Por Sierra
Num mundo hiperconectado,
como este no qual estamos vivendo, será que é possível de alguma forma
conseguirmos nos desligar nem que seja por um tempo dessa conectividade que,
por vezes, nos subtrai horas sem que nos demos conta disso?
Na semana retrasada eu me vi
tomado por uma ansiedade e por uma impaciência em níveis fora do meu padrão de
vivência. Por que isso se deu? Quais gatilhos foram acionados para que eu
chegasse a essa situação tão desconfortável? Será que fora devido ao estresse
de ter de pegar ônibus – no mínimo quatro por dia – para ir e voltar do
trabalho? Será que o detonador dessa situação foram os resquícios, foram as
sobras de um instante de baixo astral que, dias antes, me fizera pôr a minha
vida numa balança a fim de avaliar feitos e malfeitos, derrotas, acertos,
conquistas, frustrações, alegrias e tristezas, e que me levou ao choro? Será
que não se tratava de absorção de tantas coisas ruins que de alguma maneira
ficam como que gravitando em torno de nós na forma de notícias, conversas,
expectativas, etc.? Ou será que isso era devido ao fato de eu estar me deixando
aprisionar à tela do meu smartphone?
Reavaliei minhas ações e
verifiquei que, sim, eu vinha dedicando tempo demais à interação com muito do
que um smartphone oferece, em geral,
e às redes sociais, em particular; e que fora isso que potencializara as minhas
impaciência e ansiedade. Mas, por que isso, se eu demorei anos e anos para
decidir se deveria ou não adentrar nesse meio? A pergunta pode parecer um tanto
quanto ingênua. Ocorre que eu pensara que esse tempo de apreciação faria com eu
adentrasse ali munido de alguma ferramenta de autocontrole. Eu me enganei.
Quem estiver lendo isto
agora pode pensar que eu estava ficando nas redes sociais por horas a fio, como
se nada mais existisse e nem importasse no mundo, em busca de um like ou de um comentário qualquer sobre
algo que eu postara. Não, eu não atingira tal estágio de imersão e/ou
aprisionamento. Ocorre que, dadas as circunstâncias de alteração de minha
rotina, eu liguei o alerta e me disse que eu não estava agindo da forma correta
para conseguir manter o nível de sanidade mental necessário para poder suportar
o peso descomunal da realidade, da dura realidade que para muitos é
insuportável. E, como por vezes ocorre comigo em certas tomadas de decisão, eu
tratei de estabelecer limites, de me impor regras e de determinar até aonde eu
poderia e/ou deveria ir. E isso logo deu resultado: não precisei eliminar
aplicativos e nem me desconectar para conseguir frear as minhas impaciência e
ansiedade.
Eu disse que, no meu caso, a
impaciência e a ansiedade foram aumentadas pelo apego ao smatphone; mas, talvez, deve ter sido isso junto com todo o resto
que eu elenquei aqui, dadas as circunstâncias de uma vida que nos mantém quase
que em permanente ebulição. E tem como se safar inteiramente disso? Eu acredito
que não. Mas eu aposto e confio que possamos aguçar os mecanismos de
autocontrole de que dispomos em algum grau e/ou medida.
Acompanhando o meu convívio
com a psoríase, a minha dermatologista já me disse que “você precisa controlar
o estresse”, porque o estresse é um dos responsáveis pelo recrudescimento dessa
doença. Mas como conseguir viver imune ao estresse? Será que alguém consegue
fazer isso? Eu absolutamente não consigo. O que eu inegavelmente consigo é
resistir – e às vezes passar por cima sem demonstrar qualquer mínimo interesse –
ao canto de algumas sereias que vão vindo de um lugar e de outro. E por que
isso? Não sei lhes dizer por quê.
O que eu sei dizer a esse
respeito é que, ao longo desses meus 49 anos de vida, ao longo dessa jornada
desafiadora que é o ciclo vital, inúmeras coisas, variados assuntos e
incontáveis pessoas que apareceram em destaque aqui e ali simplesmente não me
despertaram o menor interesse. E isso é algo que eu considero como muito
positivo no meu modo de existir e de compreender o mundo: nem tudo consegue me
seduzir.
Eu sou um curioso pela
própria natureza. Mas isso não significa dizer que eu me interesse e que eu
viva numa busca incessante e insaciável por alguma novidade. Felizmente isso
não se dá comigo. E, talvez por essa razão, os meus níveis de impaciência e
ansiedade não se avolumam e nem se agigantam a ponto de fazer com que eu
despenque lá do alto e caia no abismo da depressão. Outros recursos aos quais
eu lanço mão para não me deixar prender aos chamamentos incessantes do “olha
como isso é legal” e do “se você não fizer isso ficará para trás” é não ignorar
a minha individualidade; é não correr no meio da manada como se eu fosse um
autômato; é identificar e deixar em alerta os mecanismos de autocontrole, de
recusa e de repulsa.
Carrego uma plena convicção de que eu não tenho controle de tudo que vai dentro de mim. Não tenho mesmo. Por isso, nesse exercício de tocar a vida, eu vou praticando, sempre que é possível, as ações e estratégias que até agora fizeram com que eu conseguisse me sobrepor às pressões que em mim desencadearam impaciência e ansiedade; e, se elas não funcionarem, eu buscarei outros recursos de apaziguamento de meu ser interior. O que eu não posso e nem quero que ocorra, é me deixar sucumbir pelo peso de tudo aquilo que uns e outros vivem a repetir que é necessário que todos e cada um de nós suportemos.
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