29 de julho de 2023

Sobre impaciência e ansiedade

Por Sierra


Imagem: Internet
Carrego uma plena convicção de que eu não tenho controle de tudo que vai dentro de mim. Não tenho mesmo. Por isso, nesse exercício de tocar a vida, eu vou praticando, sempre que é possível, as ações e estratégias que até agora fizeram com que eu conseguisse me sobrepor às pressões que em mim desencadearam impaciência e ansiedade; e, se elas não funcionarem, eu buscarei outros recursos de apaziguamento de meu ser interior




Num mundo hiperconectado, como este no qual estamos vivendo, será que é possível de alguma forma conseguirmos nos desligar nem que seja por um tempo dessa conectividade que, por vezes, nos subtrai horas sem que nos demos conta disso?

Na semana retrasada eu me vi tomado por uma ansiedade e por uma impaciência em níveis fora do meu padrão de vivência. Por que isso se deu? Quais gatilhos foram acionados para que eu chegasse a essa situação tão desconfortável? Será que fora devido ao estresse de ter de pegar ônibus – no mínimo quatro por dia – para ir e voltar do trabalho? Será que o detonador dessa situação foram os resquícios, foram as sobras de um instante de baixo astral que, dias antes, me fizera pôr a minha vida numa balança a fim de avaliar feitos e malfeitos, derrotas, acertos, conquistas, frustrações, alegrias e tristezas, e que me levou ao choro? Será que não se tratava de absorção de tantas coisas ruins que de alguma maneira ficam como que gravitando em torno de nós na forma de notícias, conversas, expectativas, etc.? Ou será que isso era devido ao fato de eu estar me deixando aprisionar à tela do meu smartphone?

Reavaliei minhas ações e verifiquei que, sim, eu vinha dedicando tempo demais à interação com muito do que um smartphone oferece, em geral, e às redes sociais, em particular; e que fora isso que potencializara as minhas impaciência e ansiedade. Mas, por que isso, se eu demorei anos e anos para decidir se deveria ou não adentrar nesse meio? A pergunta pode parecer um tanto quanto ingênua. Ocorre que eu pensara que esse tempo de apreciação faria com eu adentrasse ali munido de alguma ferramenta de autocontrole. Eu me enganei.

Quem estiver lendo isto agora pode pensar que eu estava ficando nas redes sociais por horas a fio, como se nada mais existisse e nem importasse no mundo, em busca de um like ou de um comentário qualquer sobre algo que eu postara. Não, eu não atingira tal estágio de imersão e/ou aprisionamento. Ocorre que, dadas as circunstâncias de alteração de minha rotina, eu liguei o alerta e me disse que eu não estava agindo da forma correta para conseguir manter o nível de sanidade mental necessário para poder suportar o peso descomunal da realidade, da dura realidade que para muitos é insuportável. E, como por vezes ocorre comigo em certas tomadas de decisão, eu tratei de estabelecer limites, de me impor regras e de determinar até aonde eu poderia e/ou deveria ir. E isso logo deu resultado: não precisei eliminar aplicativos e nem me desconectar para conseguir frear as minhas impaciência e ansiedade.

Eu disse que, no meu caso, a impaciência e a ansiedade foram aumentadas pelo apego ao smatphone; mas, talvez, deve ter sido isso junto com todo o resto que eu elenquei aqui, dadas as circunstâncias de uma vida que nos mantém quase que em permanente ebulição. E tem como se safar inteiramente disso? Eu acredito que não. Mas eu aposto e confio que possamos aguçar os mecanismos de autocontrole de que dispomos em algum grau e/ou medida.

Acompanhando o meu convívio com a psoríase, a minha dermatologista já me disse que “você precisa controlar o estresse”, porque o estresse é um dos responsáveis pelo recrudescimento dessa doença. Mas como conseguir viver imune ao estresse? Será que alguém consegue fazer isso? Eu absolutamente não consigo. O que eu inegavelmente consigo é resistir – e às vezes passar por cima sem demonstrar qualquer mínimo interesse – ao canto de algumas sereias que vão vindo de um lugar e de outro. E por que isso? Não sei lhes dizer por quê.

O que eu sei dizer a esse respeito é que, ao longo desses meus 49 anos de vida, ao longo dessa jornada desafiadora que é o ciclo vital, inúmeras coisas, variados assuntos e incontáveis pessoas que apareceram em destaque aqui e ali simplesmente não me despertaram o menor interesse. E isso é algo que eu considero como muito positivo no meu modo de existir e de compreender o mundo: nem tudo consegue me seduzir.

Eu sou um curioso pela própria natureza. Mas isso não significa dizer que eu me interesse e que eu viva numa busca incessante e insaciável por alguma novidade. Felizmente isso não se dá comigo. E, talvez por essa razão, os meus níveis de impaciência e ansiedade não se avolumam e nem se agigantam a ponto de fazer com que eu despenque lá do alto e caia no abismo da depressão. Outros recursos aos quais eu lanço mão para não me deixar prender aos chamamentos incessantes do “olha como isso é legal” e do “se você não fizer isso ficará para trás” é não ignorar a minha individualidade; é não correr no meio da manada como se eu fosse um autômato; é identificar e deixar em alerta os mecanismos de autocontrole, de recusa e de repulsa.

Carrego uma plena convicção de que eu não tenho controle de tudo que vai dentro de mim. Não tenho mesmo. Por isso, nesse exercício de tocar a vida, eu vou praticando, sempre que é possível, as ações e estratégias que até agora fizeram com que eu conseguisse me sobrepor às pressões que em mim desencadearam impaciência e ansiedade; e, se elas não funcionarem, eu buscarei outros recursos de apaziguamento de meu ser interior. O que eu não posso e nem quero que ocorra, é me deixar sucumbir pelo peso de tudo aquilo que uns e outros vivem a repetir que é necessário que todos e cada um de nós suportemos.

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