidas de entusiasmo e nos fazem pensar tenham os seus valores
plenamente reconhecidos e preservados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário